O chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, acusou esta quarta-feira o Irão de ser a “nova base” da rede terrorista Al-Qaeda, “pior” do que o Afeganistão na altura dos atentados de 11 de setembro de 2001.

O seu homólogo iraniano, Mohammad Javad Zarif, já lhe respondeu através da rede social Twitter, referindo que “os terroristas do 11/9” vinham dos países “preferidos” de Pompeo, numa referência à origem saudita da maioria dos autores destes atentados.

Num discurso em Washington oito dias antes do fim do mandato do presidente Donald Trump, o secretário de Estado norte-americano também confirmou pela primeira vez oficialmente a morte em agosto nas ruas de Teerão do “número dois” da Al-Qaeda Abdullah Ahmed Abdullah, também conhecido como Abu Mohammed al-Masri. O New York Times noticiou em dezembro que ele tinha sido abatido por agentes israelitas numa missão secreta patrocinada pelos Estados Unidos.

Pompeo não evocou as circunstâncias do assassínio nem confirmou o envolvimento israelita e norte-americano, mas utilizou o acontecimento para sustentar as acusações de ligações entre o Irão xiita e o grupo islamita sunita fundado por Osama bin Laden, muitas vezes contestadas ou minimizadas por vários especialistas.

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Al-Qaeda tem uma nova base: é a República Islâmica do Irão”, declarou Pompeo no National Press Club.

“O resultado é que a criação diabólica de Bin Laden está num processo de fortalecimento e de ampliação dos seus meios de ação. Se ignorarmos este eixo Irão/Al-Qaeda, é por nossa conta e risco. Devemos reconhecê-lo. Devemos enfrentá-lo. Devemos vencê-lo”, insistiu.

Segundo Mike Pompeo, ponta de lança da política de “pressão máxima” contra Teerão desde que Trump retirou em 2018 os Estados Unidos do acordo internacional para impedir o Irão de obter a arma nuclear, foi precisamente em 2015, paralelamente à negociação do pacto, que a aliança foi forjada.

Naquela altura, disse, garantindo revelar “novas informações para o público”, “o Irão decidiu permitir à Al-Qaeda instalar um novo quartel-general operacional”, na condição de “respeitar” as regras iranianas.

O secretário de Estado anunciou ainda sanções contra dirigentes da rede jihadista “com base no Irão”, nomeadamente Muhammad Abbatay, vulgo Abderahman al-Maghrebi, e Sultan Yussef al-Arif. Assim como uma recompensa que pode chegar a sete milhões de dólares (5,7 milhões de euros) pela localização ou identificação de Al-Maghrebi.

O chefe da diplomacia iraniana respondeu ao seu homólogo norte-americano alguns minutos depois de Pompeo ter acusado a República Islâmica de ser a nova base da Al-Qaeda.

“Ninguém se deixa enganar. Todos os terroristas do (11 de setembro) vieram dos destinos favoritos (de Pompeo) no Médio Oriente; NENHUM do Irão”, escreveu Mohammad Javad Zarif.

“Da designação de Cuba” (como Estado “que apoia o terrorismo”, anunciada na véspera por Pompeo) “às acusações (contra o Irão) sobre a Al-Qaeda”, “o senhor Mentimos-Enganamos-Roubamos termina de forma patética a sua carreira desastrosa ainda com mais mentiras beligerantes”, adianta Zarif.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão referia-se a comentários de Pompeo em 2019 sobre a sua experiência à frente da agência de informações CIA em 2017 e 2018. “Nós mentimos, nós enganámos, nós roubámos”, declarou o secretário de Estado.

Acusado em várias ocasiões por Washington de ter acolhido membros da rede de Osama bin Laden, a República Islâmica sempre desmentiu qualquer ligação ao grupo terrorista.