O presidente da Câmara do Sal, a principal ilha turística cabo-verdiana, admite que 2020 foi “de terror”, após meses sem turismo, período que foi aproveitado para preparar a retoma, esperando “uma enchente” de turistas a curto prazo.

Em entrevista à Lusa, na sede da autarquia, em Espargos, Júlio Lopes assegura que nos contactos com os maiores operadores turísticos na ilha, que garantem milhares de camas, como os grupos TUI e RIU, todos se mostram “interessados” e prontos para a “reabertura” do Sal ao turismo, depois da pandemia de Covid-19.

“E Cabo Verde, eles sabem, não é um problema. Temos já todas as condições e Cabo Verde é seguro para os turistas”, afirma, referindo-se desde logo aos investimentos em equipamentos de saúde, construídos nos últimos meses e certificados internacionalmente para tratar doentes Covid-19.

A retoma turística, recorda, só não acontece porque os países emissores de turistas para o Sal – praticamente metade dos 819 mil turistas que Cabo Verde recebeu em 2019 – continuam a tentar debelar a pandemia. Porque, garante Júlio Lopes sobre os contactos recebidos, interesse não falta.

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“As pessoas querem vir. Neste momento, se as fronteiras fossem abertas, se as viagens fossem livres, de certeza que o Sal estaria cheio de turistas. Os portugueses viriam, os ingleses viriam, os alemães, etc…”, afirma.

De formação dos trabalhadores à aplicação em hotéis, restaurantes e bares de regras de proteção sanitária e de higienização, a preparação é agora visível em toda a ilha.

E é por isso que o autarca, reeleito em outubro, não tem falta de confiança no regresso dos turistas, como acontecia antes, a partir deste ano: “Assim que aquela tampinha na Europa se levantar, penso que vamos ter aqui uma enchente de visitantes, o que vai ser bom para a retoma da economia”.

Numa ilha com 35.000 habitantes e cerca de oito mil pessoas dependentes diretamente do turismo, praticamente inexistente nos últimos dez meses, Júlio Lopes admite que a autarquia foi chamada a um papel de apoio social nunca antes prestado.

“Há pessoas que têm dificuldades, que estão sem trabalho, por isso temos de dar apoio”, assume, recordando que a câmara chegou a apoiar, com alimentos, 16.000 famílias, numa ação conjunta com o Governo, empresas e particulares.

“Foi um sinal de grande solidariedade aqui no Sal. E ainda estamos a apoiar, porque a situação ainda está difícil”, conta.

Apesar do drama numa ilha que aprendeu nos últimos 20 anos a viver só para o turista, o autarca garante que essa aposta é para manter e que a ilha “está pronta” para os receber.

“Vão encontrar um espaço seguro, aqui temos todas as condições. É só o problema da Covid-19 passar, que vamos ter uma enchente aqui no Sal”, garante.

Além de voos de operadores privados, o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, no Sal, o principal de Cabo Verde e que antes da pandemia movimentava anualmente mais de um milhão de viajantes, começou em dezembro a retomar as ligações aéreas regulares, através da portuguesa SATA, depois da suspensão total dos voos internacionais em 19 de março – em todo o país -, para conter a transmissão da pandemia de Covid-19.

Para a retoma do turismo, que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e que representa direta ou indiretamente o emprego em toda a ilha do Sal, o Governo afirmou anteriormente que Cabo Verde está “em condições e preparado”, após a conclusão da auditoria ao setor da saúde e da certificação de 500 estabelecimentos turísticos.

Foi concluída “com sucesso” a primeira fase da implementação das diretrizes Posi-Check, para instalações médicas regionais, tendo sido certificados e aprovados os centros e unidades de cuidados intensivos de Covid-19 no Hotel Sabura e no Hospital Ramiro Figueira, ambos na ilha do Sal.

Igualmente certificados por esta auditoria internacional, conduzida pela consultora Intertek Cristal, foram o novo centro de Saúde de Santa Maria (Sal) e da Clínica de Boa Esperança e delegacia de Saúde, ambas na Boa Vista, sendo estas as duas principais ilhas turísticas de Cabo Verde.