O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou segunda-feira que quem garante democracia ou ditadura num país são as Forças Armadas e ironizou com o envio de oxigénio da Venezuela para Manaus, num momento de colapso dos hospitais locais.

Quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam”, declarou Bolsonaro a um grupo de apoiantes, fora do Palácio da Alvorada, a sua residência oficial, em Brasília.

Bolsonaro, capitão da reserva e admirador da ditadura que governou o país entre 1964 e 1985, criticou os seus antecessores no Governo por terem negligenciado as Forças Armadas, num momento em que o país está focado no início da vacinação contra a Covid-19 e o agravamento da segunda vaga da pandemia.

“Porque é que as Forças Armadas foram ‘sucateadas’ [deixar que algo se degrade] ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo”, disse Bolsonaro, após rezar com os seus apoiantes, que costumam esperar todos os dias pela saída do chefe de Estado da residência presidencial.

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“No Brasil ainda temos liberdade. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar. Imaginem Haddad [ex-candidato presidencial pelo Partido dos Trabalhadores] no meu lugar, como ficariam as Forças Armadas?”, questionou Bolsonaro sobre o seu rival político de esquerda no sufrágio de 2018.

Bolsonaro pronunciou-se sobre as Forças Armadas ao comentar o envio de oxigénio por parte da Venezuela para o estado do Amazonas, que enfrenta um colapso de seus sistemas de saúde e funerário devido à Covid-19, que já soma quase 210 mil no país e 8,5 milhões de casos de infeção.

“Agora fala-se que a Venezuela está a fornecer oxigénio para Manaus. É por causa da White Martins, que é uma multinacional que está lá também. Agora, se Maduro nos quiser fornecer oxigénio, vamos receber, sem problema nenhum”, garantiu Bolsonaro, provocando posteriormente o seu homólogo venezuelano pelas ajudas sociais.

“Agora, ele [Maduro] poderia dar um auxílio de emergência também para o seu povo. Com o salário mínimo de lá [Venezuela], não se compra nem um quilo de arroz”, disse o chefe de Estado, referindo-se ao subsídio mensal de 600 reais (cerca de 94 euros) dado pelo executivo brasileiro a trabalhadores independentes e desempregados durante a pandemia.

“Vejo uns idiotas aí, elogiando: ‘Ah, olha o Maduro, que coração grande ele tem’. Realmente, um homem daquele tamanho, com 200 quilos e dois metros de altura, o coração dele deve ser muito grande, nada além disso”, acrescentou o Presidente brasileiro.

Os 107 mil metros cúbicos de oxigénio enviados pela Venezuela aos hospitais do Amazonas cruzaram a fronteira no domingo e devem chegar a Manaus, capital estadual, na noite de segunda-feira.

O recrudescimento da pandemia no Amazonas, estado quase totalmente coberto pela floresta da Amazónia, agravou a situação dentro dos hospitais da região, que enfrentam graves problemas de abastecimento de oxigénio para tratar pacientes com Covid-19.

O caos vivido na capital amazonense e as cenas de correrias em hospitais, médicos desesperados e exaustos, cemitérios lotados e familiares de pacientes implorando por oxigénio ou comprando no mercado negro, causaram comoção e intensa mobilização em todo o Brasil, com o Governo a colocar à disposição aeronaves militares para transporte de pacientes e de material hospitalar.

Imagens que circularam nas redes sociais, na semana passada, mostravam as próprias famílias de pacientes a transportar para os hospitais tanques de oxigénio que adquiriram por conta própria.