Não podemos, a partir de um fruto podre, diminuir uma operação de grande sucesso“, defende António Costa sobre o plano de vacinação e as polémicas que se têm sucedido relativamente a doses administradas de forma indevida.

Em declarações aos jornalistas, à saída de uma visita ao hospital prisional de Caxias, o primeiro-ministro lembrou que está agora em marcha a segunda fase do processo de vacinação, depois de concluída na semana passada a administração da primeira dose a todos os profissionais de Saúde envolvidos na prestação de cuidados a doentes, bem como dos profissionais e utentes da rede de cuidados continuados integrados.

Temos estado a cumprir os prazos”, garante o primeiro-ministro, apesar dos múltiplos pedidos de vários partidos para que acelere o processo de vacinação.

Em relação ao “fruto podre” — vários casos em que doses que sobraram foram aplicadas em pessoas que não cumpriam os critérios de prioridade — António Costa entende que “não importa se são 10 ou 50“, porque, “se não cumprem a ordem devida, é algo que é grave e que exige punição“. Por essa razão, “foi dada participação ao Ministério Público dos casos que são conhecidos”, acrescentou Costa.

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António Costa garante que a saída de Francisco Ramos como coordenador da equipa que gere o processo de vacinação, “nada teve que ver com o trabalho da task force, mas com uma ocorrência no Hospital da Cruz Vermelha” — a razão que tinha sido já apontada por Francisco Ramos.

Em substituição de Francisco Ramos, o vice-almirante Gouveia e Melo, que já era membro dessa equipa “e responsável por toda a logística da operação”, assume as rédeas da equipa. António Costa aproveitou, por isso, para sublinhar que “a colaboração das Forças Armadas tem sido essencial” para o processo de vacinação, lembrando que “têm estado profundamente envolvidas” desde o início.

“Aquilo que parece fácil, haver enfermeiros, haver seringas, haver as vacinas,” desta vez “requer uma logística particularmente complexa, e muito intensa no tempo e com uma escala nunca vista”, diz Costa.

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Questionado ainda sobre os pedidos que têm sido feitos, nomeadamente à esquerda do PS, para que Portugal tente comprar vacinas à margem da UE, o primeiro-ministro responde que “é preciso uma grande ingenuidade para pensar que um país isolado, ainda que fosse um grande país, teria melhores condições do que a Comissão Europeia para negociar” com as farmacêuticas.

“Importante era evitarmos uma guerra entre nós por disputa das vacinas — que foi evitada graças a uma compra conjunta por parte da UE”, entende o primeiro-ministro. “Se acrescentássemos à competição internacional que existe, uma competição entre os 27 estados-membros, certamente agravaríamos o problema”, atirou Costa. “Não creio que seja um campeonato que Portugal queira disputar”.

E quando é que Portugal vai conseguir a imunidade de grupo? António Costa reiterou que “se não houver atrasos na produção, atrasos na entrega ou incidentes“, serão atingidos os 70% de imunidade comunitária no final do verão. “É isso que está previsto”.

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Relativamente às declarações de Rui Rio, que disse ter recebido informação de que há pessoas que não estão a receber a segunda dose no prazo previsto, o primeiro-ministro respondeu apenas que se o líder do PSD tem esse conhecimento, “deve avisar as autoridades”.

O primeiro-ministro acrescentou ainda que falou esta semana com o presidente da AstraZeneca — a farmacêutica que, há uma semana, viu aprovada a vacina que desenvolveu com a Universidade de Oxford. António Costa diz ter recebido indicação “do esforço e da disponibilidade para recuperar os atrasos que têm na produção, aumentar a sua produção e assegurarem a disponibilização da vacina”.

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