Os empresários turísticos da região da Guarda esperam que o ano de 2021 traga normalidade ao setor que em 2020 sofreu as consequências da pandemia causada pela covid-19 e apenas registou um “pequeno fôlego” no período do verão.

Três empresários de turismo associado às Aldeias Históricas de Marialva (Mêda), Linhares da Beira (Celorico da Beira) e Sortelha (Sabugal) disseram à agência Lusa que 2020 foi “mau” para a atividade e que depositam em 2021, apesar de ter começado com um novo confinamento, a esperança de um regresso à normalidade.

“2020 foi um ano estranhíssimo, porque foi um ano que veio romper com tudo aquilo a que estávamos habituados e a cadência que vínhamos tendo, quer de crescimento, quer de ampliação de mercados, quer de tudo aquilo que se ia passando do ponto de vista das experiências”, disse à Lusa Paulo Romão, proprietário do empreendimento de turismo Casas do Côro, na Aldeia Histórica de Marialva, que disponibiliza 31 quartos.

Segundo o empresário, a unidade de alojamento esteve fechada cerca de três meses, na passagem do primeiro para o segundo trimestre, mas, no verão, acabou por “equilibrar um bocadinho” o ano.

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“Acabámos por ter um belíssimo verão, mas que se esgotou logo no final de setembro”, porque o empreendimento tem um nível de internacionalização “muito grande” e não teve clientes estrangeiros.

Paulo Romão diz que o momento é de esperar que a pandemia seja ultrapassada com a vacinação para procurar reequilibrar “um bocadinho aquilo que se perdeu em 2020”.

“Nós somos de natureza otimista preponderante, não esperávamos que o início de ano nos trouxesse este novo ‘nevoeiro’, mas estamos ainda otimistas que, no final da primavera, possamos retomar um bocadinho aquilo que é uma ideia de podermos pensar que já está a passar”.

Próximo da Aldeia Histórica de Linhares da Beira (Celorico da Beira), na localidade de Mogadouro, o empresário João Paulo Patrício acolhe turistas na Casa do Mogadouro, um projeto que surgiu em 1998 e que tem capacidade para alojar 20 pessoas.

O empresário reconhece que 2020 “foi um ano atípico” para o setor, embora no verão tenha trabalhado “bem”, porque a casa “permite distância social” e foi alugada a famílias e a grupos de amigos, do país e do estrangeiro.

João Paulo Patrício já tem “algumas reservas para o verão” e acredita que possam aumentar, mas vaticina que a situação é “complicada” para o Carnaval e uma incógnita para a Páscoa.

A Casa do Mogadouro promove o ecoturismo e o turismo sustentável e faz a ligação com a Aldeia Histórica de Linhares da Beira, com as Aldeias de Montanha de Rapa, Salgueirais e Prados, e queijarias tradicionais dos concelhos de Celorico da Beira e Fornos de Algodres.

Na Aldeia Histórica de Sortelha, no concelho do Sabugal, a empresa de animação turística JMAL — Atividades Turísticas, criada em 2016, disponibiliza 13 burros para visitas e viagens pela região e também participa em recriações históricas e feiras medievais.

O proprietário, Jorge Miguel, disse que 2020 é para esquecer, porque “foi muito mau, para não dizer terrível”.

O empresário estima uma quebra de 90% na atividade e deseja que a pandemia – que fica associada ao nascimento de dois animais a quem atribuiu os nomes Covid e Zaragatoa – “passe o mais rápido possível”, para retomar a normalidade.

O presidente da Associação das Aldeias Históricas de Portugal e do município do Sabugal, António Robalo, também disse à Lusa que o ano de 2020 “foi extremamente complicado” para todo o país e no verão verificou-se “uma abertura” para o turismo.

“A verdade é que esse pequeno fôlego do mês de agosto não veio resolver o problema de fundo em termos de atividade turística na região, na rede [das Aldeias Históricas] e no próprio país. Foi um ano de muitas dificuldades, em que os agentes necessitaram e vão continuar a necessitar, pelo início do ano de 2021, dos apoios do Estado, à atividade, à manutenção dos postos do trabalho e, no fundo, [para] perspetivarem um futuro melhor”, declarou.

Para 2021, existia alguma perspetiva de preparação da Páscoa na região, “mas depressa se vão gorar essas expectativas”, vaticina.

“É um drama para o país, é um drama económico, é um drama para a atividade turística” e é necessário que os apoios anunciados pelo Estado possam contribuir para “minimizar o impacto negativo da pandemia”, rematou.

Empresário recupera antigas casas da Linha do Douro para fins turísticos

empresário Paulo Romão, proprietário do empreendimento turístico Casas do Côro, na Aldeia Histórica de Marialva, Mêda, vai recuperar antigas casas da desativada Linha Ferroviária do Douro, entre Pocinho e Barca d’ Alva, para fins turísticos.

O projeto “marítimo-turístico” que Paulo Romão está a desenvolver junto do rio Douro, no antigo troço ferroviário entre Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e Barca d’ Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), na área do distrito da Guarda, inclui a recuperação das antigas casas de manutenção da linha férrea, após vencer o concurso de concessão lançado pela Infraestruturas de Portugal.

“2021 marca-se pelo arranque do investimento na Estação do Côa [que servia Vila Nova de Foz Côa], onde vamos fazer uma unidade de alojamento. E, depois, a montante e a jusante da Estação do Côa, vão surgir as pequenas casas com suítes à beira de água, num projeto completamente autónomo”, disse o empresário à agência Lusa.

O responsável referiu que algumas das casas “não têm acesso sequer por terra, só por água”, e “todas elas vão ter o seu embarcadouro, vão ter a sua situação adaptada a um investimento marítimo-turístico”.

“É um ano em que estamos com muito entusiasmo, porque testámos o ano passado com a primeira casa da linha férrea na parte da restauração e, neste momento, vamos ampliar o conceito ao alojamento. Abre-nos uma janela nova de oportunidade”, disse.

Paulo Romão explicou que a primeira fase do investimento, a realizar este ano, será superior a um milhão de euros.

O empresário disse tratar-se de um projeto “ambicioso”, que contribuirá para o alargamento das experiências proporcionadas aos clientes no complexo das Casas do Côro, instalado na Aldeia Histórica de Marialva, no concelho de Mêda, distrito da Guarda.

O projeto das Casas do Côro foi evoluindo ao longo dos últimos 20 anos de forma “muito sustentada e ampliando aquilo que são as suas experiências”, disse.

O complexo turístico possui atualmente 31 quartos e “tem todas as valências de qualquer hotel de cinco estrelas”.

Segundo o empresário, a unidade dispõe de um Spa (com 600 metros quadrados), um restaurante e um ‘Pool Bar’ (aberto seis meses por ano com refeições na parte da piscina exterior).

A empresa também tem associada a componente do vinho, possuindo uma plantação de 14 hectares de cepas de vinho branco na Aldeia Histórica de Marialva.

Disponibiliza também um conjunto de ‘hotspots’, como o ‘sunset@camionete’, o ‘secret spots’, piqueniques na vinha e passeios de barco no rio Douro.

As Casas do Côro funcionam diariamente com 25 pessoas e o número de colaboradores aumenta nos meses de verão.

É um projeto que assenta “num conceito de alojamento experiencial, onde as pessoas conseguem ter uma estada prolongada, com muita coisa para fazer durante os dias em que ficam”, concluiu Paulo Romão.