O primeiro-ministro quer concluir o processo em falta para que a injeção que os estados membros aguardam para combater a crise económica no seu tempo de liderança do Conselho da União Europeia. O semestre da presidência portuguesa da UE termina em junho e Costa quer ver a “famosa bazuca disparar” até lá, até porque a crise já se faz sentir e o seu impacto na economia e no emprego é tão “grande” que “antes de 2022 o país não regressará ao ponto em que estava em 2019, o que significa três anos perdidos“.

A previsão económica é má, mas a atualidade já não é famosa. Aliás, em entrevista à TVI, António Costa aponta que “a crise já é muitíssimo profunda”, com o PIB de 2020 a cair 15 mil milhões de euros. E avisa quem ainda não sentiu as consequências da paragem da economia, entre março e abril do ano passado e novamente no início deste ano, que “ninguém pode ter a ilusão de que se vai passar por esta pandemia só com danos na saúde e nas vidas”. O novo confinamento, traçou ainda o primeiro-ministro sem poupar na adjetivação ao dizer que o seu custo “vai ser enorme para o país”.

Numa altura em que está à frente do Conselho da UE, António Costa aponta, assim, como objetivo prioritário conseguir resolver o que falta para pôr a “bazuca a disparar”, ou seja, fechar a aprovação dos regulamentos para que o quadro financeiro plurianual avance e conseguir que estejam aprovados os programa nacionais para  recuperação e resiliência e a utilização deste mecanismo criado pela Comissão Europeia para responder crise provocada pela pandemia. E avisa mesmo que esta crise tem de ser resolvida “em conjunto”. “Ninguém se safa sozinho”, afirmou na entrevista.

A carga dramática é elevada neste ponto, já noutros, Costa tentou esvaziá-la. Foi o que aconteceu quando foi questionado sobre a necessidade de avançar para a requisição civil à saúde privada para reforçar o SNS nesta fase em que a pandemia está no ponto mais grave até aqui, em Portugal. “Não dramatizemos”. O primeiro-ministro assegura que “não tem sido por falta de acordo ou de vontade que não tem havido acordo com privados” e também que o país não chegou “até agora a um momento de necessidade de requisição para resolver problemas”. Também assume que já houve momentos em que o SNS esteve “à beira da rutura mas conseguimos aumentar a capacidade”, diz negando “bloqueios ideológicos” nesta matéria.

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Também sacode de cima dos seus ombros qualquer peso sobre o aligeirar de medidas no Natal que possa ter provocado a subida do número de casos atual. Costa diz que as medidas foram consensuais e até admite que era “prático” culpá-lo a ele, mas que “isso não resolve o problema”. E que o aumento de casos se deve a infeções verificadas numa faixa etária que não está nas escolas nem nas universidades, entre os 20 e os 29 anos.

Já na educação, o primeiro-ministro mantém a recusa em fazer cenários sobre um eventual novo recuo que leve ao encerramento de escolas no futuro. Assegura que a decisão foi tomada com base em dados científicos e que “há especialistas para todos os gostos”, mas assume na suas respostas que o peso maior para manter as escolas abertas foi de leitura política. “Quando se fecha um estabelecimento e possível compensar perdas, já a perda de um processo de aprendizagem não tem compensação”, argumentou ao mesmo tempo que negava ter havido divisões entre ministros sobre os assunto: “Foi muito consensual no Conselho de Ministros”.

Atira para a comissão técnica de vacinação a questão da prioridade aos professores (já que as escolas vão manter-se abertas) no plano de vacinas contra a Covid-19 que foi definido, mas sobre os titulares de cargos políticos admite que ainda durante a primeira fase a “questão seja colocada” quando se avaliarem os grupos dos serviços essenciais.

Sobre a questão polémica sobre a vigilância, a mando do Ministério Público, e dois jornalistas que estavam a fazer a cobertura noticiosa do caso E-Toupeira, Costa volta ao mantra do “à justiça o que é da justiça”. E desafiado a comentar se este não e´um caso que coloca em causa a liberdade de imprensa, recorda a luta que a sua mãe, a jornalista Maria Antónia Palla, travou no PREC e garante, quanto a essa matéria: “Fui vacinado ainda em pequenino e a vacina continua válida”.