O confinamento dos portugueses está a ser muito mais ligeiro do que durante a primeira fase da pandemia. É essa a conclusão dos dados da consultora PSE, que analisa os números de mobilidade recolhidos através de uma aplicação no telemóvel. “As medidas tiveram sucesso a retirar apenas 10% das pessoas de circulação”, diz ao Observador Nuno Santos, analista da PSE. A consultora defende um confinamento mínimo de 50% da população durante um a dois meses para se verem resultados no controlo da pandemia e o encerramento das escolas.

Percentagem de pessoas em casa (a vermelho) e a diferença em relação ao período pré-pandemia (a azul), de 1 de janeiro a 14 de março de 2020 — PSE

Esta segunda-feira, apenas 41% dos portugueses ficaram em casa, contra os 65% que aderiram, em média, ao confinamento no início da pandemia, segundo comunicado da consultora. Este 41% (e os 39,5% na sexta-feira) representam apenas um aumento de 10% no confinamento das pessoas em relação aos dias úteis nas semanas anteriores.

60% da população saiu à rua no primeiro dia de novo confinamento

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Dito de outra forma, as medidas de confinamento decretadas pelo Governo — com as suas 52 exceções — reduziram pouco a circulação de pessoas, diz a consultora PSE. Os cerca de 70% da população, em média, que circulava nos dias úteis reduziram apenas para 60% na sexta e segunda-feira, já em período de confinamento. O impacto do reforço das medidas também será insuficiente, indicam os consultores.

Governo corta nas exceções, mas continuam a ser 52 — mais 17 que em março

O primeiro fim de semana de confinamento também não mostrou que o era. A quantidade de pessoas em casa foi equivalente à dos dois fins de semana anteriores — quando estava proibida a circulação entre concelhos. “As medidas não tiveram sucesso a retirar mais pessoas de circulação no fim de semana”, conclui Nuno Santos. O analista explica que ao fim de semana já existem, normalmente, menos pessoas a circular, especialmente nos dias mais frios ou de chuva.

“Não é expectável que o crescimento da pandemia seja travado sem conseguirmos um índice de mobilidade igual ou inferior a 60% da mobilidade ‘normal’, anterior à Covid-19. E, consequentemente, cerca de 50% da população em confinamento em casa”, alerta a consultora.

O índice de mobilidade (que mede tempo e distâncias percorridas pela população), por sua vez, foi 80% do que se registava antes da pandemia, ou seja, apenas 20% menos tempo e distâncias percorridas pela população do que entre janeiro e meados de março do ano passado.

“Vários estudos científicos indicam que controlar a mobilidade tem impacto, quer na incidência, mas também na mortalidade”, refere a PSE no comunicado para justificar por que defende o encerramento das escolas. “Para obtermos uma contração superior da mobilidade e conseguir a manutenção de alguma atividade económica, o fecho das escolas é a medida imprescindível.”