A agência de notação financeira Standard & Poor’s disse esta segunda-feira que os eventos climáticos extremos em Moçambique vão adiar a recuperação económica e aumentam os riscos sobre a perspetiva de evolução a longo prazo.

“Os eventos climático extremos e recorrentes vão provavelmente adiar a recuperação económica em Moçambique e exacerbar os riscos das perspetivas de crescimento a longo prazo”, lê-se num comentário enviado à Lusa, no qual se escreve que a S&P antevê um crescimento de 1% em 2020 e 5,5% este ano no país.

Os riscos climáticos e os efeitos da pandemia de Covid-19 enfraqueceram o desempenho económico nos últimos dois anos; os efeitos da pandemia e o ciclone Eloise, bem como a intensificação da insurgência na província de Cabo Delgado vão potencialmente enfraquecer a recuperação económica este ano e atrasar o desenvolvimento dos projetos de gás natural”, escrevem os analistas desta agência de ‘rating’.

“A nossa visão sobre o perfil financeiro, institucional e económico de Moçambique reflete a influência adversa de fatores ambientais, sociais e de governação“, apontam os analistas, especificando que “dos desastres naturais às ameaças de segurança no norte, que colocam riscos à coesão social e à estabilidade macroeconómica, elevado endividamento, e baixo nível de desenvolvimento, tudo isto são constrangimentos de longo prazo à qualidade do crédito”.

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Em 2019, Moçambique foi afetado por dois ciclones, Idai e Kenneth, “o maior ciclone de sempre registado em África”, segundo a S&P, que coloca o impacto financeiro em 3,2 mil milhões de dólares (2,6 mil milhões de euros), citando números do Banco Mundial, e lembra as 2,5 milhões de pessoas afetadas.

Isto é significativo num país com baixos níveis de riqueza e penetração muito baixa do ramo segurador, de apenas 1,5% do PIB”, apontam os analistas.

As observações da S&P surgem dias depois de o Índice de Risco Climático Global, elaborado pela organização não-governamental (ONG) GermanWatch, ter colocado Moçambique em primeiro lugar na lista dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, depois de ter sido afetado em 2019 (último ano analisado) por dois dos maiores ciclones que já se abateram sobre o país (Idai e Kenneth), que fizeram cerca de 700 mortos.

Depois disso, outras tempestades atingiram o país, incluindo o ciclone Eloise, no final de janeiro, provocando, pelo menos, nove mortos e 290.000 pessoas afetadas, entre as quais 18.000 desalojados.