O Produto Interno Bruto (PIB) português caiu 7,6% em 2020 – menos do que o esperado pelo Governo – penalizado pela quebra do consumo e do turismo nos meses da pandemia. A estimativa rápida do INE divulgada esta terça-feira – que confirma a maior queda do PIB desde pelo menos 1961 (de acordo com as séries estatísticas longas) – indica que a economia portuguesa contraiu 5,9% no quarto trimestre em termos homólogos (mas apresentou um crescimento de 0,4% face aos três meses anteriores).

“No conjunto do ano 2020, o PIB registou uma contração de 7,6% em volume (crescimento de 2,2% em 2019), a mais intensa da atual série de Contas Nacionais, refletindo os efeitos marcadamente adversos da pandemia covid-19 na atividade económica”, destaca a nota divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Sobre o quarto trimestre, o INE diz que “o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB foi menos negativo que o observado no 3º trimestre”. Ou seja a compra de bens e serviços por parte dos portugueses (bens de consumo pelas famílias, e pelo Estado, e a compra de bens de investimento pelas famílias, pelo Estado e pelas empresas) ao longo deste período teve menos impacto no PIB do que nos meses do Verão. Isto deveu-se, em larga medida, à “diminuição menos intensa do investimento”, apesar “da redução mais pronunciada do consumo privado”.

Por outro lado, a procura externa líquida (exportações de bens e serviços menos as importações) apresentou “um contributo mais negativo no 4º trimestre”. E aqui, a contração das exportações foi mais intensa do que a observada nas importações.

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“Comparativamente com o 3º trimestre de 2020, o PIB aumentou 0,4% em volume, após as fortes variações de sinal oposto nos trimestres anteriores (-13,9% e +13,3% no segundo e terceiro trimestres, respetivamente)”, nota o INE. Os contributos da procura interna e da procura externa líquida para a variação em cadeia do PIB foram ambos positivos.

Em suma, o INE diz que o consumo “apresentou um expressivo contributo negativo para a variação anual do PIB, após ter sido positivo em 2019, devido, sobretudo, à contração do consumo privado”. O contributo da procura externa líquida foi mais negativo em 2020, verificando-se “reduções intensas das exportações e importações de bens e de serviços”, com destaque particular para “a diminuição sem precedente das exportações de turismo”.

O Governo apontava para uma contração económica de 8,5%, ao passo que a Comissão Europeia e o Conselho das Finanças Públicas esperavam uma queda de 9,3% do PIB, estando o Fundo Monetário Internacional mais pessimista (-10,0%). Mais otimistas estavam o Banco de Portugal (BdP) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que apontaram para uma queda do PIB de 8,1% e 8,4%, respetivamente.

A queda de 7,6% no PIB em 2020 é a maior desde, pelo menos, 1961, de acordo com as séries estatísticas do INE. As maiores quebras da economia antes desta tinham sido em 1975 (-5,1%); nos anos da crise financeira (-4% em 2012, -1,7% em 2011 e -3,1% em 2009); e em 1984 (-1%).

Siza destaca comportamento no quarto trimestre melhor do que o esperado

O ministro da Economia disse esta terça-feira que a queda de 7,6% do PIB em 2020 foi “muito menos” drástica do que o antecipado, o que dá confiança para este ano, apesar das “grandes dificuldades” esperadas.

“No conjunto do ano tivemos uma quebra muito significativa de 7,6% relativamente ao ano de 2019, mas, ainda assim, muito menos drástico do que aquilo que todas as instituições iam antecipando e mesmo do que as próprias projeções do Governo”, disse o ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, em reação aos dados  divulgados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Estes dados dão conta de uma contração de 7,6% do Produto Interno Bruto (PIB) português em 2020, após uma contração de 5,9% no quarto trimestre.

“No início de 2021, um ano que se apresenta, ao mesmo tempo, como um ano de esperança relativamente ao nosso crescimento, mas também de grandes dificuldades inerentes ao crescimento desta terceira vaga da pandemia, estes dados acalentam a nossa confiança e permitem-nos continuar a apelar à mobilização das empresas, dos trabalhadores, no sentido de assegurarmos que atravessamos da melhor maneira possível este período tão difícil”, acrescentou o governante.

Relativamente ao desempenho da economia no último trimestre de 2020, os dados do INE dão conta de um crescimento de 0,4%, “o melhor dos desempenhos de toda a zona euro, relativamente aos países que já são conhecidos”, destacou Siza Vieira.

“Aquilo que explica o comportamento da economia neste último trimestre foi precisamente o melhor comportamento do investimento e da procura externa líquida”, apontou, sublinhando que as empresas portuguesas “continuam a mostrar competitividade externa e uma capacidade de continuar a investir, apesar das dificuldades” que a pandemia tem levantado.

O ministro da Economia referiu ainda que os dados conhecidos esta terça-feira são “consistentes” com os dados do emprego, divulgados na semana passada, e, disse, “mostram que as medidas de apoio à economia e ao emprego foram funcionando até ao momento”.

O Ministério das Finanças também já reagiu aos valores avançados pelo INE, destacando que o segundo semestre de 2020 correu “melhor do que o anteriormente antecipado”.

“A atividade económica teve um comportamento melhor do que o anteriormente antecipado no segundo semestre do ano, com um crescimento de 5,1% face ao primeiro semestre”, assinalam as Finanças num comunicado enviado às redações para comentar a queda do PIB.

No documento, o gabinete do ministro João Leão destaca também que, “apesar da queda acentuada do PIB, a evolução reflete uma melhoria face à previsão apresentada pelo Governo no Orçamento do Estado para 2021 (8,5%)”.