Os trabalhadores da refinaria de Matosinhos, que deverá encerrar este ano, criticaram esta terça-feira, num protesto que juntou cerca de 300 pessoas, o “golpe duro e desumano” da Galp, apontando culpas ao Governo e Presidente da República e garantindo “luta”.

Falando num “golpe duro, frio, calculista e desumano” por parte da Galp, Telmo Silva, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energias e Atividades do Ambiente (Site-Norte) referiu que 22 dias passaram desde o anúncio do fecho da refinaria e, até ao momento, a administração “ainda não se dignou” a reunir com os trabalhadores.

A ideia inicial dos funcionários confrontados com um possível despedimento, era realizar uma marcha lenta entre a refinaria, situada em Leça da Palmeira, e o centro de Matosinhos, num percurso de cerca de quatro quilómetros, mas a falta de permissão levou a uma deslocação de carro, com direito a buzinadelas na chegada junto aos Paços do Concelho.

A Galp anunciou em dezembro a intenção de concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos este ano, uma decisão que põe em causa 500 postos de trabalho diretos e 1.000 indiretos.

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Quando os funcionários que protestaram esta terça-feira chegaram em frente ao edifício da câmara local, no distrito do Porto, já lá se encontravam várias pessoas, muitas atraídas pelo aparato policial, tribuna e música, e acabaram por se juntar ao protesto por solidariedade. Estacionados os carros, os trabalhadores desfilaram até ao local preparado para os discursos, exibindo uma faixa a pedir “respeito”.

Dizendo estar em luta, os manifestantes deixaram claro que esta ação “ainda só é o início” e prometeram “não baixar os braços” perante o que esperam ser um “combate difícil”. Entre as cerca de 300 pessoas presentes na manifestação estavam, além dos trabalhadores, familiares destes, deputados de diferentes partidos políticos e curiosos, assim como a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha.

Telmo Silva criticou a Galp pela falta de respostas, mas também o governo de António Costa e o Presidente da República (PR). O Governo é o segundo maior acionista da empresa, lembrou, acrescentando que, desta forma, “não se pode demitir” das suas responsabilidade.

Mas, está visto que há uma cumplicidade entre a administração da Galp e o Governo”, frisou.

O sindicalista apontou ainda o dedo ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por se dizer o presidente de todos os portugueses e nada dizer sobre os 1.500 portugueses que podem ficar sem emprego com o fecho da refinaria.

Por seu lado, o dirigente do Sindicato da Indústria e Comércio Petrolífero (Sicop), Rui Pedro Ferreira, falou na ausência de um estudo macroeconómico para dar uma perspetiva do impacto do fecho da refinaria na região e país. As implicações vão ser “muitas”, assumiu, acrescentando que essas devem ser calculadas.

A 30 de dezembro, e numa reunião pública do executivo municipal de Matosinhos, o responsável pela refinaria, José Silva, garantiu que a decisão de encerrar “está tomada e fechada”. O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.