Como um mal nunca vem só, um Benfica que sentiu em determinados momentos chave do dérbi a ausência do seu líder Jorge Jesus no banco testou um novo esquema tático que desvirtuou a ideia de jogo sobretudo do meio-campo para a frente mas ficou sem um dos três centrais logo aos nove minutos, quando Jardel sentiu um esticão na coxa num sprint com Nuno Santos na esquerda e teve mesmo de dar lugar a Gabriel (porque como um mal nunca vem só, os dois outros centrais que havia, Ferro e Todibo, saíram no final do mercado e o novo reforço, Lucas Veríssimo, chega apenas esta quarta-feira). Weigl recuou e cumpriu bem uma função que não era a sua, Gabriel foi importante no meio-campo mas aquilo que o alemão poderia dar à frente da defesa ficou arrumado na gaveta das ideias para os próximos jogos. E, nos descontos, chegou mesmo o golo que valeu a derrota.

A palavra de São Matheus é tudo menos milagre (a crónica do Sporting-Benfica)

Há nove anos que o Benfica não perdia em Alvalade, desde que Ricky van Wolfswinkel marcou o único golo do Sporting de Sá Pinto que derrotou a formação encarnada de Jorge Jesus, que perderia esse título em 2011/12. E, com isso, voltou à estaca zero numa estatística onde passara para a frente com mais uma vitória do que os leões nos dérbis para o Campeonato em Alvalade (33-32) após o bis de Rafa na última temporada. Todavia, esses números acabaram por ser os menos relevantes no final da noite em que os encarnados somaram apenas o terceiro jogo da temporada sem golos, que coincidiu com outras tantas derrotas com Boavista, FC Porto (Supertaça) e Sporting.

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A uma jornada do final da primeira volta, o Benfica passou a estar a nove pontos da liderança, sendo apanhado na terceira posição pelo Sp. Braga depois da goleada dos minhotos frente ao Moreirense (4-0). Numa perspetiva mais geral, há 13 anos que os encarnados não estavam a nove ou mais pontos do primeiro lugar no Campeonato à 16.ª ronda, algo que aconteceu apenas nove vezes na sua história, a primeira das quais em 1996/97 e que acontecera pela última vez em 2007/08, num período que coincidiu com o menor número de títulos dos encarnados. Olhando apenas para a diferença em relação a um Sporting que ocupasse o topo da competição, é preciso recuar 70 anos para se encontrar uma época com uma diferença tão grande das águias para os leões.

Mais do que isso, a equipa que seria montada para jogar “o triplo” (uma expressão de Jorge Jesus na apresentação oficial após o regresso à Luz, explicada mais tarde pelo técnico argumentando que se não colocasse a equipa a jogar o dobro ou o triplo seria muito complicado ganhar aos seus adversários) vê-se agora obrigada a inverter um registo na história que nunca aconteceu: recuperar de uma desvantagem de nove pontos e conseguir ser campeão.

“Não atiramos a toalha ao chão, nem agora nem nunca porque é possível continuar a lutar e vamos continuar a lutar para sermos campeões nacionais. É isso que queremos e é isso que vamos continuar a fazer”, destacou na conferência de imprensa João de Deus, adjunto de Jorge Jesus que voltou a ocupar o lugar de técnico principal no banco sofrendo o primeiro desaire nessa condição. “Estamos a fazer a época que estamos a fazer. É no fim que se fazem as contas e aí falamos. Não esperávamos ter um atraso de nove pontos mas a realidade é que estamos e é com esta realidade que temos que conviver e ultrapassar. Ausência de Jesus? Sentiu-se a falta física que o mister faz porque todo o trabalho que fizemos de preparação, tudo foi estruturado por ele. Não estando presente, é tudo diferente. Não temos o nosso líder connosco neste momento”, acrescentou.

“Temos um líder com grande poder sobre o grupo”. João de Deus não “atira a toalha ao chão” mas assume que Jesus, “o chefe”, faz falta

“Mensagem para os adeptos acreditarem? Continuamos em algumas frentes e essas frentes são para ganhar. Temos competições para vencer e vamos lutar por elas, ponto final. Ninguém aqui vai deitar a toalha ao chão, nem agora nem em momento algum”, concluiu João de Deus no final da conferência, num tom mais duro para alguém conhecido no futebol por ser uma pessoa ponderada e serena no trabalho e nas aparições públicas.