O Hospital Beneficente Português de Manaus, fundado por imigrantes portugueses na capital do Amazonas, no Brasil, há 147 anos, está no limite de atendimento de pacientes com covid-19, que precisam de internamento ou oxigénio.

Em declarações à Lusa, o diretor e presidente da Sociedade Portuguesa Beneficente, Vitor Vilhena Gonçalo, disse que o equipamento está a operar “em capacidade máxima”, existindo um acordo com “o estado [do Amazonas] para tentar auxiliar. O hospital é filantrópico e faz este atendimento complementar do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil”.

“Como outros hospitais da rede privada e da rede pública de saúde, estamos com nossa capacidade máxima em uso no momento. Estamos cheios e com todas as camas ocupadas” acrescentou Vítor Vilhena Gonçalo, que administra este hospital filantrópico, financiado com auxílio da comunidade portuguesa e, principalmente, através de acordos com seguros e com o sistema de saúde pública do Brasil.

Sobre a falta de oxigénio na unidade de saúde, um problema que atingiu vários hospitais de Manaus nesta semana causando morte de pacientes, desespero de médicos, enfermeiros e familiares dos doentes, o responsável confirmou que já estão a usar as reservas.

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“Enfrentamos uma dificuldade, existe uma grande escassez aqui na cidade [de Manaus] de conseguir oxigénio. Ontem ficamos funcionando com a nossa reserva técnica de emergência porque a empresa que fornece o insumo para toda a cidade não conseguiu abastecer nosso tanque”, contou.

O responsável pelo Hospital Beneficente Português informou que os médicos e profissionais de saúde estão a administrar a partir das reservas do hospital, que tem capacidade para atender pacientes por menos de um dia, entre 12 horas e 15 horas.

“Estamos funcionando dentro da nossa reserva técnica. Conseguimos manter nossa reserva técnica com abastecimento dos cilindros porque nosso tanque já está vazio. Não temos um atendimento normalizado”, salientou.

Vilhena Gonçalo também frisou que quase 90% de todo o hospital já foi convertido para atendimento de pacientes infetados pela covid-19, tendo sido mobilizadas mais de 100 camas para internamentos, com pelo menos 20 delas destinadas a tratamento intensivo para pacientes graves.

“Estamos praticamente com a ocupação máxima convertida para covid-19. Temos poucas camas abertas para atendimento de emergência de pessoas com outras doenças que possam precisar de cirurgia e atendimento de emergência”, disse Vilhena Gonçalo.

No dia 5 de janeiro, o hospital anunciou a paralisação do atendimento de emergência para concentrar esforços no atendimento a pacientes infetados pelo novo coronavírus.

“Suspendemos nosso pronto atendimento para realocar os recursos, tanto de insumos, como de recursos humanos, médicos e enfermeiros, e ampliar a oferta de leitos” para covid-19, explicou.

Na última quinta-feira, Manaus voltou a bater o recorde de internamentos diários por covid-19 com 254 novas hospitalizações, número mais alto registado desde o início da pandemia.

A situação agravou-se no mesmo momento em que a região foi identificada como ponto de origem de uma possível nova estirpe do vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, aparentemente mais contagiosa do que as variantes anteriores em circulação no país.

O total de casos confirmados de covid-19 no Amazonas já superou a marca de 220 mil, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde, órgão ligado ao Governo do estado.

O estado já registou quase 6 mil óbitos desde o início da pandemia em fevereiro do ano passado, segundo a mesma fonte de informação.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos do mundo e terceiro lugar em número de infetados.

Cônsul português preocupado com comunidade

O cônsul honorário António de Matos Figueiredo, mostrou-se preocupado coma situação da comunidade portuguesa na capital regional do Amazonas, Brasil.

“A situação da comunidade portuguesa em Manaus, no Amazonas, em geral, é bem preocupante. As pessoas estão com dificuldade, todos nós temos medo desta doença, deste vírus, que está a espalhar aqui de forma rápida novamente”, contou Matos Figueiredo em entrevista à Lusa.

“Nós temos aqui o hospital Beneficente Português do Amazonas, de 147 anos, uma instituição criada pela comunidade que ajuda bastante todos os portugueses que estão procurando atendimento. Até o momento não temos informação sobre ninguém [da comunidade] que esteja desassistido”, acrescentou.

Os hospitais da cidade amazónica de Manaus estão perto do colapso principalmente porque faltam consumíveis básicos como oxigénio para atender pacientes internados em estado grave com covid-19, que precisam assistência mecânica para respirar.

Na segunda-feira, fizeram eco mundial vídeos de funcionários hospitalares a relatar mortes provocadas pela falta de cilindros de oxigénio e de camas para doentes em Manaus.

O Governo brasileiro anunciou na manhã de sexta-feira que 235 pacientes internados na cidade amazónica deverão ser transferidos para hospitais de outros estados em voos da Força Aérea Brasileira (FAB).

“Estamos preocupados, mas serenos e tentando de todas as maneiras fugir deste contágio para não ficarmos doentes (…) Entrei em contacto com o presidente do hospital beneficente português e a única demanda que recebemos, que estão mesmo precisando, é por oxigénio”, frisou o cônsul honorário do Governo português em Manaus.

“Como se sabe, a demanda por oxigénio está a ser maior do que a oferta. Em Manaus temos duas fábricas que produzem oxigénio só que elas não conseguem atender toda a demanda hospitalar devido à grande afluência de doentes nos hospitais. Vamos ver no que podemos ajudar. Há muitos empresários da comunidade portuguesa e nos interessa ajudar, especialmente o hospital português”, completou.

Matos Figueiredo contou que tem transmitido informações sobre a comunidade portuguesa e luso-brasileira em Manaus, composta por cerca de 5 mil pessoas, para autoridades do consulado de Portugal em Belém, cidade localizada no estado do Pará, também na região amazónica.

“Temos falado todos os dias com a vice-cônsul de Belém. Ela tem conhecimento de toda a situação. Embora preocupante, a situação não é desesperadora ainda”, e “sabemos que a melhor maneira para fazer isto é isolar-se e não se contagiar”, destacou o cônsul honorário.

O representante do Governo português em Manaus salientou que na cidade e no resto do Brasil não houve uma política de isolamento social satisfatória e agora a sociedade paga um preço alto pelas pessoas que ficaram nas ruas, sem distanciamento, e que se contagiaram.

“Manaus foi a primeira cidade muito contagiada no Brasil, infelizmente, espero que não, mas acho que este contágio irá atingir outras cidades por aqui”, ponderou.

Questionado sobre a nova estirpe do novo coronavírus detetada na região amazónica do Brasil, que pode ser mais contagiosa do que outras variantes do vírus, o cônsul honorário repetiu que a comunidade portuguesa está em alerta.

“Todos nós estamos preocupados. Esta variante, ao que parece, é tão contagiosa como as outras e faz isto de forma bem mais rápida. Ela não é mais perigosa, segundo o que dizem os especialistas, mas seu contágio é mais rápido e, portanto, vão ter mais doentes rapidamente. Isto já está a acontecer em Manaus”, concluiu.

O total de casos confirmados de covid-19 no Amazonas é de 223.360, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do estado do Amazonas. O número de mortes no estado chegou 5.930, segundo a mesma fonte de informação.

Na quinta-feira, Manaus voltou a bater o recorde de internações diárias por covid-19 com 254 novas hospitalizações no capital, número mais alto registado no estado desde o início da pandemia.

Questionado sobre a proibição de voos ligando Brasil e Portugal ao Reino Unido, anunciada pelo governo britânico em razão desta nova estirpe do novo coronavírus do Brasil, o cônsul honorário considerou a medida excessiva porque os viajantes precisam fazer testes antes de embarcar.