António Correia de Campos rejeita que a crise pandémica esteja fora de controlo em Portugal. “Se estivesse fora de controlo não teríamos condições para atender as pessoas nos hospitais, não teríamos condições para fazer uma parte dos inquéritos epidemiológicos”, afirma em entrevista ao Diário de Notícias o ex-ministro da Saúde.

Correia de Campos, que é especialista em saúde pública, afirma que os quatro indicadores-chave — mortos, infetados, doentes entrados nas enfermarias dos hospitais e de doentes nos cuidados intensivos — estão sob controle mas critica a falta de resposta dos inquéritos epidemiológicos. “Nós claudicámos, falhámos — e precisamos e estamos ainda a tempo de corrigir — nos inquéritos epidemiológicos e no acompanhamento da pessoa identificada como positiva, onde temos atraso”, afirma.

Citando dados do epidemiologista Henrique de Barros, que afirma que “há três vezes mais infetados do que os identificados”, Correia de Campos diz que “há muita infeção que passa silenciosa.”

Na procura de justificações para a atual situação, em que Portugal passou a ter mais de 10 mil novos casos diários nos últimos dias, Correia de Campos não censura a decisão do Governo de aliviar as medidas restritivas na altura do Natal porque houve uma “enorme pressão social das famílias e dos partidos para que houvesse regras específicas para o Natal, que permitissem algum desconfinamento”.

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Plano de vacinação tem as prioridades certas mas políticos deviam ser já vacinados

O ex-ministro da Saúde de José Sócrates concorda com as prioridades definidas pelo Governo para o plano de vacinação, nomeadamente com o facto de os mais velhos não fazerem parte do grupo mais prioritário. “Temos 2,3 milhões de pessoas em Portugal com 65 e mais anos, temos 1,1 milhão de pessoas em Portugal com 75 e mais anos. Neste mês, vamos ter, no máximo, 400 mil vacinas que chegam da Pfizer e 20 mil da Moderna. Digam-me lá como é que resolvem esta equação!”, enfatiza.

Por outro lado, Correia de Campos concorda que as mais altas figuras do Estado deveriam ser consideradas prioritárias, dando mesmo o exemplo de “todo o Governo e dos presidentes das comissões parlamentares. “Há uma ponta de demagogia na recusa dessa vacinação, porque não tem sentido nenhum que as pessoas que precisam de estar absolutamente atentas, vigilantes, disponíveis para poderem tomar decisões difíceis, estejam passíveis de um risco desses”, conclui.