Já quase parece tempo de campanha eleitoral para os lados de Marisa Matias. Depois de um arranque frio, seguido de um dia em pausa, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda teve dois dias bem agitados, primeiro com uma viagem à Madeira e aos Açores em menos de 24 horas e, esta sexta-feira, com a visita a uma associação, às moradores da Rua das Lageres e ainda duas entrevistas. É a consagração do prometido: estar na rua, ao lado das pessoas porque o distanciamento é físico e não social. Começa cedo a caminhada para tocar a todas as portas, ou melhor, a todas as lutas. Já há um ‘check’ nos cuidadores informais, no ambiente, na violência doméstica e hoje levantaram-se as bandeiras da pobreza e da habitação.

Apesar das iniciativas, a mais alta bandeira do dia viria a ser o combate à extrema-direita, num ringue onde couberam um coelho e um batom vermelho. Mais uma vez, é caso para dizer que já parece campanha eleitoral, desta vez porque Marisa conseguiu aproveitar dois momentos inesperados e insólitos para sair por cima de uma situação criada por André Ventura que, na quarta-feira, disse que a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda “não está tão bem em termos de imagem” e “pinta os lábios como se fosse uma coisa de brincar”.

Esta noite, a hashtag #vermelhoembelem subiu ao trending do Twitter através de uma enorme onda de apoio a Marisa Matias, onde centenas de pessoas decidiram pintar os lábios de vermelho, entre eles vários membros do Bloco de Esquerda e até o líder da JS. Pelo meio, ainda a promessa de que Ana Gomes também se vai juntar ao movimento.

Pouco antes, à tarde, numa entrevista no ‘Goucha’, na TVI, Marisa Matias foi surpreendida com um coelho de peluche (dos tempos em que ainda era uma criança) dentro de uma caixa embrulhada. André Ventura tinha estado naquela mesma cadeira dias antes, com a sua coelha Acácia (não de peluche) e a candidata bloquista aproveitou a deixa para dizer que o seu coelho está “do lado certo da vida”. Ficava a farpa ao líder do Chega.

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A luta de todos a favor de Marisa (e do batom vermelho)

Quando um ataque de André Ventura — ao qual Marisa Matias nem sequer chegou a reagir — se transforma numa onda de apoio é o momento do dia. As sondagens não têm estado muito favoráveis à bloquista, a campanha corria de forma calma (exceto as ofensas ao líder do Chega num debate) e este trending no Twitter traz visibilidade à campanha. É quase publicidade gratuita. André Ventura fez uma crítica a um adversário político pelo físico e isso não foi deixado passar em branco.

Além da resposta que os apoiantes deram pela própria Marisa — a candidata nem precisou de falar –, este acaba por ser também um ataque contra a extrema-direita representada pelo Chega. Mais do que um apoio a Marisa, é um apoio a uma das maiores causas que tem nesta campanha. Neste caso nem é a cereja no topo do bolo, é mesmo o batom no topo do dia.

Era Marcelo, mas deixou de ser. No fim das contas, foi Ventura

Os temas da habitação e da pobreza foram uma arma apontada ao Presidente da República. Aliás, na visita às moradoras da Rua de Lageres, uma das pessoas que protagonizou a luta contra o despejo contou que Marcelo, contactado por carta, aconselhou a que se arranjasse um advogado para resolver o caso. A resposta deixa Marisa “sem palavras” e acusa o Presidente de ter tomado o lado da especulação e não o das pessoas. Pouco antes, também na associação tinha dito que a pobreza tinha de estar no centro da agenda política e que esse era um trabalho do chefe de Estado.

Contudo, e com o desenrolar do dia, tudo o que se passou em volta de André Ventura deu um novo rumo ao verdadeiro ataque de Marisa Matias. O líder do Chega e a extrema-direita foram o alvo a abater e, desta vez, Marisa levou consigo um ‘batalhão’. Ou melhor, foi mais um ‘batalhão’ que levou Marisa ao colo. Quando se chega ao trending do Twitter, o dia está feito.