Depois de um dia de resposta direta do candidato aos ataques de André Ventura, este sábado foi um dos intervenientes sessão de campanha de João Ferreira sobre “empregos, direito e produção” a fazer questão de mostrar que se está atento ao que tem acontecido noutras candidaturas. “Esta candidatura serve também para combater novos fascistas, alimentados por velhos fachos que ficaram escondidos debaixo das pedras durante décadas”, afirmou Maria das Dores Meira, a presidente da autarquia setubalense que haveria ainda de puxar dos galões da luta comunista contra a ditadura.

Meira alertou ainda para o “ressurgimento” de fachos que, aparecem “agora com discursos xenófobos dividindo portugueses em categorias e etnias propondo confinamentos seletivos” e, afirmou, a história “já ensinou como acabam”.

“Soubemos combater os velhos fachos, saberemos derrotar os novos fascistas. Para isso serve também esta candidatura de João Ferreira, para reafirmar um profundo empenhamento na construção de uma vida melhor para todos. Para defender o espírito da constituição, uma democracia real e efetiva onde todos têm direito ao trabalho, à saúde e à cultura”, disse.

Perante um auditório limitado a 15% da capacidade total, falou também a mandatária nacional da campanha de João Ferreira, Heloísa Apolónia. Depois de ter marcado presença num evento de ecologistas, que expressaram o apoio à candidatura do comunista, Heloísa foi até Setúbal dizer que Ferreira “dignificou a campanha eleitoral”. “Uma campanha serve para promovermos esclarecimento, clarificação das nossas ideias. Promover o debate, dizer o que sentimos, transmitir as nossas propostas. É nesse espírito que João Ferreira tem promovido essa campanha”, notou Heloísa Apolónia a ex-deputada d’Os Verdes muito experimentada em campanhas eleitorais.

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João Ferreira optou não continuar com o repto que Meira tinha deixado no ar minutos antes e focou a intervenção em várias áreas da Constituição que, diz, “é a força material para abrir um horizonte de esperança neste país”. Mas, para que se cumpra Portugal “ajuda a que lá esteja alguém que a defenda e a faça cumprir quando toma posse”. “O país que existe naquelas belas páginas, não é realidade vivida na vida de muitas famílias”, notou João Ferreira.

Ventura em segundo lugar à frente de toda a esquerda? “Não vai acontecer”

E quem pensou que o tema fascismo tinha ficado por ali enganou-se. Este sábado fica marcado por várias referências aos “candidatos populistas”, “ou fascistas, como se preferir” (palavras dos advogados que manifestaram apoio a João Ferreira). Confrontado com a sondagem da Pitagórica para o Observador e TVI, João Ferreira recusou a ideia de André Ventura poder ficar em segundo lugar, à frente de todos os candidatos de esquerda: “Não vai acontecer”, garantiu.

“Não vai acontecer, não são as sondagens que fazem o resultado das eleições. O que estamos aqui a fazer é que é determinante”, disse João Ferreira ainda assim mantendo a posição de não abdicar da candidatura para diminuir a dispersão de votos à esquerda (onde há três candidatos).

Antes, já João Ferreira tinha ouvido o advogado e antigo secretário do Estado e da Justiça João Correia afirmar que além do voto convicto pelo candidato comunista havia também a utilidade de impedir “o candidato fascista de ficar à frente da esquerda”. E mais, o antigo secretário de Estado disse a João Ferreira que tem o “dever histórico” de conseguir, no mínimo, impedir que Ventura consiga colocar-se na frente de todos os candidatos de esquerda.

João Ferreira podia ter contornado a pressão extra colocada em si, mas foi à luta: “É sabido e reconhecido que esta candidatura é herdeira da melhor tradição e luta pela liberdade e democracia do país”, disse João Ferreira apontando a solução para combater populismos: “Derivas antidemocráticas combatem-se indo à causa do problema, com outras políticas para corrigir as razões da revolta de tantos cidadãos”.

O desvio milimétrico que teve início já durante o dia de sexta-feira foi impossível de retornar este sábado, com o candidato a ser levado a reagir depois dos apoiantes publicamente se referirem aos populismos, fachos e fascistas. Ainda numa entrevista no Porto Canal, João Ferreira voltou ao tema para dizer que Ventura não se conforma “com uma constituição avançada, progressista, profundamente democrática” e que na condição de “herdeiro de uma candidatura com a fibra e força daqueles que nunca vergam”, João Ferreira, tudo continuará a fazer para defender os valores da Constituição, liberdade e democracia.

Deficientes lamentam continuar a precisar de acompanhante para votar

Numa sessão online com vários representantes de associações de pessoas com deficiência, João Ferreira ouviu os lamentos dos vários representantes e beneficiou das lutas travadas pelo PCP no hemiciclo. Abílio Cunha, presidente da Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral chamou à atenção para, entre outros e numa altura em que o dia 24 de janeiro se aproxima a passos largos, o facto de muitos deficientes portugueses continuarem a ser obrigados a votar com um acompanhante a quem têm de dizer onde “deve colocar a cruz”.

“É uma situação que ao abrigo da convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, no artigo 29, contraria todos os direitos humanos”, alertou Abílio Cunha frisando que a associação que preside já propôs uma solução para o problema e que já tem até o aval da Comissão Nacional de Eleições. “O nosso atual Presidente da República conhece a solução, comprometeu-se a trabalhar sobre ela, a nível do Parlamento os partidos acharam a solução interessante, mas até agora vamos continuar a votar acompanhados”, lamentou o dirigente.

Numa intervenção final meio cronometrada — já que João Ferreira participava da sede do PCP em Lisboa e terá que dirigir-se ainda esta tarde até ao Porto Canal para uma entrevista — o candidato deixou a promessa de tudo fazer para proteger os direitos das pessoas com deficiência, que vêm consagrados na Constituição da República Portuguesa, “as traves mestras da verdadeira inclusão social”.

Artigo atualizado ao longo do dia