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Evanilson foi o herói. Mas para Evanilson vestir a capa foi preciso Sérgio ser um mártir (a crónica do Nacional-FC Porto)

Este artigo tem mais de 3 anos

Evanilson foi o herói. Mas para Evanilson brilhar, Sérgio Oliveira jogou 120 minutos, foi o motor que manteve a equipa em jogo, marcou um golo e assumiu que é o jogador mais importante do FC Porto.

O internacional português marcou o terceiro golo dos dragões, já na primeira parte do prolongamento
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O internacional português marcou o terceiro golo dos dragões, já na primeira parte do prolongamento

LUSA

O internacional português marcou o terceiro golo dos dragões, já na primeira parte do prolongamento

LUSA

Sérgio Conceição chegou ao FC Porto em 2017. De lá para cá, entre as duas Ligas que conquistou, a forma como encerrou um período de hegemonia do Benfica e como puxou para a equipa principal jovens talentos da formação, o treinador foi sempre interpretado como o grande restaurador de um sentimento que vinha a escassear no clube. Um sentimento vencedor, de pertença e de gratidão, que garantiu aos dragões um espírito, dentro e fora de campo, que encontra poucos paralelos no restante futebol europeu.

Esse sentimento, contudo, não foi inventado por Sérgio Conceição. Foi simplesmente recuperado, depois de alguns anos de escassez, por um treinador que havia sido jogador e adepto — mas já existia. E prova disso é a recente entrevista de Pepijn Lijnders, atual adjunto de Jürgen Klopp no Liverpool que ao longo de sete anos trabalhou na formação do FC Porto e foi dos elementos mais importantes no desenvolvimento da nova geração de jogadores dos dragões.

Ficha de jogo

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Nacional-FC Porto, 2-4

Oitavos de final da Taça de Portugal

Estádio da Madeira, no Funchal

Árbitro: António Nobre (AF Leiria)

Nacional: Piscitelli, Rúben Freitas, Pedrão, Rui Correia, João Vigário, Gorré (Thill, 105′), Azouni (Nuno Borges, 78′), Alhassan, Francisco Ramos (Kalindi, 105′), Rochez (Júlio César, 67′), Riascos (João Victor, 90+2′)

Suplentes não utilizados: Rui Encarnação, Danilovic

Treinador: Luís Freire

FC Porto: Diogo Costa, Nanu (João Mário, 76′), Pepe, Diogo Leite (Evanilson, 88′), Sarr (Zaidu, 70′), Corona, Grujic (Otávio, 70′), Sérgio Oliveira, Luis Díaz (Loum, 104′), Taremi, Toni Martínez (Marega, 76′)

Suplentes não utilizados: Marchesín

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Luis Díaz (22′), Rochez (25′), Riascos (62′), Evanilson (88′), Sérgio Oliveira (101′), Taremi (115′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Rochez (40′), a Rúben Freitas (45+1′), a Taremi (45+2′), a Rui Correia (54′ e 65′), a Corona (59′), a Azouni (75′), a Zaidu (94′), a Marega (118′); cartão vermelho por acumulação a Rui Correia (65′)

“Quando assinei o primeiro contrato com o FC Porto, foi de um ano. Depois foi por três anos. Estava muito contente pelo dinheiro, pela atenção que me davam, estava tão orgulhoso por me terem dado um novo contrato. A única coisa não negociada foi que eles disseram: ‘Pep, a partir de agora, isto significa que nunca podes trabalhar no Benfica’. E eu prometi, claro, queria aquele contrato!”, disse o holandês no podcast “The Big Interview”, acrescentando que encontrou no FC Porto um clube com “grandes valores”.

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“Com humildade. Pinto da Costa criou um instituto de vencedores, uma cultura vencedora. Amamos aqueles que odeiam perder, esse é o mote do FC Porto. Lutamos contra tudo e contra todos, essa é a segunda frase que me vem à cabeça. A raça, a força interior dos jogadores, é algo que nunca vi antes. É algo que vai ficar comigo para sempre. Alguns clubes estão no jogo para o jogar. O FC Porto está no jogo para vencer”, explicou, sublinhando depois que foi contratado na ótica de “criar uma nova geração de jogadores” e que trabalhou com grupos que incluíam Fábio Silva, André Silva ou Rúben Neves mas também André Gomes e João Félix, que acabaram por ganhar notoriedade ao serviço do Benfica.

Ou seja, e em resumo, Sérgio Conceição apareceu mesmo para restaurar uma identidade que durante alguns anos, durante o tetracampeonato do Benfica, pareceu desaparecida. Uma identidade que, contudo, nunca desapareceu. E que este ano tinha como grande objetivo melhorar o feito da época passada: voltar a conquistar os dois principais troféus nacionais, juntar a Taça da Liga à já garantida Supertaça e ir o mais longe possível na Liga dos Campeões. No segundo lugar da Liga, na final four da Taça da Liga, nos oitavos de final da Liga dos Campeões, o passo seguinte da tarefa do FC Porto prendia-se com a Taça de Portugal e com uma visita à Madeira.

Esta terça-feira, os dragões defrontavam o Nacional no Funchal, com o relvado da Choupana ainda visivelmente marcado pelas difíceis condições atmosféricas que se têm feito sentir na Madeira e pelo jogo com o Sporting, na passada sexta-feira. Com Wilson Manafá e Fábio Vieira ainda de fora das opções por terem testado positivo para a Covid-19, Sérgio Conceição desenhava um onze que não só poupava alguns dos mais utilizados como parecia ter já em mente o Clássico com o Benfica, na próxima sexta-feira. O treinador lançava Diogo Costa, Nanu, Sarr (na esquerda da defesa), Grujic, Luis Díaz e Toni Martínez, promovendo o regresso de Pepe ao onze inicial, e poupava Marchesín, Zaidu, Uribe, Otávio e Marega, sendo que Mbemba nem sequer viajou para a região autónoma. Ainda assim, Conceição não abdicava de um tridente que tem sido fulcral: Sérgio Oliveira, Corona e Taremi.

O jogo arrancou com um ritmo baixo, com o FC Porto a assumir claramente a dianteira da partida mas sem nunca ser muito incisivo nesse controlo. Do outro lado, o Nacional apresentava um bloco baixo mas não abdicava de procurar o ataque, principalmente em situações de transição rápida, aproveitando o erro do adversário — mas expondo-se também a alguns erros na primeira fase de construção que acabavam por originar perdas de bola em zonas perigosas. Os primeiros três lances mais destacados do jogo tiveram o mesmo protagonista, Sérgio Oliveira, que ia tentando forçar a bem organizada defensiva madeirense. O internacional português rematou por cima (5′), acertou na trave depois de bater um canto (6′) e ainda atirou ao lado, na sequência de um pontapé em jeito (12′).

Com um fluxo ofensivo assinalável, o FC Porto acabou por conseguir abrir o marcador por intermédio de Luis Díaz — que acertou na baliza apenas instantes depois de ter tido a primeira oportunidade, com um remate por cima (21′). Nanu surgiu no corredor direito e rasgou toda a defesa do Nacional com um passe horizontal que variou o flanco de forma perfeita; Luis Díaz recebeu na esquerda, dançou com a bola nos pés até tirar um adversário da frente e atirou em jeito, cruzado, para o poste mais distante (22′). Um golo mais do que característico do colombiano, que chegava assim ao oitavo da temporada e que já marcou em todas as competições em que o FC Porto esteve envolvido.

O Nacional, porém, estava longe de ter dado o jogo como perdido. Num contra-ataque letal, Riascos apareceu solto na ala direita e foi melhor do que Sarr, conseguindo cruzar rasteiro; no coração da grande área, Rochez recebeu de costas para a baliza, rodou muito bem sobre Pepe e atirou para bater Diogo Costa e completar uma bela finalização (25′). Escassos três minutos depois do golo de Luis Díaz, o Nacional empatava a partida e voltava a estar totalmente dentro da corrida pela qualificação para os quartos de final. Depois de alcançado o empate, a equipa de Luís Freire recuou, encurtou os espaços e aproximou as linhas, de forma a não correr tantos riscos e blindar a baliza de Piscitelli.

E assim, o último quarto de hora da primeira parte pertenceu por inteiro ao FC Porto. Aos dragões instalaram-se no meio-campo adversário e poderiam ter chegado novamente à vantagem em diversas ocasiões: Diogo Leite acertou na trave com um remate muito forte (31′), Luis Díaz também falhou o alvo na sequência de um passe de calcanhar de Corona (34′) e Sérgio Oliveira bateu um livre direto por cima da baliza (44′). Apesar das oportunidades, o FC Porto não conseguiu voltar a enquadrar um remate e foi para o intervalo empatado com o Nacional, tendo acertado com a baliza apenas no lance do golo de Luis Díaz durante toda a primeira parte.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Nacional-FC Porto:]

Na segunda parte, e sem que nenhum dos treinadores tivesse feito qualquer alteração, o primeiro lance de perigo pertenceu a Diogo Leite, que cabeceou por cima na sequência de um pontapé de canto (50′). O Nacional regressou ao jogo na expectativa, com o bloco novamente recuado e a apostar na profundidade quando resguardava a posse de bola, enquanto que o FC Porto tentava desequilibrar principalmente a partir das alas, onde Nanu estava cada vez mais confiante e influente do lado direito. Sérgio Oliveira também ficou muito perto de marcar, ao bater um livre direto que Piscitelli afastou com a ponta dos dedos (55′), e os dragões encurtavam progressivamente o espaço que permitiam ao Nacional.

Até que o pior pesadelo do FC Porto — e o melhor sonho do Nacional — aconteceu. Num lance totalmente isolado, Gorré arrancou pela esquerda e soube temporizar até ter linhas de passe; o avançado abriu na direita, com um passe que rasgou toda a defesa adversária e encontrou Riascos. O colombiano recebeu, aproveitou a passividade de Sarr, que não encurtou o espaço, e atirou um pontapé muito violento que não deu hipótese a Diogo Costa (62′). A equipa de Luís Freire colocava-se em vantagem, com cerca de meia-hora para jogar, e aproveitava a absoluta eficácia para fazer a diferença na partida.

Logo depois, porém, a defesa do resultado tornou-se ainda mais complicada para o Nacional. Rui Correia fez falta sobre Toni Martínez, quando o espanhol avançava isolado para a baliza, viu o segundo cartão amarelo e foi expulso, deixando a equipa reduzida a dez elementos. Luís Freire reagiu de imediato, com a entrada do central Júlio César para o lugar do atacante Rochez, e Sérgio Conceição respondeu à desvantagem e à superioridade numérica ao lançar Zaidu e Otávio, retirando Sarr e Grujic.

A partir daí, o naturalmente expectável: o FC Porto totalmente instalado no meio-campo adversário, a colocar bolas na grande área, e o Nacional inteiramente recuado, a defender a valiosa vantagem com menos um elemento em campo. Sérgio Oliveira ficou perto de marcar com um livre direto que passou por cima (68′), Piscitelli desviou uma nova tentativa do médio português com uma grande defesa (71′) e Taremi atirou ao lado (79′). Pelo meio, e confrontado com o avançar do relógio, Sérgio Conceição voltou a mexer e lançou João Mário e Marega, com Luís Freire a responder ao tirar Azouni, já com cartão amarelo, para colocar Nuno Borges. Mas seria a última alteração do treinador dos dragões, já perto dos 90 minutos, a fazer toda a diferença.

Sérgio Conceição fez all in e tirou Diogo Leite, um central, para colocar Evanilson, um avançado. E na primeira vez em que tocou na bola, Evanilson foi o herói. O jovem brasileiro apareceu na esquerda, depois de um passe de Taremi, e rematou cruzado já em esforço para bater Piscitelli (88′). Até ao fim do tempo regulamentar, Diogo Costa ainda evitou o terceiro golo do Nacional, com uma grande defesa depois de um remate de Alhassan desde o meio-campo (90′), mas as duas equipas não conseguiram mesmo evitar o prolongamento.

O Nacional apresentou-se de forma corajosa para a meia-hora suplementar, com menos um elemento, mas não conseguiu resistir à investida total do FC Porto. O golo decisivo surgiu ainda na primeira parte do prolongamento, através de um lance estudado: Otávio bateu um canto na direita, rasteiro e para a entrada da grande área, e Sérgio Oliveira atirou de primeira para o fundo da baliza (101′). Na segunda parte do prolongamento, Evanilson falhou uma oportunidade clara de baliza aberta (115′), Taremi marcou e aumentou a vantagem dos dragões (115′) e Diogo Costa defendeu uma grande penalidade de Thill mesmo em cima do apito final (120′), depois de Loum ter tocado com a mão na bola no interior da grande área.

O FC Porto evitou a eliminação da Taça de Portugal num jogo onde esteve a perder e aproveitou o lance capital da expulsão de Rui Correia para catapultar a reviravolta. Evanilson foi o herói, graças ao golo que marcou aos 88 minutos e 30 segundos depois de entrar em campo — mas para o avançado brasileiro ser o herói, Sérgio Oliveira teve de ser um mártir. O médio português, um dos mais utilizados em toda a temporada, jogou 120 minutos enquanto outros foram poupados, esteve sempre em jogo e foi o grande motor que manteve a equipa na disputa do apuramento até ao último fôlego. No fim, foi recompensado com o golo que deu vantagem ao FC Porto. E com a certeza de que é hoje o jogador mais importante para Sérgio Conceição.

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