Talvez nunca tenha ouvido falar da marca Suda e, muito menos, do seu SA01. Trata-se de um veículo que tem por base o Suzuki SX4 de primeira geração (2005), mas em formato de sedan e não crossover, tendo também trocado o motor a combustão pela propulsão eléctrica. Nada que o impeça de continuar a ser accionado com o tradicional rodar da chave no canhão da ignição…

Por fora, o modelo oriental tem uma estética que faz lembrar o primeiro Dacia Logan e, por dentro, a sofisticação também deixa a desejar. Anuncia 109 cv (80 kW), potência transmitida às rodas da frente, estando o motor sob o capot dianteiro. A velocidade máxima está limitada a 134 km/h, para ser capaz de homologar em WLTP apenas 200 km de autonomia, distância após a qual será necessário ter muita paciência pois o carregamento em corrente alterna (AC) faz-se a 3 kW e em corrente contínua (DC) a 22 kW.

Mas todas estas limitações serão o menor dos problemas, pois o conjunto barato paga-se caro, em matéria de segurança. Tratando-se de um veículo que é comercializado na Alemanha, onde é vendido por 19.390€, os especialistas locais do Allgemeiner Deutscher Automobil-Club (ADAC), o maior clube automóvel europeu, entenderam que deveriam pô-lo à prova nas mesmíssimas condições em que são efectuados os testes de colisão dos outros veículos comercializados na Europa, sejam eles eléctricos ou não. E o resultado foi trágico.

A publicidade ao Suda SA01 na China

Nada de airbags, nada de controlo electrónico de estabilidade e sistema de travagem antibloqueio (ABS) sofrível. Submetido quer a uma colisão frontal quer a testes no exterior, neste caso para avaliar a resposta da direcção em mudanças súbitas e a eficácia da travagem, o SA01 falhou redondamente. Não houve pino que lhe escapasse, o que não era suposto, e até o examinador teve de pôr à prova a sua perícia no drift para conseguir controlar o eléctrico chinês nas manobras de esquiva. Tão ou mais grave é que a capacidade de imobilização completa do veículo, quando a circular a 100 km/h, também ocorreu fora dos limites. A comparação que os alemães fazem é elucidativa: quando um Opel Corsa-e já está parado (o que acontece ao fim de 32,3 m), o Suda ainda passa por ele a quase 50 km/h, só parando ao fim de 41,8 metros.

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No embate frontal, a 64 km/h, o Suda SA01 não se saiu melhor. A frente como que desapareceu, num choque a seco cujo impacto afectou o pilar A, do lado do condutor, impedindo mesmo a equipa de resgaste de aceder facilmente à “vítima”, por a porta do lado direito não abrir. Para retirar o dummie foi preciso recorrer a ferramentas e tudo isso consome tempo. Tempo que, não se tratasse de um boneco antropométrico, mas sim de uma pessoa, seria potencialmente fatal, dado que a violência da colisão não foi atenuada com o deflagrar de airbags.  “Os sistemas de retenção e a célula de protecção de passageiros estão ao nível do que era oferecido no final dos anos de 1990”, sublinha o clube automóvel alemão.

O travão de mão e a alavanca da caixa remetem o Suda às suas “origens”

Como é que é possível, em 2021, na Europa ainda se comercializarem veículos novos que são um perigo nas estradas, em caso de acidente? A explicação reside no volume de vendas que, por ser baixo, permite que este tipo de modelos não tenha de cumprir os requisitos de segurança que são exigidos aos outros. Daí a longevidade, por exemplo, do Lada Niva.

De notar ainda que o Suda SA01 pode atrair clientes ao ser proposto por 10.390€, depois de usufruir dos incentivos locais. O estranho será fazer esta escolha quando se pode optar, por exemplo, por um Volkswagen e-up! com mais autonomia (260 km), os devidos equipamentos de segurança e um preço de 21.421€ que, depois de subtraído o bónus ambiental, fica por cerca de 12.400€. O citadino alemão também foi testado pela ADAC e recebeu três estrelas no capítulo da segurança, por não usufruir de certas ajudas electrónicas à condução, como a travagem automática de emergência. Mas não é nada que se compare, em termos de protecção dos ocupantes, ao desaire do Suda, como pode ver (e comparar) abaixo.