Morreu o ator António Cordeiro, que ao longo de várias décadas de carreira participou em inúmeros filmes, novelas e séries de televisão, mas será para sempre lembrado como Claxon, o detetive particular que encarnou na RTP, em 1991.

António Cordeiro tinha 61 anos e desde 2017 que lutava contra uma doença rara e neurodegenerativa — Paralisia Supranuclear Progressiva —, que ao longo dos anos o emagreceu e incapacitou, tolhendo-lhe fala e movimentos, e o deixou praticamente irreconhecível.

A viver na Casa do Artista desde março de 2020, o ator tinha sido internado esta sexta-feira no Hospital de Santa Maria, onde acabaria por morrer cerca das 17h30 deste sábado, confirmou fonte hospitalar ao Observador.

No Facebook, a atriz Isabel Medina foi a primeira a homenagear o amigo, com uma publicação onde enaltece o “amor e dedicação” de Helena, a mulher de António Cordeiro, que no ano passado chegou a ser atacada nas redes sociais por ter decidido internar o marido — mas foi prontamente defendida por amigos e colegas, como José Raposo.

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“A Lena dedicou-se de corpo e alma ao amor da sua vida, e eu mais os amigos próximos do casal somos testemunhas! Ela passou a ser os braços, as pernas, o corpo do António! Só assim poderia o António ficar em casa, pois as 24 horas do dia eram passadas a ir (a Lena tirou a carta por isto) a fisioterapeutas, médicos, hospitais, e em casa todas as ações do dia a dia, sendo que para andar, ela tinha de conduzi-lo agarrando-o por trás! E mesmo assim o António caía algumas vezes por dia, pois o desequilíbrio é sintoma maior da doença, e ele pesava mais que ela, óbvio! Ora, recentemente, com o agravar da situação (o António já não andava nem falava), a Lena viu-se obrigada a internar o marido na Casa do Artista, instituição de grande mérito como se sabe”, explicou o ator no Instagram, há cerca de nove meses.

Querido António Cordeiro. Descansa na Luz e em Paz. Obrigada por teres cruzado o meu caminho e até sempre. Querida,…

Posted by Isabel Medina on Saturday, January 30, 2021

No início da pandemia, o ator esteve hospitalizado durante 14 dias, com uma pneumonia bacteriana. Apesar do prognóstico reservado, sobreviveu e regressou a Carnide, à Casa do Artista, onde partilhava quarto com o colega António Évora. “Disseram-me várias vezes que o António não ia sobreviver. Inclusive, disseram-me que, se houvesse uma paragem cardiorrespiratória, não o reanimariam devido à doença dele”, revelaria mais tarde a mulher em entrevista à TV 7 Dias. De acordo com o médico que o acompanhava, a esperança de média de vida para doentes com Paralisia Supranuclear Progressiva é de cerca de 9 anos.

O também ator Luís Aleluia partilhou entretanto uma fotografia do ator, rodeado por colegas de profissão. “O melhor da Vida são as lembranças que fica e são como velas que alumiam o escuro da ausência. Descansa em Paz”, escreveu.

O melhor da Vida são as lembranças que ficam e são como velas que alumiam o escuro da ausência. Descansa em Paz. ???? ????

Posted by Luís Aleluia on Saturday, January 30, 2021

Nascido a 18 de maio de 1959 em Pias, no concelho de Serpa, António Cordeiro mudou-se para o Barreiro com 7 anos. Foi ali que, no Grupo de Teatro “A Tribuna”, no Clube 31 de Janeiro, começou a representar. Nunca mais fez outra coisa: para além de ter dado vida a Claxon, participou em clássicos da televisão portuguesa como Duarte e Companhia, Herman Enciclopédia, As Lições do Tonecas e Major Alvega, onde deu vida ao inesquecível Coronel Von Block.