Como as irmãs mais velhas, de 19 e 17 anos, tinham feito antes de si, na mesma escola de Hillingdon, a cerca de 30 quilómetros de Londres, Siham Hamud , de 12, usou sempre uma saia escura comprida, pelos tornozelos, para ir às aulas.

Quando, no passado dia 1 de dezembro, foi chamada à atenção — não podia continuar a vestir-se assim, não estava a cumprir as regras relativas ao uniforme e tinha de ir para casa mudar-se, para voltar com uma saia mais curta ou com um par de calças pretas —, a rapariga, muçulmana, ficou desorientada mas não cedeu.

“Não estão a aceitar-me por causa da minha religião e isso é errado”, diria já em janeiro aos jornais britânicos, que se interessaram pela história. “Sinto-me confusa e aborrecida por não poder usar o que quero para a minha religião. Espero que mudem as regras para que raparigas como eu possam usar saias na escola.”

Nesse primeiro dia, Siham foi para casa, contou aos pais o que tinha acontecido e já não regressou à escola. No seguinte, voltou a apresentar-se no Liceu de Uxbridge com a mesma roupa — saia comprida, camisa branca, gravata às riscas e blaser com brasão bordado — e, mais uma vez, foi-lhe impedido o acesso à sala de aulas.

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Siham, à direita, com o pai e dois dos irmãos, todos com o uniforme do Liceu de Uxbridge (Facebook)

Durante três semanas, a cena repetiu-se todas as manhãs. Foram 15 dias de faltas por justificar que, agora, a escola está a ameaçar imputar à responsabilidade dos pais de Siham, que permitiram que a filha não assistisse às aulas.

“A ausência da Siham está a ser registada como não autorizada. A ausência não autorizada pode resultar na emissão de uma multa, ou na instauração de uma ação judicial contra os adultos que detêm a responsabilidade parental da sua filha”, dizia a carta enviada pela escola e que o pai, Idris Hamud, treinador, de 55 anos, revelou à imprensa.

“A escola está a ameaçar tomar medidas legais contra mim, mas eu não estou a obrigá-la a usar uma saia mais comprida — é a fé dela, a decisão dela. Costumava adorar a escola, agora vai a chorar por causa disto — é de partir o coração”, diz Idris Hamud. “Tudo o que a Siham quer é usar uma saia uns centímetros mais comprida do que as das colegas, e eu não sei porque é que a escola tem um problema tão grande com isto. Mandaram-na para casa para vestir uma saia mais curta e voltar no mesmo dia — mas ela não vai mudar as crenças numa hora.”

De acordo com a escola, o regulamento relativo ao código de vestuário foi alterado há já dois anos, para passar a impedir saias de comprimento diferente do que o padronizado e disponibilizado através da loja que comercializa os uniformes do Liceu de Uxbridge, mas Idris Hamud garante que, até a filha ser enviada para casa no primeiro dia de dezembro, não estava ao corrente da alteração.

Uma vez que está em vigor novo confinamento geral no Reino Unido, para já, Siham está em casa, a ter aulas à distância, como o resto dos colegas. Quando for dada a ordem para regressar à escola, o braço de ferro deve continuar — pelo menos por parte da aluna. Contactado pelo Guardian, o diretor da escola recusou fazer qualquer comentário, alegando que o assunto está a ser analisado formalmente.