A criação do Prémio Literário Natália Correia, que oferece 7.500 euros e a publicação da obra vencedora, marca o início das comemorações do centenário da poetisa, que serão desenvolvidas pela Câmara de Ponta Delgada até 2023.

“O prémio é aberto a autores de todas as nacionalidades, com obras originais e inéditas, e redigidas na língua portuguesa”, e terá uma “periodicidade anual e uma alternância também anual entre a produção poética e o domínio da narrativa, ou seja, o romance e o conto”, explicou a presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Maria José Lemos Duarte.

A obra vencedora, selecionada por um júri constituído por Ângela Almeida, Dinis Borges, Lélia Nunes, Vera Duarte e Luís Sarmento, será publicada pela autarquia, que oferece a primeira edição e um valor pecuniário de 7.500 euros. Este ano, será premiada uma obra de poesia.

“Esta abertura à diversidade cultural e de pensamento traduz” a ambição da autarquia “de acrescentar mais mundo ao reconhecimento internacional da riquíssima obra de Natália Correia, em especial, o do vasto, culturalmente próximo, espaço da lusofonia”, sublinhou a social-democrata, que falava durante a sessão de apresentação do prémio literário, que aconteceu esta quinta-feira numa sessão transmitida online, a partir do Centro de Estudos Natália Correia, na freguesia da Fajã de Baixo.

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A Câmara Municipal de Ponta Delgada escolheu esta distinção para marcar o arranque de “uma celebração condigna em torno da poeta”, que decorre, “a partir deste ano e até 2023, ano em que se assinala o centenário do seu nascimento”.

Com esta iniciativa, o município pretende homenagear “a vida e a obra de um dos grandes vultos femininos da segunda metade do século XX”, frisou a edil, destacando que a autora micaelense deixou “uma obra, que é expressão elevada à escrita do seu pensamento desassossegado, provocador, idealista, ativista e militante pela liberdade, pelo amor, pelo feminismo e pelos direitos humanos”.

Natália Correia nasceu em 13 de setembro de 1923, na freguesia da Fajã de Baixo, em Ponta Delgada e foi viver para Lisboa aos 11 anos. Apesar de ser conhecida como poetisa, a extensa obra da escritora micaelense inclui também trabalhos de ficção, teatro, ensaio e diário.

Foi responsável pela organização de várias antologias, das quais se destaca a “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, um livro censurado pelo Estado Novo, que lhe valeu uma pena suspensa de três anos de prisão, em 1966. Destacou-se também na vida política, onde apoiou o Movimento de Unidade Democrática e a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, em oposição ao Estado Novo, bem como as candidaturas à Presidência da República dos generais Norton de Matos e Humberto Delgado.

Foi eleita como deputada à Assembleia da República pelo PSD, em 1980, mas acabaria a legislatura como deputada independente, por não apoiar a visão conservadora do partido. Voltou a ocupar um assento parlamentar, de 1987 a 1991, pelo Partido Renovador Democrático, do general Ramalho Eanes.

Morreu em 16 de março de 1993, em Lisboa, vítima de um ataque cardíaco.