O comandante dos Bombeiros Voluntários da Ajuda descreve um “cenário de lamentar” à porta do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Fernando Azevedo relata que as ambulâncias têm pela frente tempos de espera de “praticamente um dia” e pede intervenção do Governo. “O sistema está a colapsar”, alerta.

Ao Observador, o responsável adianta que na noite desta quinta-feira estão 35 ambulâncias de várias corporações à espera para entrar nas urgências do hospital.  “Neste momento, tenho lá duas ambulâncias dos Bombeiros da Ajuda. Uma delas chegou ao hospital às 14h00 e a outra às 14h20 (desta quinta-feira). Estão lá retidas há mais de dez horas. Uma delas tem mais 12 ambulâncias à frente. Adivinha-se uma longa noite. Provavelmente, ficarão pelo menos mais oito a dez horas à espera. É praticamente um dia de espera”, relata Fernando Azevedo.

Ouça aqui as declarações do comandante dos Bombeiros Voluntários da Ajuda ao Observador:

Santa Maria. “Cenário é de lamentar. Ambulâncias ficam praticamente um dia à espera”

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O comandante dos Bombeiros Voluntários da Ajuda aponta críticas ao Governo pela situação e exige uma “intervenção urgente” do Ministério da Saúde: “Não adianta só mostrar imagens. Tem que se fazer alguma coisa para reduzir estes tempos de espera”. Fernando Azevedo propõe uma “resposta de retaguarda”.

Esta situação era simples de resolver, se fosse criada uma resposta de retaguarda. O sistema não está a aguentar. Se não forem criadas linhas de retaguarda para pequenas situações, vamos ver este cenário durante muito tempo ainda”, avisa o comandante dos Bombeiros Voluntários da Ajuda.

O bombeiro destaca que a maioria dos doentes que estão dentro destas dezenas de ambulâncias “não são urgentes” e que “têm pulseira verde”. “Podiam ser atendidos numa segunda linha de retaguarda. A resposta para escoar estes doentes já podia ter sido criada”, explica. Fernando Azevedo apela também à “sensibilidade” da população e pede que os doentes aguardem as indicações dos médicos antes de recorrerem aos hospitais.

No final da tarde desta quinta-feira, o presidente do Conselho de Administração do Hospital Santa Maria, Daniel Ferro, adiantou em declarações aos jornalistas que a partir desta sexta-feira estará uma equipa do INEM a fazer a triagem de quem está nas ambulâncias. Para o comandante dos Bombeiros Voluntários da Ajuda, esta medida é insuficiente e já vem tarde.

A triagem é uma medida tardia. Triar o doente dentro da ambulância é fácil. Mas depois o doente é encaminhado para onde, se os serviços estão lotados? Ter uma equipa de triagem pode minimizar o tempo de espera, mas a questão é para onde escoar o doente”, sublinha.

Fernando Azevedo adianta ainda ao Observador que, até ao momento, não recebeu indicações sobre como este processo vai ser feito.

Na tarde desta quinta-feira, o serviço de urgência do Hospital de Santa Maria registou uma fila com mais de 40 ambulâncias. Alguns utentes chegaram a esperar várias horas até serem atendidos.

Hospital de Santa Maria. Mais de 40 ambulâncias à espera

Nas declarações aos jornalistas, o presidente do Conselho de Administração do Santa Maria explicou também que as filas diárias de ambulâncias são “reflexo do que está a acontecer no país e na região, com infeções muito elevadas”. Daniel Ferro apela também para que quem não tenha sintomas ou apresente sintomatologia ligeira não se dirija ao hospital.

Bombeiros protestaram em longa fila à porta do hospital Santa Maria por falta de condições