A Universidade de Oxford está a recrutar voluntários para testar a eficácia da toma combinada de vacinas contra a Covid-19: primeiro uma dose da vacina produzida pela Pfizer, em colaboração com a BioNTech, num segundo momento uma injeção da vacina desenvolvida pela AstraZeneca, com a própria Universidade de Oxford — ou vice-versa.

O ensaio inédito, que pretende envolver 820 voluntários, avança o Guardian, vai ser financiado pela task force criada para fazer a gestão do processo de vacinação no Reino Unido e já foi descrito por vários ministros como “extremamente importante”, sobretudo tendo em conta as dificuldades que se têm experimentado nas últimas semanas, com a distribuição de vacinas a ficar aquém do contratualizado em algumas partes do mundo, União Europeia incluída.

O objetivo dos cientistas é perceber se a toma combinada de duas vacinas diferentes é menos ou até mais eficaz do que a toma convencional de cada um dos compostos. Ou se não faz qualquer diferença. Para já, todas as hipóteses estão em cima da mesa — incluindo aquela que postula que a toma de duas vacinas pode maximizar a proteção contra as variantes mais contagiosas que surgiram no Reino Unido, África do Sul e Brasil e que entretanto se espalharam pelo resto do mundo. Estudos feitos em ratos tiveram resultados promissores, com a resposta imunitária dos animais a aumentar com as duas vacinas.

Universidade de Oxford e AstraZeneca esperam ter novas versões da vacina no outono

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“Se mostrarmos que estas vacinas podem ser utilizadas de forma intercambiável cumprindo os mesmos tempos de toma, a flexibilidade nas entregas de vacinas vai aumentar muito e também podemos descobrir pistas sobre como aumentar a amplitude da proteção contra novas estirpes do vírus”, explicou em conferência de imprensa Matthew Snape, professor associado de pediatria e vacinologia na Universidade de Oxford, e o principal responsável pelo ensaio.

Os voluntários, que vão ser recrutados através do site do NHS, o serviço nacional de saúde britânico, têm de ter mais de 50 anos e nunca podem ter sido inoculados com qualquer vacina anti-Covid-19.

O estudo, financiado com sete milhões de libras (oito milhões de euros), vai ser conduzido pelo Consórcio Nacional de Avaliação do Calendário de Imunização (NISEC) em oito hospitais ingleses com o apoio do Instituto Nacional de Investigação em Saúde (NIHR).

“Devido aos desafios inevitáveis de imunizar um grande número da população contra a Covid-19 e as potenciais restrições da oferta mundial, há vantagens em ter dados que poderiam apoiar um programa de imunização mais flexível, se for necessário e se for aprovado pelo regulador de medicamentos”, justificou esta quinta-feira o diretor-geral adjunto de Saúde de Inglaterra, Jonathan Van-Tam.

No início de janeiro, as autoridades de saúde britânicas desaconselharam a mistura de vacinas de fornecedores diferentes devido à falta de dados sobre as consequências, mas não excluíram mudar as recomendações no futuro.

Antes, em dezembro, a farmacêutica britânica AstraZeneca e o instituto de pesquisa russo Gamaleya, que desenvolveu a vacina Sputnik V, anunciaram a realização de ensaios clínicos para avaliar a segurança da utilização conjunta das duas vacinas que desenvolveram contra o novo coronavírus.

O anúncio deste novo estudo surge um dia após terem sido publicados os resultados de uma análise aos ensaios clínicos realizado pela Universidade de Oxford, a qual concluiu que a vacina desenvolvida em conjunto com a farmacêutica AstraZeneca reduz a transmissão do vírus em 67% após a primeira dose.

Os cientistas concluíram também que a vacina mostra uma eficácia de 76% contra infeções após a primeira dose da vacina, eficácia que se mantém por três meses, e que a eficácia aumenta para 82% após uma segunda dose tomada três meses depois.

O ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, disse que os dados “validam a estratégia” do Governo britânico, que decidiu adiar a administração da segunda dose de três semanas para até 12 semanas para assim chegar ao maior número de pessoas e tentar reduzir os casos de infeção e de hospitalização.

O Reino Unido ultrapassou na quarta-feira a marca de 10 milhões de pessoas vacinadas, mostrando estar em vias de cumprir o objetivo de vacinar cerca de 15 milhões de pessoas dos primeiros quatro grupos prioritários até 15 de fevereiro.