Uma equipa internacional de astrofísicos, incluindo o português José Afonso, descobriu duas novas radiogaláxias gigantes, ou seja, galáxias que emitem ondas rádio colossais e consideradas os “maiores objetos individuais” do Universo, foi esta segunda-feira anunciado.

As duas galáxias são 60 vezes maiores do que a Via Láctea, galáxia onde se situa o Sistema Solar, e estão a 3,8 e 2,1 mil milhões de anos-luz da Terra.

“O estudo reforça a hipótese de que, se forem mais comuns, são de facto radiogaláxias antigas, cujos jatos (de emissões) puderam crescer durante centenas de milhões de anos”, refere em comunicado o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), cujo coordenador, José Afonso, participou na análise dos dados recolhidos pelo radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul.

De acordo com o comunicado, são visíveis em cada uma das radiogaláxias gigantes, descobertas “numa pequena região do céu”, algo que pode indiciar que estas galáxias são mais vulgares do que se julgaria, dois jatos opostos que se estendem pelo espaço intergaláctico para lá “muitas vezes” da dimensão da “parte da galáxia que emite na luz visível”.

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Estes jatos de matéria, que partem da região central das galáxias, são detetados em frequências rádio e “ultrapassam extensões de centenas de milhares ou mesmo milhões de anos-luz”.

Parte da matéria em queda para o enorme buraco negro que encontramos no centro destas galáxias ativas acaba por ser ejetada para muito longe”, refere, citado no comunicado, o astrofísico José Afonso, especialista no estudo de galáxias.

Justificando a relevância da descoberta, o IA assinala que as duas radiogaláxias gigantes, exemplares dos “maiores objetos individuais” do Universo que “poderão ser mais comuns do que se pensava”, são “excelentes alvos para conhecer a história e as transformações por que passaram galáxias deste tipo, e até para perceber como é que o centro da Via Láctea poderá eventualmente vir a atravessar fases de muito maior atividade”.

Conhecidas menos de mil radiogaláxias gigantes, desde que foi identificada a primeira, em 1974, estas galáxias poderão “ter estado invisíveis à sensibilidade limite da geração anterior de radiotelescópios”.

“Muitas estarão, afinal, ainda por descobrir por serem objetos muito ténues, mas finalmente ao alcance da sensibilidade do MeerKAT, uma infraestrutura de 64 antenas inaugurada em 2018 na África do Sul”, sustenta o IA, acrescentando que a descoberta de mais radiogaláxias gigantes poderá ser potenciada com o sucessor SKA, um radiotelescópio em cuja construção Portugal participa e que irá incorporar o MeerKAT.

Nas duas radiogaláxias gigantes, os astrofísicos conseguiram identificar “os ténues mas longos jatos” de matéria, incluindo “os característicos lóbulos terminais onde o material proveniente do centro da galáxia é detido pelo gás que preenche o meio intergaláctico”.

Os investigadores do IA estão a explorar os dados para “descobrir galáxias muito mais distantes do que estas, de quando as primeiras galáxias surgiram no Universo”, adianta o mesmo comunicado. Os resultados da descoberta foram publicados na revista da especialidade Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.