No cruzamento de Alcântara, em Lisboa, junto ao viaduto que segue para as docas da cidade, o único cartaz que se via há alguns dias era do candidato André Ventura. No cartaz, o líder do Chega apelava ao voto através de uma expressão que tem marcado a sua campanha: “André Ventura, Presidente dos portugueses de bem”. Agora há mais um cartaz exatamente ao lado, da candidatura do liberal Tiago Mayan Gonçalves.

No novo cartaz de Mayan Gonçalves e da Iniciativa Liberal, que funciona como resposta ao outdoor de André Ventura, lê-se uma resposta provocatória: a legenda escolhida para uma fotografia do candidato liberal é “O Presidente de todos os portugueses (até dele)”.

O cartaz de Mayan Gonçalves afixado ao lado do de André Ventura, na zona de Alcântara, em Lisboa (@ D. R.)

Mira a Marcelo: “É cada vez mais difícil ajudá-lo a terminar o mandato com dignidade”

O candidato começou o dia a correr por Belém, numa ação simbólica da corrida à Presidência da República — mas também para destacar a importância da saúde mental e física dos portugueses. Nas redes sociais, porém, Tiago Mayan Gonçalves começou o dia a apontar mira a Marcelo Rebelo de Sousa. Na internet, o desporto foi outro: combate ao Presidente-candidato.

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Partilhando na sua conta uma imagem de uma notícia da Antena 1 cujo título era “Marcelo em lar do Barreiro deixa apelo ao confinamento”, o candidato fez um comentário à campanha de Marcelo Rebelo de Sousa. Escreveu: “Em menos de uma semana, Marcelo descredibilizou as orientações da DGS, pôs em causa a fiabilidade dos testes e fez campanha num lar de idosos enquanto esperava resultado do teste à Covid. É cada vez mais difícil ajudá-lo a terminar o mandato com dignidade”.

“Já fizemos o aquecimento, já estamos bem lançados”

O relógio marcava as 11 horas quando Tiago Mayan Gonçalves e João Cotrim de Figueiredo, equipados a rigor — de calções, ténis e camisolas, coletes e casacos desportivos —, começaram a alongar para a corrida a Belém.

O primeiro alongamento foi ideológico: o candidato presidencial e o líder do partido que o apoia e do qual Mayan é fundador, a Iniciativa Liberal, falaram com os jornalistas sobre esta única ação de campanha de um dia em que os portugueses começaram a votar antecipadamente para as eleições presidenciais de 24 de janeiro.

João Cotrim de Figueiredo, que exerceu o seu direito de voto antecipado para poder acompanhar a noite eleitoral de Tiago Mayan Gonçalves no Porto, brincava com o facto de ter sido a segunda pessoa a votar na sua mesa de voto quando queria ter sido a primeira a preencher o boletim.

Tinha uma piadola preparada: dizer que naquela secção o Tiago Mayan tinha 100% de votos. Assim, como fui o segundo, só pude garantir que naquela altura pelo menos ia à segunda volta [tinha no mínimo 50% dos votos]”, atirava o líder da Iniciativa Liberal.

O substituto de Carlos Guimarães Pinto na liderança do partido liberal, fundado em 2017, aproveitava o ambiente descontraído para falar das qualidades de corredor do candidato que já se mostrara atleta num vídeo de campanha: “Tu és maratonista, eu sou mais fundista”.

A uma questão sobre se já tinham feito o aquecimento longe das câmaras, era o candidato presidencial que respondia aludindo à campanha eleitoral e porventura ao crescimento da candidatura nas sondagens ao longo das últimas semanas: “Já fizemos o aquecimento, já estamos bem lançados”.

A benção de Cotrim e os elogios — políticos e atléticos: “Corre para aí 3h seguidas!”

A corrida durou perto de um quarto de hora — e João Cotrim de Figueiredo, que estava com a agenda apertada, teve de terminar antes de Tiago Mayan Gonçalves. Não foi por falta de capacidade física, garantia o candidato presidencial ao Observador. A verdade é que Cotrim elogiara uns minutos antes a capacidade atlética (superior à sua) do portuense: “Este senhor corre para aí três horas seguidas!”. E até tem por hábito correr a Meia Maratona do Porto.

O líder e deputado da Iniciativa Liberal, que já estivera presente no lançamento da campanha de Tiago Mayan Gonçalves e já o elogiara então, voltou a manifestar confiança no candidato que o partido apoia. E aproveitou para deixar uma bicada aos críticos que achavam “que a Iniciativa Liberal não deveria ter um candidato porque era um partido demasiado pequeno” ou que “o Tiago não estava preparado, não tinha notoriedade nem experiência mediática” e portanto a escolha fora errada. Estavam enganados, sugeriu Cotrim:

Eu sabia que o Tiago era capaz de fazer aquilo que fez: com integridade, com coragem, assumidamente liberal, pôr as nossas ideias e o liberalismo outra vez no topo da agenda da discussão política. Nos debates o que se discute é se há uma alternativa à visão que hoje predomina em Portugal, que é sobretudo socialista e estatizante”, apontava o líder do partido fundado em 2017.

Para muitos, dizia ainda o sucessor de Carlos Guimarães Pinto na Iniciativa Liberal, o desempenho do candidato “é uma surpresa, é uma revelação” — para ele não o é — e Cotrim de Figueiredo está confiante que Tiago Mayan Gonçalves “vai ser ainda mais revelação nos sete dias que faltam”. Para já, “está a fazer uma campanha notável” e tem sido “brilhante na forma como tem formulado a alternativa” ao modelo estatal “socialista e estatizante”. Por isso, Cotrim agradece-lhe: “Obrigado, Tiago, pela coragem enorme que tiveste em avançar, pelo trabalho que estás a fazer pelo liberalismo e pela Iniciativa Liberal”.

O candidato às eleições presidencias de 2021 pelo Partido Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves (D), acompanhado pelo presidente do partido João Cotrim Figueiredo fazem uma corrida junto ao rio Tejo, Lisboa 17 de janeiro de 2021. NUNO FOX/LUSA

@ Nuno Fox/LUSA

Defendendo em declarações jornalistas que não vira “demasiadas pessoas” em Belém dado o confinamento geral decretado — “o que estou a ver é pessoas a fazer desporto, é uma das 51 exceções possíveis deste confinamento e estou a ver pessoas a fazerem o que é permitido no contexto” —, Tiago Mayan Gonçalves afirmou que era um “bom sinal” as quase 250 mil inscrições para o voto antecipado. Um sinal revelador “que as pessoas querem participar nestas eleições e se reveem nas propostas que aí estão”.

Mayan antevê bom resultado: “Responsabilidade? O que sinto é muita confiança”

A corrida em Belém serviu também para apelar aos portugueses para “não perderem a esperança num futuro, preservarem a sua saúde mental e física” — e “dar uma passeio ou uma corrida é possível para qualquer cidadão fazer”.

O candidato liberal mostrou-se ainda confiante num bom resultado eleitoral: “Esta é mais uma etapa nesta corrida que está a ter sucesso. E estou convencido que também terá sucesso a 24 de janeiro”, dia de eleições.  Não fazendo previsões “númericas” sobre um possível resultado ou o que seria um bom resultado, Tiago Mayan Gonçalves não tem dúvidas: o liberalismo está em crescendo no país, há uma nova visão política — liberal em todos os aspetos — a crescer como uma onda e um resultado “em sinal de crescendo” confirmar-se-á certamente e será positivo.

Onde estão os motivos para a confiança e para o sonho? As pessoas abordam-no na rua, diz o candidato, e o seu reconhecimento “tem tido um crescendo contínuo, tenho verificado todos os dias um apoio contínuo e declarado de cada vez mais gente”. Questionado pelo Observador sobre o significado e a responsabilidade de ser o primeiro candidato presidencial da história do seu partido e de ter a responsabilidade de dar seguimento aos resultados da IL nas legislativas e nos Açores, Mayan Gonçalves dizia sentir mais “confiança” do que responsabilidade.

Responsabilidade tenho-a sempre. Um liberal pugna pela liberdade associada à responsabilidade. Quando assumi esta candidatura, assumi-a com muita responsabilidade e também com muita honra. Mas o que sinto neste momento é muita confiança pelos sinais que vou recebendo, pelas oportunidades que tenho tido de transmitir esta mensagem e esta visão. Portanto veremos. Hoje já há pessoas a votar e dia 24 saberemos o resultado. Estou confiante”, apontava Mayan.

O que significa tudo isto? Que resultado pode vir aí? Na campanha, ninguém arrisca números — e o candidato diz em público que até pela excecionalidade destas eleições “é muito difícil fazer esses exercícios” futuristas, pelo que “veremos o que isto significa”. Mas em surdina a convicção forte é de que o candidato pode superar significativamente a votação do partido nas últimas legislativas, que foi de 1,3%.

A última sondagem do Observador/TVI dava a Tiago Mayan uma projeção de votação entre os 1,9% e os 2,3%. Um resultado acima dos 2% e à frente de Vitorino Silva (que aparece com sondagens de 1,7% a 2,1%) seria sempre positivo, mas o sonho, difícil, é o de superar uma ou até duas candidaturas à esquerda: as de João Ferreira e/ou Marisa Matias, os candidatos que Mayan coloca no campo político e ideológico mais distante de si.

(Este artigo foi atualizado ao longo do dia)