O despedimento de Frank Lampard na passada segunda-feira, por parte do Chelsea, confirmou que estamos oficialmente no período da temporada em que os treinadores têm o lugar mais periclitante. Ninguém quer trocar de treinador no início da época, por ser demasiado cedo; já ninguém troca de treinador mesmo antes de a época acabar, por ser demasiado tarde. Claro que tudo isto é teoria mas, em casos normais e onde os projetos estão mais cimentados, as mudanças de treinador ocorrem ou no verão, quando a temporada já acabou mesmo, ou em janeiro, quando a temporada ainda vai a meio e é preciso salvá-la.

Foi o caso de Tuchel, no PSG. Foi o caso de Lampard, no Chelsea. Pode ainda ser o caso de Paulo Fonseca, na Roma. E, pelo menos há duas semanas, era também esse o caso de Pirlo, na Juventus. A derrota dos bianconeri contra o Inter Milão, logo depois de um jogo na Taça de Itália em que foi necessário ir a prolongamento para eliminar o Génova, deixou o treinador italiano na rota de muitas críticas. A maior delas todas, que continua sem ser resolvida, é o facto de a Juventus não ter uma ideia clara de jogo — não existem processos notórios, movimentações definidas, objetivos prioritários. A equipa limita-se a jogar, assente principalmente nos valores individuais e na capacidade de cada um dos jogadores, mas não segue uma lógica contínua. E Pirlo, depois da derrota com o Inter, reconheceu que as coisas não estavam a correr bem.

Juventus v UC Sampdoria - Serie A

O treinador italiano viveu uma semana complicada, entre a vitória tirada a ferros com o Génova e a derrota com o Inter Milão

“Fomos demasiado passivos, como se não tivéssemos entrado em campo. Fomos temorosos e na cabeça só pensámos em defender e de uma forma pouco agressiva. É uma derrota pesada, não a esperávamos, pior do que isto não poderíamos ter jogado”, disse o italiano, que pediu uma “reação imediata” e lembrou que não existia a possibilidade de “prescindir do entusiasmo”. A reação, pelo menos, aconteceu. A última semana ajudou a esquecer e ocultar as fragilidades da Juventus e a equipa de Cristiano Ronaldo venceu o Nápoles, conquistando a Supertaça italiana, e também bateu o Bolonha, para a Serie A, estando ainda a sete pontos do líder AC Milan.

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Ora, esta quarta-feira, Andrea Pirlo tinha mais um desafio: e podia confirmar uma crise que se prolonga desde o início da temporada ou engrossar os resultados positivos da última semana. Em Turim, a Juventus recebia a SPAL, atualmente a jogar na Serie B italiana, e precisava de vencer para prosseguir para as meias-finais da Taça de Itália. Com um encontro com a Sampdoria, no próximo sábado, já no horizonte, Pirlo deixava Cristiano Ronaldo fora dos convocados — mas garantia que não era possível subestimar a equipa da cidade de Ferrara.

“Existem muitos perigos nesta eliminatória, porque vamos defrontar uma equipa que é da Serie B, mas apenas no papel. Depois, se olharmos para outros países, vimos que o Bayern foi eliminado por uma equipa da segunda divisão e o mesmo aconteceu com o Real Madrid. É preciso entrar em campo sabendo que será um jogo complicado. Para seguirmos em frente é preciso máxima concentração. A SPAL tem realizado uma boa campanha na Taça de Itália e na Serie B. Não os podemos subestimar”, disse o italiano, recordando que a SPAL já eliminou o Sassuolo e o Crotone na Taça e está atualmente no quinto lugar do segundo escalão.

Com Morata e Kulusevski no ataque, Pirlo também deixava de fora Chiellini, McKennie, Cuadrado, Bonucci e Chiesa, apostando em dois nomes menos conhecidos: o defesa Drăgușin, romeno de 18 anos que a Juventus contratou ao Regal București em 2018, e o médio Fagioli, italiano de 19 que subiu pela formação da equipa de Turim. Na baliza, surgia Buffon, que completa 43 anos esta quinta-feira. Dentro de campo, os bianconeri precisaram de muito pouco tempo para abrir o marcador. Numa altura em que ainda não tinham aparecido oportunidades, Rabiot foi carregado em falta na grande área da SPAL — o árbitro começou por assinalar simulação, mostrou o cartão amarelo ao francês mas reverteu a decisão depois de ver as imagens do VAR. Na conversão, Morata não falhou (16′).

O segundo golo da equipa de Pirlo apareceu à passagem da meia-hora e depois de uma recuperação de bola numa zona já adiantada. Kulusevski prosseguiu sozinho, tirou um adversário da frente já na grande área com um bom pormenor e colocou a bola perto da meia lua com um passe atrasado; Frabotta, vindo de trás em velocidade, atirou de primeira de pé esquerdo e aumentou a vantagem, estreando-se a marcar pela equipa de Turim (33′). Sem precisar de acelerar muito, a Juventus chegou ao intervalo a ganhar confortavelmente, com um pé nas meias-finais da Taça de Itália e sem que a SPAL tivesse grande capacidade para reverter o resultado, apesar de ter tido várias aproximações à baliza de Buffon.

No início da segunda parte, a SPAL fez uma dupla alteração, lançando Sala e Tomovic, e Pirlo também mexeu, trocando Bernardeschi pelo jovem Di Pardo, médio de 21 anos da formação. Depressa se tornou claro que a Juventus pretendia principalmente gerir o resultado sem precisar de acelerar muito, oferecendo a iniciativa ao adversário e recuando as linhas para não correr grandes riscos e só atacar em situações de transição rápida. Alex Sandro voltou à competição, depois de praticamente um mês afastado devido à Covid-19, e a SPAL ia desperdiçando as poucas oportunidades que tinha para rematar à baliza de Buffon. As machadadas finais no jogo apareceram por intermédio de Kulusevski, que aproveitou uma recuperação de bola para atirar rasteiro e fazer o terceiro golo dos bianconeri (78′), e Chiesa, que marcou já nos descontos (90+4′).

No fim, a Juventus venceu tranquilamente, eliminou a SPAL e seguiu para as meias-finais (onde vai encontrar o Inter Milão) e ainda somou a terceira vitória consecutiva. Mesmo sem Cristiano Ronaldo e mesmo sem impressionar, Pirlo parece ter agora condições para esquecer uma semana complicada e seguir em frente. O problema é que as próximas semanas, entre Serie A e oitavos de final da Liga dos Campeões com o FC Porto, também não serão fáceis: e a Juventus ainda não é uma equipa equilibrada o suficiente para poder olhar para esses desafios de forma totalmente otimista.