Marques Mendes não poupou nas críticas ao Governo no seu comentário deste domingo na SIC, sendo que a Marta Temido acabou por ser o principal alvo. Aludindo ao comentário da ministra da Saúde em entrevista à RTP sobre as críticas que têm sido feitas ao Governo por não ter planeado a segunda vaga da pandemia depois do verão (“Mas como é que não houve planeamento? Desculpe, mas isso é criminoso”, disse Temido), o ex-presidente do PSD disse compreender que a governante está “sobre grande pressão” mas não deixou de ser taxativo: “É um sintoma de arrogância. São afirmações que, em vez de unir e de criar coesão, dividem mais as pessoas. A Ministra da Saúde não pode chamar criminosos aos que a criticam. O melhor é resguardar-se. É estar no gabinete a tomar decisões. Não é dar entrevistas”, disse Mendes.

Mais: o comentador disse mesmo que a ministra da Saúde “está em negação. A negar as falhas, descoordenações, insuficiências”, o que é grave visto que, no seu entender, “o que mais irrita as pessoas é a fuga à verdade.”

Eduardo Cabrita também ficou com as ‘orelhas a arder’. A propósito da intervenção do ministro da Administração Interna no debate parlamentar sobre a renovação do Estado de Emergência, Marques Mendes disse que Cabrita “foi para o Parlamento fazer um comício aos gritos. A autoridade é serena. E quando não é serena não é autoridade.” “Ser-se governo nesta fase não é fácil. Mas os governantes também não ajudam”, concluiu.

Discordando da tese do Governo de que a situação atual se explica pela surpresa da estirpe inglesa, Marques Mendes diz que os “erros continuam. Não aprendemos nada”.

Além de criticar as faltas de planeamento que levaram às filas de ambulâncias em frente aos hospitais e a vacinação dos órgãos de soberanias (“uma coisa é uma excepção para 20 ou 30 pessoas. Passou-se do 8 para o 80.”, diz), Mendes diz ainda que o abuso e os desvios de vacinas nos lares e na administração pública “devia ser crime. Se o Governo entende que a lei criminal já prevê esta situação, então o Ministério Público devia abrir já investigações para isto ter um efeito dissuasor. Se isto não é crime, então o Ministério Público deve propor ao Governo uma alteração da lei. Isto é o ‘chico-espertismo’ a funcionar. O Governo devia ter mão pesada neste tema”, afirmou.

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Sobre o futuro, o comentador da SIC cita os especialistas para afirmar que “pico de infeções dar-se-á na próxima semana; já há sinais ténues de desaceleração do crescimento de infeções. O pico na região norte e na região centro já terá mesmo ocorrido. Todo o processo de melhoria é lento e gradual. Temos de ter paciência e de aguardar serenamente pelo achatar da curva”, concluiu.

“Governo vai enviar doentes para a Áustria e Luxemburgo”

Marques Mendes abordou também o auxílio que diversos países da União Europeia já manifestaram para ajudarem Portugal a combater a crise pandémica. “Ao que apurei, a Áustria e o Luxemburgo manifestaram disponibilidade para receber alguns doentes portugueses e o Governo vai, em princípio, aceitar essa disponibilidade. Há ainda contactos com a Hungria que ainda não foram concretizados. Vão ser também enviados mais doentes para a Madeira”, diz

“Atenção: tudo isto é simbólico. O ‘grosso da coluna’ vai estar em Portugal. O combate faz-se cá dentro”, disse.

“Se Passos Coelho regressar, será em janeiro de 2022”

Marques Mendes analisou ainda o rescaldo das eleições presidenciais. Explicando que Marcelo Rebelo de Sousa ficou “reforçadíssimo” com o resultado das eleições do último domingo, acrescentou que o Presidente da República “vai ter o mandato mais difícil que algum Presidente já teve até hoje” devido à crise pandémica em vigor e à crise económica e social que se prolongará depois do problema de saúde pública estar resolvido e a um “risco de ingovernabilidade”

Apesar das dificuldades, Marques Mendes está certo de que Marcelo não vai “substituir-se aos partidos, quer a governar, quer a fazer oposição”, nem “contará com um governo de Bloco Central. A não ser que PS e PSD quisessem estender uma “passadeira vermelha” aos extremos, neste caso ao Chega e ao BE.”

Além de considerar que André Ventura foi o “o vencedor das presidenciais no plano partidário” e de o CDS e PSD saírem “enfraquecidos com a ascensão meteórica do Chega”. Marques Mendes elogiou o desafio feito por Adolfo Mesquita Nunes (“um dos políticos mais competentes que eu conheço”) à liderança de Francisco Rodrigues dos Santos e defendeu a realização de um Congresso Extraordinário para uma clarificação política.

Marques Mendes analisou ainda outra possível clarificação que poderá ocorrer no partido que é agora liderado por Rui Rio e falou ainda sobre o possível regresso de Pedro Passos Coelho.

“No PSD, a clarificação só se vai dar daqui a um ano, em Janeiro de 2022, nas directas de então. E essa clarificação pode depender de dois factores:

  • do resultado que o PSD tiver nas autárquicas de Setembro deste ano.
  • e do eventual regresso de Passos Coelho à liderança do PSD. Se Passos Coelho decidir regressar à liderança do PSD, não será nem antes nem depois de Janeiro de 2022. Será precisamente daqui a um ano. E aí pode haver um confronto entre Rui Rio e Passos Coelho. É um cenário possível”, afirmou.