O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) anunciou esta quinta-feira o recurso a “todos os mecanismos possíveis” para fazer cumprir os critérios de prioridade do plano de vacinação, afirmando que grande parte dos profissionais de saúde continua por vacinar.

“Não vamos desistir de continuar a defender, nem os doentes, nem os médicos, nem até os outros profissionais de saúde, seja através da denúncia das várias situações irregulares que estão a acontecer, seja através dos meios jurídicos ou de iniciativas que possam ter impacto a nível nacional e internacional”, afirmou Miguel Guimarães numa conferência de imprensa conjunta com o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que, segundo o bastonário, pretendeu ser um “grito de alerta” para dar voz às “centenas de denúncias” de clínicos que contestam as alegadas falhas do plano de vacinação contra a Covid-19.

Questionado para concretizar quais os meios a que a OM vai recorrer, o bastonário respondeu: “vamos preparar — já o estamos a fazer — todos os mecanismos possíveis para que as regras definidas a nível internacional sejam cumpridas” no país.

Segundo Miguel Guimarães, menos de 10% dos médicos que trabalham fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS) receberam a primeira dose da vacina, enquanto no SNS cerca de 30% dos médicos foram vacinados, com a primeira dose ou as duas tomas.

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“Estamos bastante preocupados com o que está a acontecer”, salientou o representante dos médicos, que criticou a decisão de vacinar a “classe política de uma forma geral”, apesar de considerar que o Presidente da República e o primeiro-ministro “já deviam ter sido vacinados no primeiro dia”.

“Este anúncio de haver várias prioridades quando a maior parte dos médicos e dos outros profissionais de saúde ainda estão por vacinar é uma situação complexa que gera nos médicos um sentimento de revolta e de indignação”, alertou.

Para presidente do SIM, Jorge Roque da Cunha, o processo de vacinação em Portugal tem tido uma gestão “meramente política”, alegando que “sem profissionais de saúde saudáveis, não há pessoas para combater a pandemia” da Covid-19.

“Já tivemos 3.000 médicos infetados que representaram centenas de milhares de horas de trabalho que não foram dadas”, sublinhou o presidente do SIM, apontando o exemplo do hospital de Santa Maria, onde “foi vacinado um terço dos profissionais de saúde”, e dos centros hospitalares das Misericórdias, em que “menos de um décimo” já receberam a vacina.

O presidente da FNAM, Noel Carrilho, adiantou que a federação tem recebido “centenas de denúncias por parte de médicos que revelam que o processo de vacinação está a ser desorganizado e muito pouco transparente”.

“É com espanto que constatámos que não tem havido o necessário cuidado para preservar um recurso escasso como é a vacina e não estão a ser respeitados os critérios de prioridade”, referiu Noel Carrilho, para quem esta preocupação é extensiva aos profissionais de saúde dos setores público e privado.

“Exigimos que sejam cumpridos rigorosamente os critérios que foram definidos. Sabemos de casos em que foram vacinadas pessoas que não teriam essa prioridade”, disse o responsável da FNAM.

O ministro da Administração Interna afirmou que foram atribuídas até esta quinta-feira às 13h00 quase 250 mil primeiras doses da vacina contra a Covid-19 e mais de 53 mil segundas doses, havendo 71.600 profissionais de saúde já vacinados.

Estes dados foram avançados por Eduardo Cabrita na Assembleia da República, antes de ter sido aprovado por larga maioria o pedido de autorização de renovação do Estado de Emergência por mais de 15 dias, até 14 de fevereiro, para permitir medidas de contenção da Covid-19.

Este processo não é secreto e traduz um grande envolvimento que tem como prioridade clara os profissionais de saúde, dos quais 71.600 já foram vacinados. As pessoas que estão nos lares e seus profissionais foram vacinados na ordem dos 165 mil”, referiu o membro do Governo.

Portugal atingiu esta quinta-feira novos máximos diários ao registar 303 mortes relacionadas com a Covid-19 e 16.432 casos de infeção com o novo coronavirus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).