Um estudo publicado esta semana na revista científica Science sugere que o novo coronavírus poderá tornar-se tão virulenta como a constipação comum quando a Covid-19 se tornar endémica. Mas isso pode demorar entre um ano e uma década a acontecer, dependendo da velocidade de propagação do vírus e dos planos de vacinação em massa.

O mais provável é que o SARS-CoV-2 se torne endémico — é este, pelo menos, o entendimento da comunidade científica. Mas o argumento dos três autores norte-americanos é que, com a vacinação contra a Covid-19 a funcionar, a maioria dos novos casos de doença serão reportados apenas em crianças que contactam pela primeira vez com o vírus. Ao longo dos anos, com o contacto regular com o agente patogénico, as crianças devem desenvolver sintomas cada vez menos severos — tal como acontece com outro vírus, apontam os investigadores.

A maior parte dos adultos será assintomática. Nestes indivíduos, onde se registam os quadros clínicos mais severos de Covid-19, as preocupações serão muito inferiores, acreditam os autores: os estudos produzidos até agora em torno de outros coronavírus demonstram que a imunidade que bloqueia a possibilidade de uma nova infeção diminui rapidamente, mas a que reduz a probabilidade de desenvolver uma doença dura muitos anos.

O surgimento de mutações que tornem o vírus mais transmissível, como as variantes identificadas no Reino Unido e no Brasil, podem acelerar esta normalização da Covid-19. Como essas variantes são mais infecciosas, mas não mais perigosas, os autores teorizam que isso pode reforçar a resposta imunitária da população. Se surgir uma variante mais letal, no entanto, isto pode cair por terra.

Mas esta é apenas uma teoria e ainda há dúvidas por responder, nomeadamente sobre quanto tempo dura a imunidade (seja ela induzida por vacinas ou desenvolvida após uma infeção) que previne um caso severo de Covid-19 e quantas doses têm de ser administradas para garantir uma segurança contra o SARS-CoV-2 ao longo da vida. Num cenário ideal — e plausível, tendo em conta a informação que se tem de outros vírus respiratórios — a capacidade de bloquear a doença é de longa duração e a capacidade de transmissão é curta, mas isto está por confirmar.

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