O Instituto Nacional de Emergência Médica referiu ter havido uma “elevada afluência às urgências” dos hospitais da região na altura em que o idoso que morreu em Torres Vedras após horas de espera pela admissão hospitalar aguardava numa ambulância.

A elevada afluência aos serviços de urgência hospitalares verificava-se em todos os hospitais, nomeadamente nos outros hospitais da região, tendo o Centro de Orientação de Doentes Urgentes [CODU] transmitido esta mesma informação aos bombeiros”, esclareceu o instituto (INEM) em resposta à agência Lusa.

Questionado sobre o caso e sobre eventuais medidas para reforçar a resposta nas urgências hospitalares, o Ministério da Saúde recusou prestar declarações, alegando existir um processo de averiguações no Centro Hospitalar do Oeste (CHO) e reencaminhando outros esclarecimentos para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT).

Por sua vez, a ARSLVT “não quis tecer comentários”, remetendo os esclarecimentos para o CHO.

De acordo com o INEM, o pedido de socorro à vítima, de 87 anos, foi recebido às 09h16 de terça-feira pelo CODU, que, após a avaliação dos “sinais e sintomas transmitidos” por telefone, mobilizou para o local uma ambulância dos bombeiros de Mafra. Já após a assistência ao doente no local, no concelho de Mafra, e a avaliação do seu estado de saúde, foi decidido encaminhá-lo na ambulância para a unidade de Torres Vedras do CHO. O doente foi “admitido já em paragem cardiorrespiratória”, na urgência Covid-19, pelas 12h20, “hora do último contacto” entre o CODU e a tripulação da ambulância da corporação de Mafra.

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Os Bombeiros Voluntários de Mafra recusaram prestar esclarecimentos sobre o caso à Lusa. O concelho de Mafra, no distrito de Lisboa, dista cerca de meia hora do hospital de Torres Vedras, no mesmo distrito.

Nos esclarecimentos enviados, o INEM reconheceu que a demora de três horas foi “um tempo de espera acima do desejável para que o utente fosse admitido” na urgência de Torres Vedras e apontou como justificação a “elevada afluência ao serviço”.

Questionado também pela Lusa, o CHO admitiu que nos últimos dias “se tem verificado uma elevada afluência de doentes à Área Dedicada para Doentes Respiratórios [da urgência] da unidade de Torres Vedras, o que tem provocado alguns constrangimentos no que concerne ao tempo de espera para atendimento”. O CHO tem em curso “um processo de averiguação dos factos”.

Vários órgãos de comunicação noticiaram que, na terça-feira, um homem morreu dentro da ambulância enquanto esperava para entrar na urgência Covid do hospital de Torres Vedras, que estava então lotada.

O CHO esclareceu que “as notícias que referem que o utente faleceu na ambulância e que esteve cerca de nove horas de espera não correspondem à realidade”, sem, contudo, dar mais explicações do caso. A administradora do centro hospitalar, Elsa Baião, confirmou à Lusa que o CHO informou o CODU dessa sobrelotação. Nos últimos dias, por esse motivo, as ambulâncias têm-se aglomerado e ficado retidas à porta de hospital até os doentes darem entrada na urgência. Apesar disso, o doente em causa não foi reencaminhado para outra urgência hospitalar próxima.

Na quarta-feira, várias tendas foram montadas pela Proteção Civil junto ao hospital para “libertar espaços do interior” que, por sua vez, vão ser usados para “realojar áreas de serviços convertidos em internamento Covid”, sem aumentar o número de camas, disse a administradora. As tendas vão ser também utilizadas para a realização de colheitas para testes de diagnóstico à Covid-19, tratamentos a doentes infetados pelo novo coronavírus e sala de espera para a consulta externa.

O Centro Hospitalar do Oeste integra os hospitais de Caldas da Rainha, Torres Vedras e Peniche, tendo uma área de influência constituída pelas populações dos concelhos de Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral, Torres Vedras, Cadaval e Lourinhã, e de parte dos concelhos de Alcobaça e de Mafra. Estes concelhos dividem-se entre os distritos de Lisboa e Leiria.