Francisco Louçã, ex-líder do Bloco de Esquerda (BE), defendeu que “à esquerda, todos foram derrotados” e que neste espetro político “ninguém vai festejar”, admitindo ainda assim que o primeiro-ministro, António Costa, “sai bem” destas eleições.

“Acho que à esquerda, com três excelentes candidatos, todos foram derrotados. Marisa Matias certamente, uma votação muito inferior à que tinha, há uma queda de 10% para 5%. Acho que ninguém vai festejar à esquerda. Houve quatro candidatos da esquerda nas últimas eleições presidenciais que tiveram cerca de 40% juntos. Há três desta vez, menos dispersão, que têm cerca de 25% juntos, porque Marcelo Rebelo de Sousa entrou em todos estes eleitorados, com intensidades diferentes, naturalmente muito mais no PS, mas também nos outros, e polarizou essa votação”, disse Francisco Louçã.

Em comentário na noite eleitoral da SIC, o ex-líder do BE defendeu que nem Ana Gomes, nem João Ferreira, nem Marisa Matias, foram vistos “como alternativa a Marcelo Rebelo de Sousa”. Os resultados colocam problemas às três candidaturas, defendeu Louçã, mas também à direita. Do ponto de vista do BE e de Marisa Matias, disse, põe-se a questão de saber como enfrentar a extrema-direita e o populismo.

João Ferreira e Ana Gomes, continuou, tiveram ambos “um resultado mau”, sendo que o primeiro “se compara com uma candidatura que teve o pior resultado de sempre” para o PCP, como foi a candidatura presidencial de Edgar Silva, e que é, do ponto de vista do candidato, o seu pior resultado eleitoral. Já Ana Gomes ficou “muito abaixo” de Manuel Alegre ou Sampaio da Nóvoa.

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“Pode-se dizer que António Costa, e isso acompanho, sai bem destas eleições, porque apoia Marcelo, porque Ana Gomes quis aparecer no fim da campanha eleitoral como instrumento de uma luta interna no PS a favor de Pedro Nuno Santos, coisa que é bastante incompreensível, porque reduz o espaço da candidatura e porque os partidos com os quais discute no parlamento as condições maioritárias de decisões como o Orçamento do Estado e outros saem enfraquecidos deste resultado eleitoral”, defendeu Louçã.

Do ponto de vista da direita, o resultado de Marcelo Rebelo de Sousa encosta o PSD à extrema-direita. “Marcelo provou ao PSD que ganhava no centro-direita. O PSD está hoje, com a subida de [André] Ventura, a aproximar-se de uma convergência com a extrema-direita, como aconteceu nos Açores, que é exatamente o contrário do sinal que dá a vitória de Marcelo. Parece apertado desse ponto de vista”, afirmou Francisco Louçã.

O ex-líder dos bloquistas entende que do ponto de vista da relação de “bloco central” entre Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro, António Costa, nada vai mudar. A alteração é a “pressão muito maior” sobre o país em termos de respostas sanitárias, sociais e económicas, “que podem entrar em derrapagem pelo cansaço político e porque na direita está a haver uma alteração significativa”.

As projeções divulgadas pelas 20:00 pelas várias televisões apontam para uma reeleição à primeira volta de Marcelo Rebelo de Sousa. Para a décima eleição do Presidente da República, desde a instauração da democracia em 25 de Abril de 1974, estavam inscritos 10.865.010 eleitores, mais 1.208.536 do que no sufrágio anterior, em 2016.

Foram sete os candidatos ao Palácio de Belém: Além do atual Presidente e recandidato, Marcelo Rebelo de Sousa, apoiado pelo PSD e CDS-PP, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e antiga eurodeputada do PS Ana Gomes (PAN e Livre).