A Groundforce está prestes a obter um aval do Estado, através do Banco de Fomento, para um empréstimo de entre 30 e 35 milhões de euros, para fazer frente a uma situação financeira preocupante na empresa, que no ano passado teve uma quebra de receitas de 95 milhões de euros.

A informação, adiantada ao Observador pelo presidente executivo da Groundforce, Paulo Neto Leite, surge na sequência da audição da Comissão de Trabalhadores dos Serviços Portugueses de Handling, esta quarta-feira, no parlamento.

João Alves, representante dos trabalhadores, afirmou na comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas que este empréstimo estava “pendente do aval do Estado” e que o Governo estaria “disponível para o avalizar”.

“Tem vindo há muito tempo a ser notícia que nós andamos a solicitar, ao abrigo das linhas Covid, um aval do Estado para um empréstimo de 30 milhões de euros. Isto já vem desde agosto. Estamos quase a finalizar. Estamos a poucos momentos de concretizar”, confirmou ao Observador o CEO da Groundforce.

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Quanto à forma como se vai operacionalizar o empréstimo, Paulo Neto Leite revelou que o processo passa pelo Banco de Fomento. “Primeiro vamos ter o aval do Estado, do Banco de Fomento. E depois logo se vê de que forma é que se vai operacionalizar esse mesmo um empréstimo”, se através de um único banco ou um sindicato bancário. No entanto, ressalvou que “o setor da aviação, dos transportes, tem uma pressão muito grande” junto da banca.

Os trabalhadores  do handling também se queixaram aos deputados da Comissão de Economia que a Groundforce tem vindo a conseguir “fazer face aos pagamentos” devido à redução da TSU que existiu até outubro, mas que já há compromissos salariais a ser cumpridos com recurso a pagamentos adiantados da TAP por serviços ainda não prestados. Em dezembro, disseram, “o subsídio de Natal dos trabalhadores já esteve em causa”.

Paulo Neto Leite não confirmou nem desmentiu esta informação, salientando porém que a Groundforce “está a gerir quer os recebimentos dos nossos clientes, quer a gerir o pagamento aos fornecedores. É o que é normal, é para isso que cá estou”.

“Nós temos de honrar todos os compromissos. Na medida do possível, mas nós tivemos uma quebra de 95 milhões na receita. No ano passado foi esse o valor e, como é óbvio, isso é materialmente relevante”.

Trabalhadores da Groundforce denunciam pressões da TAP para empresa fazer cortes

Para estes adiantamentos, salientou João Alves, a TAP estaria a exigir condições como: juros de 5% sobre os valares adiantados; um desconto de 5% no valor a pagar pelo serviço da Groundforce.

“Isso não vou comentar, até porque não me parece relevante nem me parece, sequer, que seja verdade. Mas o que nós estamos a fazer é uma gestão financeira de acordo com os nossos clientes da forma que conseguimos e com os nossos fornecedores. É o que lhe posso dizer”, disse ao Observador Paulo Neto Leite.

A TAP, através da administradora financeira Alexandra Reis, terá também comunicado à administração da Groundforce – disse João Alves – que pretende ver a empresa de handling a comprometer-se com medidas semelhantes ao seu plano de reestruturação, como por exemplo despedimentos ou o encerramento da escala de Faro.

João Alves disse que os trabalhadores não aceitem uma “guerra entre administrações em que a TAP pressiona para mexer no acordo de empresa”, lembrando que a Groundforce teve resultados positivos nos anos que antecederam a pandemia e que os problemas de liquidez são conjunturais e não estruturais.  Uma insolvência poria em causa 2.400 postos de trabalho.

O CEO da Groundforce não comentou diretamente, mas deixou a nota de que a empresa fez “muitas mais medidas de redução de custos do que podemos”. “Nós reduzimos perto de 25 milhões de euros em outros custos que não recursos humanos este ano. Por isso é que, com uma quebra de 95 milhões de euros, vamos ter um resultado líquido de 25 milhões de euros negativos, mais ou menos. Estamos a conseguir superar isso”, concluiu.