Na região de Lisboa, na última semana, “houve sinais evidentes de rutura do sistema, de incapacidade efetiva do sistema se adaptar à velocidade de aumento da expressão da pandemia”. Quem o reconhece é o diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital Santa Maria, João Ferreira Ribeiro, em entrevista à Antena 1.

João Ferreira Ribeiro deixou ainda o alerta, em conversa com a rádio pública: a capacidade dos hospitais de mobilizar mais meios humanos — isto é, médicos e profissionais de saúde — está “parcialmente esgotada” e “as instituições têm um limite efetivo de resposta e isso pode gerar situações de grande dificuldade ou até impossibilidade de resposta em modelo desejável do ponto de vista médico”.

Na entrevista dada à Antena 1, o diretor do serviço de Medicina Intensiva do Santa Maria notou que os profissionais de saúde à disposição estão já com “períodos de presença efetiva no hospital duas a três vezes mais do o habitual em funcionamento regular”. Os meios humanos à disposição estão no limite das capacidades e no Centro Hospitalar Lisboa Norte — que integra o Hospital Santa Maria e o Hospital Pulido Valente — “na área da medicina intensiva e mesmo na área da anestesiologia deparamo-nos com situação de carência de recursos“. E isso, acrescentou João Ferreira Ribeiro, “condiciona-nos naquilo que é a nossa capacidade efetiva de arquitetar a resposta a esta pandemia, nomeadamente ao volume que acarreta e impõe sobre a instituição”.

Se lhe dissesse que os recursos são suficientes, penso que estava a ser um pouco depreciativo para os profissionais que trabalham neste momento na medicina intensiva. Não é isso que se sente no dia-a-dia”, apontou ainda.

O responsável deu ainda conta de que haverá um alargamento de mais dez camas para cuidados intensivos nos próximos dias: “Neste momento temos 58 doentes internados em UCI aqui no Centro Hospitalar Lisboa Norte. Nos próximos dias, a começar já hoje, vamos ter capacidade para internar dez doentes adicionalmente, fazendo um total de 68 camas dedicadas exclusivamente às unidades de internamento [intensivo] à Covid-19”.

Para acrescentar mais dez camas de UCI no Centro Hospitalar Lisboa Norte, foi preciso delinear uma “intervenção técnica para reconversão dos espaços” e também “mobilização adicional de profissionais”. Esta mobilização passa por um lado pelo reforço das horas dos profissionais de saúde — “há já uma duplicação ou triplicação do número de horas semanais que os profissionais dedicam à atividade clínica” — e por outro pela “mobilização de recursos humanos de outras áreas disciplinares que têm de ser integrados nos serviços de medicina intensiva”.

Notando ainda que “estamos a viver nesta fase o momento mais dramático a nível nacional”, João Ferreira Ribeiro elogiou o “sinal de solidariedade” revelada por outros países europeus para ceder profissionais de saúde a Portugal mas notou que “a integração de recursos humanos de outros países nas nossas equipas pode ser extraordinariamente difícil por variadas razões, logo à partida pela expressão linguística”.  O diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Santa Maria avançou ainda que a média de idades dos doentes internados em UCI na sua unidade ronda os 60 anos — “considero-a muito baixa” — e que “não estamos a falar de formas relativamente graves ou de gravidade intermédia de doença, mas de situações de grande impacto fisiológico e físico, de pessoas dependentes de suporte ventilatório”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR