Nuno Cardoso quer voltar à vida política, que não vê como uma profissão, e já o fez saber. “Anuncio a minha disponibilidade para voltar à res publica [coisa pública]”, disse ao Observador esta quinta-feira. O modo escolhido é uma candidatura à presidência da Câmara, cargo que já ocupou entre 1999 e 2001, quando assumiu o lugar de Fernando Gomes (que trocara o Porto por Lisboa e os Paços do Concelho na avenida dos Aliados por um gabinete ministerial no segundo governo de António Guterres).

Para isso, há um grupo de pessoas a trabalhar , “pois trata-se de um projeto coletivo, não de uma pessoa só”, vai logo avisando. O engenheiro cujo nome ficou ligado à revolução dos transportes do Grande Porto, com a criação do metro, e à Capital Europeia da Cultura (os dois já neste século), não quer adiantar nomes: “Este não é o momento. Para já tenho disponibilidade e vontade para responder a um conjunto de pessoas que me mobilizam muito para regressar”.

Mas uma coisa é certa: “Teria muito gosto em ser apoiado pelo partido socialista”. Só que uma fonte da distrital  do PS veio esta quinta-feira à noite dizer à agência Lusa que o PS não está de feição: “Não temos nenhum comentário a fazer, sendo certo que o engenheiro Nuno Cardoso não será o candidato do PS à Câmara Municipal do Porto”.

Ao Observador, o ex-autarca não quis comentar “uma voz anónima”, preferindo referir “os inúmeros telefonemas de socialistas” que tem recebido para lhe dar apoio. O pré-candidato às eleições autárquicas deste ano não esclareceu se a sua candidatura avançará ou não sem o apoio do PS, afirmando apenas que não quer interferir na vida do partido ao qual já não pertence.

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Eu sou socialista, nasci socialista e vou morrer socialista. Cheguei a presidente da Câmara do Porto como independente, depois entrei no partido — foi António Guterres quem assinou a minha ficha de militante — e treze anos depois saí: não me sei movimentar no aparelho partidário”.

Nuno Cardoso, que já foi candidato independente em 2013, diz que o projeto que está a criar “não é para ninguém”, mas sim para mobilizar pessoas e ideias para que o Porto seja “o dínamo da região e não viva só virado para si mesmo, num Porto-centrismo. As dores de Bragança, Chaves ou Monção têm de ser também as do Porto”.

Lembrando que saiu da política por razões familiares — “tinha 3 filhos praticamente recém-nascidos” e prometera à mulher só estar na política quatro anos — o ex-autarca frisa que 20 anos depois é altura de regressar pois sente “um certo desalento ao ver que a região Norte e o Porto não têm o desenvolvimento que deveriam ter, nem o peso político que merecem”. A região é das que tem um Produto Interno Bruto menor da Europa e do país, o que não se entende dado “o empreendedorismo e qualidade das gentes do Norte” — só se pode explicar com a falta de “voz política”. Para a ganhar, é preciso que todos os autarcas do Norte “se unam e coordenem numa política conjunta em defesa da regionalização”, já que a “Lisboa centralista” nunca a fará.

Apesar de considerar Rui Moreira “um digno presidente do Porto”, com “um trabalho bom na cultura”, Nuno Cardoso diz que o autarca pouco tem feito pela regionalização e chama a si outras caraterísticas e obra feita:

Eu tenho uma nova perspetiva mais dinâmica das coisas, em 12 anos de gestão socialista fizemos uma mudança radical da cidade e em 20 anos o que se fez? Há duas obras importantes em curso, a renovação do Mercado do Bolhão e o interface da estação de Campanhã e pouco mais”.

Na “mudança radical da cidade” o engenheiro (que começou a trabalhar com a Câmara na área dos transportes em 1990) inclui a demolição de 3.000 barracas no Parque da Cidade, a VCi e os túneis, o estacionamento na cidade, o aeroporto que permitiria mais tarde o boom turístico, o metro e a rede de transportes, e o Porto 2001, Capital da Cultura e todas as obras que implicou, por exemplo. “Saí quando a cidade estava no auge”.