O embaixador germânico em Lisboa, Martin Ney, considerou esta quarta-feira que a ajuda alemã à crise sanitária em Portugal “é do interesse da própria Alemanha”, na medida em que só em conjunto se pode ultrapassar a crise de Covid-19.

Numa entrevista à Lusa, Martin Ney salientou a importância da solidariedade entre os países europeus a propósito da chegada, esta quarta-feira, a Lisboa, de 26 profissionais de saúde militares alemães na ajuda ao combate à pandemia de Covid-19 em Portugal.

“Enviámos o que, segundo as autoridades portuguesas pediram, era o mais urgente. Pessoal médico (oito) e de enfermagem (18)”, referiu Martin Ney, salientando também a disponibilidade do Governo alemão para enviar camas hospitalares se tal for solicitado.

Estamos prontos para fornecer camas de hospital. Discuti isso, de forma breve, com o ministro [da Defesa português) João Cravinho e com a ministra (da Saúde portuguesa) Marta Temido. Esta quarta-feira, se for pedido, estamos preparados para fornecer camas hospitalares. Mas cabe ao Governo português ver o que é necessário ou não”, acrescentou o diplomata germânico.

Martin Ney afirmou ser “impossível” prever para quando poderão ser reabertas as fronteiras na Europa, em geral, e entre a Alemanha e Portugal, em particular.

“Gostaria de avançar com uma previsão que tenha em conta a realidade. A verdade é que ninguém o pode prever. Ninguém quer fechar fronteiras, é uma medida de último recurso. Mas há uma perceção global na Europa de que as fronteiras devem estar abertas. No entanto, tudo passa pelos números”, afirmou.

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“A Alemanha acredita que, assim que Portugal estiver pronto para retomar os voos, o fluxo de turistas e de pessoas será retomado. Mas ninguém pode prever agora quando isso pode acontecer”, insistiu.

Sobre a situação na Alemanha, Martin Ney reconheceu que há uma lenta descida do número de casos.

“Está ligeiramente melhor do que em Portugal, onde os números são dramaticamente mais elevados. É por isso que estamos agora a ajudar no máximo que podemos”, afirmou o diplomata alemão, realçando que Berlim também já prestou apoio a França e Itália.

“Na Alemanha, nunca pensamos que iríamos ser tão pesadamente afetados com uma segunda vaga e, em parte, a razão deve-se às mutações do vírus, não só a do Reino Unido, como também a da África do Sul e a do Brasil, que tornou incerta a forma como poderíamos lidar com a situação”, explicou.

Para Martin Ney, “outro elemento de incerteza” foi a cooperação com a população alemã, “que está já a ficar cansada de confinamentos”.

Martin Ney lembrou que Portugal foi um “modelo” na forma como lidou com a pandemia na primeira vaga, mas que a “explosão de casos a seguir ao Natal” foi igualmente agravada pelo facto de Lisboa ser um hub entre o Brasil e a Europa e com relações próximas com África e ainda com o Reino Unido.

“Por isso, [Portugal] foi também altamente afetado pelas mutações. Isso torna difícil prever como Portugal pode lidar com os números. Aliás, é do nosso interesse ajudar Portugal. Porque na Europa, ou regressamos todos juntos à nossa vida normal ou não voltamos“, sublinhou.

Salientando que “todos estão preocupados” com os desenvolvimentos da pandemia, Martin Ney destacou que a Alemanha, que presidiu à União Europeia (UE) no segundo semestre de 2020, entregando-a a 1 de janeiro deste ano a Portugal, tem a perceção de que a solidariedade entre os Estados membros tem sido “imensa”.

A Presidência alemã esteve entre os primeiros que, em 2020, percecionaram que a pandemia do novo coronavírus iria alterar toda a agenda. Conseguimos, creio, garantir a sobrevivência da UE concretizando um pacote [financeiro] de segurança, não apenas para o funcionamento da UE, mas também para combater os efeitos económicos da crise de Covid-19″, realçou.

“Da nossa experiência na Presidência, sim, houve muita solidariedade e também a ideia, de senso comum, de que só juntos poderemos combater o vírus e ultrapassar as consequências económicas e sociais da crise. Estou certo que a Presidência portuguesa da UE, que apoiamos totalmente, irá dar um seguimento eficiente ao programa”, disse.

O avião que transportou a equipa médica alemã aterrou em Lisboa às 14h10, no aeroporto de Figo Maduro, e foi recebida pelos ministros portugueses da Defesa, João Gomes Cravinho, e da Saúde, Marta Temido, que agradeceram a disponibilidade de Berlim.

O Hospital da Luz (Lisboa) irá receberá a equipa germânica, que trouxe também 40 ventiladores móveis e 10 estacionários e 150 bombas de infusão.

Os profissionais de saúde alemães permanecerão no país durante um período de três semanas, estando prevista a sua substituição a cada 21 dias, até ao final de março, caso seja necessário.

Em Portugal, morreram 13.257 pessoas dos 740.944 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.