Esta quinta-feira, os Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertaram para a degradação da situação humanitária e de segurança na República Centro-Africana (RCA), cujo aumento da violência piorou ainda mais as condições de saúde da população.

“Dezenas de milhares de pessoas tiveram já de fugir em consequência do mais recente ciclo de violência, que eclodiu há cerca de um mês e persiste, tendo a MSF assistido 12 pessoas feridas nos combates que se registaram nos arredores da capital, Bangui”, na quarta-feira, lê-se num comunicado divulgado esta quinta-feira.

“Muitas pessoas forçadas a escapar do conflito estão a viver em condições extremamente precárias tanto na RCA como nos países vizinhos onde procuraram abrigo, como na República Democrática do Congo, para onde mais de dez mil pessoas atravessaram o rio Mbomou, tendo-se instalado na povoação fronteiriça de Ndu”, acrescenta-se ainda no texto.

As equipas da MSF aumentaram os esforços para prestar auxílio, tendo reforçado o contingente de médicos no local e a quantidade de equipamentos médicos levados para o país.

A MSF redobrou esforços para ampliar a assistência médica prestada a estas pessoas recém-chegadas a Ndu (na RDCongo), assim como de água e saneamento, e reforçaram o trabalho desenvolvido no hospital de Bangassou (na RCA), onde centenas de deslocados internos pela violência procuraram refúgio nas últimas semanas”, conclui-se no comunicado.

Em 19 de dezembro, oito dias antes das eleições presidenciais e legislativas, uma coligação de seis dos grupos armados mais poderosos que ocuparam dois terços da RCA desde o início da guerra civil, há oito anos, anunciou uma ofensiva para impedir a reeleição de Touadéra. Faustin Archange Touadéra foi declarado reeleito em 04 de janeiro após uma votação que foi fortemente contestada pela oposição, na qual apenas um em cada dois eleitores recenseados teve a oportunidade de votar por causa da insegurança fora da capital. Os rebeldes da Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC) tinham até então levado a cabo ataques esporádicos, geralmente repelidos por Capacetes Azuis, apoiados por grandes contingentes fortemente armados de militares ruandeses e paramilitares russos que vieram em socorro do governo e do seu exército.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, após o derrube do então Presidente François Bozizé, por grupos armados juntos na Séléka, o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas na anti-Balaka. Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as suas casas. Portugal tem atualmente na RCA 243 militares, dos quais 188 integram a missão da ONU (Minusca) e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu, até setembro de 2021.

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