Críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, críticas ao Governo — e a defesa de um liberalismo que considera uma oposição “moderada e humanista” a um “socialismo” que cola a Costa mas também ao PR. Tem sido assim que Tiago Mayan Gonçalves se tem posicionado nesta campanha eleitoral à Presidência da República e esta quarta-feira voltou a fazê-lo.

Em declarações aos jornalistas, o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal notou “comportamentos absolutamente erráticos” do Governo para os quais “o senhor Presidente da República do meu ponto de vista já devia ter alertado”. Nomeadamente, prosseguiu, para que os ministros da Saúde, Administração Interna e Justiça já devessem ter caído. “A general Marta Temido já não devia estar em funções, o general [Eduardo] Cabrita também já não devia estar em funções e a general Francisco Van Dunem também já não devia estar em funções“. Porventura com “outros protagonistas e intervenientes”, as coisas “corriam melhor”.

O candidato à Presidência da República falava aos repórteres após mais uma sessão online — tornada solução quase única para as ações de campanha após a evolução da pandemia nas últimas semanas e o anúncio de um novo confinamento geral. E apontava: “Há que limitar a possibilidade de contágios e isso passa por medidas que já fomos tomando como usar máscaras, lavar as mãos, manter o distanciamento social. Neste ponto se calhar tem mesmo de se evitar qualquer tipo de contacto entre pessoas, mas o país não pode fechar por completo”.

O país não pode fechar por exemplo no combate à pandemia, em assegurar comida na mesa, em garantir eletricidade na casa das pessoas. O país nunca terá um encerramento geral em que vamos ficar todos encapsulados”, apontava Mayan.

O candidato voltava a insistir, como tem insistido todos os dias, que em Portugal nem toda a “oferta total de saúde disponível” — não só o SNS mas também recursos hospitalares “privados e setor social” — está a ser utilizada para responder a problemas de Covid-19 e “não-Covid”. E dizia ser “incompreensível” que “o senhor Presidente da República não tenha uma palavra sobre isto” até porque “era algo que deveria ser dito desde março”.

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Para Tiago Mayan, que de manhã ouvira noutra conversa online que no Instituto Politécnico de Leiria “existem cinco polos e 13 mil alunos e tiveram 60 casos positivos” e que “a fase de avaliações foi toda passada para o online”, a sociedade civil “tem demonstrado desde março que vai sabendo dar respostas em função da crise em que vivemos”. O problema não está na sociedade civil, nas pessoas e nos seus comportamentos, acredita o liberal — está no Governo:

O que não pode haver é uma absoluta incapacidade de comunicação sobre medidas realmente necessárias. Se a medida for confinamento geral, tem de ser comunicado de forma clara e percetível. Estamos há dois meses e meio com estados de emergência e andamos também com contínuas exceções que ou não são percetíveis ou não são as adequadas. Se o Governo não mudar o estilo de comunicação, é impossível” resolver o problema da pandemia, dizia.

Tiago Mayan Gonçalves garantir ainda não querer “assacar responsabilidades agora”, o que é preciso é “correr atrás do prejuízo”. Mas assacava-as: “Estamos a chegar a um cenário que jamais pensaríamos chegar. Ouvimos o Governo correr atrás de medidas, mas tem de assumir a responsabilidade de toda e cada uma delas. Se manda fechar atividades, tem de arranjar soluções. Por cada medida que o Governo tomar, terá de assegurar as responsabilidades. É o principal responsável”.

Um novo modelo de educação — e a oposição à “propina zero”

Uma das conversas online da tarde trouxe para a campanha de Mayan um debate sobre uma área até aqui pouco explorada: a educação. A reunião por Zoom juntava o candidato presidencial à Associação Académica de Coimbra (AAC), que tem vindo a inquirir candidatos presidenciais sobre o que pensam sobre a educação pública.

O porta-voz da AAC foi João Assunção e a conversa online revelou mais dissonâncias entre Mayan e o interlocutor do que as reuniões anteriores com empresários. O candidato começava cedo a vincar que “o acesso universal à educação é um aspeto essencial que qualquer liberal preza”, por ser “um dos fatores essenciais da visão que temos para o indivíduo, que garante a possibilidade do elevador social, de qualquer pessoa poder ascender socialmente”. Mas propunha um modelo educativo distinto do seguido até aqui:

De um ponto de vista de um liberal, que é o meu, esse acesso universal à educação é possível sem que o Estado tenha de garantir uma rede de estabelecimentos e ser patrão de toda a gente”, apontava.

Para Mayan Gonçalves, o importante não é as universidades serem públicas ou privadas — “não importa quem é o dono das escolas e das universidades” — mas sim “haver um financiamento forte do Estado à educação, orientado para o aluno e para o estudante”. O acesso universal à educação, dizia o candidato, “é garantir que as pessoas estão a ter acesso a toda a oferta possível”, o que inclui universidades públicas, privadas ou semi-públicas.

Para que isso fosse possível, era preciso que o Estado deixasse de financiar instituições e orientasse o investimento “para um financiamento via aluno e via estudante”, era necessário “um sistema que integre toda a oferta disponível no ensino superior”.

A dissonância, porém, surgiria quanto à defesa ou oposição à abolição das propinas. A Associação Académica de Coimbra é desde a fundação uma firme opositora da ideia de propina. João Assunção defendia essa posição e o candidato ouvia, de phones nos ouvidos e a tirar notas, para depois responder: “A abolição da propina não faz muito sentido, aí vou ter de discordar. O que faz sentido é haver propinas, mas quem não tem possibilidades socioeconómicas para as pagar ser financiado pelo Estado. Aí garantimos um sistema mais equilibrado”.

Não aderiria à vossa proposta de abolição de propinas. Aderiria sim a que a propina não pode ser um impedimento no acesso à educação. E teríamos de falar de como o Estado vai financiar essas propinas”, apontava Mayan.

Lembrando que Portugal é “um dos países mais pobres da Europa”, o candidato deixava a nota que “a melhor maneira de garantirmos os direitos sociais, culturais e económicos é retomarmos a via de crescimento, o que implicará uma via mais liberal e devolver mais poder às pessoas — quer por alívio da carga fiscal quer pela via de quebrarmos as teias burocráticas em que as pessoas estão presas”. E falava aos estudantes: “Vocês estão a ter educação para saírem e terem alguma esperança e oportunidade. Mas estamos num país que está a matar as vossas oportunidades, por causa dos bloqueios associados à falta de liberdade económica, social e política. A perspetiva do país investir em vocês, no ensino superior, para depois só terem oportunidades lá fora é preocupante”.

Para os estudantes, o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal quer “um país que eventualmente vos consiga assegurar ensino superior mas também as oportunidades de emprego e investimento, para o desenvolvimento dos vossos projetos e das vossas ideias cá dentro. É um país que está a desperdiçar recursos”. E também sobre o ambiente defenderia o cumprimento do Acordo de Paris, a sustentabilidade ambiental e a eficiência de recursos e consumo. Mas com uma nota: “Conceber a sustentabilidade ambiental sem incluir o desenvolvimento económico e social na equação é termos a sustentabilidade ambiental associada ao fracasso”.

Artigo atualizado ao longo do dia