“A evidência científica de hoje é erro retificado de amanhã”. “O tempo da ciência não é o tempo da política”. Estas duas frases marcaram a entrevista desta quinta-feira de António Lacerda Sales à TVI. O secretário de Estado Adjunto e da Saúde falou da situação “preocupante” que Portugal vive — e garantiu que o país tem “semanas difíceis pela frente”. E “vão ser seguramente mais de duas”, frisou.

3 de agosto. Foi por esta data que começou a entrevista. Tinha sido um dos “dias menos maus” da pandemia, em que não foram registadas quaisquer mortes relacionadas com a Covid-19. Dados que contrastam com os desta quinta-feira, em que foram contabilizados 219 óbitos resultantes da doença — um novo máximo desde o início da pandemia.

O secretário de Estado lembrou que 10% dos infetados por Covid-19 em Portugal estão internados e 1% destes vão para as unidades de cuidados intensivos (sendo que 20% dos pacientes nas UCI poderão morrer). Outro dado alarmante é a lotação nos hospitais. Lacerda Sales disse que a lotação é de 91% em enfermaria e 85% em cuidados intensivos — números acima da “linha vermelha” estipulada pelo Governo.

Mas estes não foram os únicos números que o Secretário de Estado divulgou. Portugal tem, neste momento, 19.169 camas disponíveis, 18.050 em enfermaria e 199 em UCI. Tem ainda “1961 ventiladores”. Além disso, também revelou que entre 2015 e 2020 foram contratados cerca de 22 mil profissionais para o SNS — e só em 2020 foram contratados 8 mil, ainda que Lacerda Sales admita que talvez “não chegue” para fazer face aos atuais números da pandemia.

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O secretário de Estado foi também confrontado com uma longa fila de ambulâncias, em direto, à porta do Hospital Santa Maria. “Vou inteirar-me da situação”, prometeu.

“O tempo da ciência não é o tempo da política”

Relativamente às críticas de Rui Rio — que acusou esta quarta-feira o Executivo de “desgoverno” –, Lacerda Sales defendeu que é o momento de todos sermos convocados, desde “partidos”, à “oposição”: “Todos precisamos de estar unidos numa altura destas”.

Sobre a mudança de opinião do Governo, que depois de anunciar que as escolas ficariam abertas decidiu fechá-las, Lacerda Sales respondeu que as decisões são tomadas tendo em conta “informação rigorosa e consolidada”. E apontou diferenças entre os dados que o Executivo tinha no início da semana e os que tinha esta quinta-feira. Um deles é o aumento exponencial “que a nova variante [inglesa] pode provocar” — pode chegar a 60% dos contágios — e o facto de atacar “essencialmente idades mais jovens”.

A concluir, sublinhou que “o Governo não hesitará em tomar decisões diferentes que sejam proporcionais à situação epidemiológica”. Lacerda Sales também salientou que a ação governamental se vai pautar pelo “esforço, determinação, para resolver os problemas dos portugueses com as capacidades que temos”. “Garanto que estamos ao lado dos portugueses, dos que sofrem com a pandemia, até ao limite”, frisa.