O presidente da Câmara de Viana do Castelo acusou esta quinta-feira um deputado municipal de ser um “elemento fortemente perturbador” da “resposta social integrada” que está a ser realizada junto de sem-abrigo, “prejudicando a sua rápida recuperação e reinserção”.

“Temos assistido a uma interferência abusiva e inexplicável de um cidadão que se chama Jorge Videira que tem sido um elemento perturbador da ação técnica, procurando criar imensas dificuldades aos técnicos na sua atuação e que tem feito um mau serviço”, afirmou José Maria Costa, referindo-se àquele deputado municipal eleito em 2017, como independente, com o apoio do Partido da Terra (MPT).

O autarca, que falava no período antes da ordem do dia da reunião camarária, a propósito da abertura, esta semana, de uma unidade temporária de pernoita com capacidade para acolher sete pessoas, quis deixar registada “uma nota protesto” contra “um cidadão, com a sua postura, tem demonstrado que está mais preocupado em aparecer e visualizar-se nas redes sociais pelas piores razões”.

“Explorando a fragilidade de algumas pessoas, até do ponto de vista mental, e perturbando o serviço técnico que tem de ser feito com resguardo”, disse.

No final da reunião camarária, em conferência de imprensa digital, questionado pela Lusa, José Maria Costa disse estar a ponderar apresentar uma queixa junto do Ministério Público e adiantou ter deixado “de falar com o deputado em questão por não merecer qualquer respeitabilidade”.

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“É claro que do ponto de vista institucional terei de lhe responder na Assembleia Municipal”, acrescentou.

Anteriormente, na intervenção no período antes da ordem do dia, José Maria Costa sublinhou a “intervenção permanente” das instituições envolvidas na resposta social, “através de diversas especialidades”, com vista “à rápida recuperação e reinserção” daquelas pessoas.

“Estamos continuamente a ser bombardeados, a ver o trabalho dos técnicos comprometido, devassando a privacidade das próprias pessoas no espaço de acolhimento, fotografando incessantemente, sem respeito pelo anonimato das pessoas”, reforçou.

O autarca acusou Jorge Videira de estar a “prestar um mau serviço”.

“Começo a achar que é um problema de outro foro. Há uma anormalidade nesta relação. Não se entende como se anda a fotografar a todo a hora e momento, a devassar o espaço das pessoas que têm direito à sua privacidade, mesmo sendo sem abrigo, para pôr nas redes sociais. Isto é inqualificável, lamentável”.

A vereadora da CDU, Cláudia Marinho, que é técnica do Gabinete de Atendimento à Família (GAF), instituição parceira da estrutura de pernoita criada para os sem-abrigo, corroborou da posição assumida pelo autarca.

“A situação de alguns sem-abrigo existe há alguns anos. O trabalho voluntário da sociedade civil é importante, mas há técnicos especializados para tratar estas problemáticas. O bullying mediático criado em torno deste caso não ajuda à sua resolução”, disse.

“Com a atual situação estes casos agravam-se. Podiamos ter feito como a avestruz, mas estas coisas têm de ser feitas com o devido tempo e como deve ser”, reforçou.

As sete vagas do novo espaço vão ser geridas pelo GAF, um dos parceiros do projeto que envolve ainda a Segurança Social, Centro de Respostas Integradas (CRI), e o Serviço de Atendimento e Apoio Social (SAAS).

A estrutura funcionará até ser disponibilizada uma definitiva que está a ser projetada e será candidatada a fundos comunitários.

Contactado pela Lusa, o deputado municipal Jorge Videira disse que as acusações do autarca “não têm cabimento nenhum” e que “terá de provar onde estão publicadas as fotografias que devassam a vida das pessoas”.

É inacreditável. É mentira que ande a publicar fotografias nas redes sociais. Tenho enviado ao presidente e-mails, ainda no último fim de semana enviei-lhe por whatsapp vídeos porque estou preocupado com estas pessoas. Como é que ando a perturbar. Foi através desta grande luta que tenho tido desde outubro que tento encontrar ajuda para estas pessoas. Como é que sou um perturbador?”, disse Jorge Videira.

O também fotógrafo profissional, conhecido localmente como Joca Fotógrafo, adiantou quer saber “onde estão as fotografias publicadas nas redes sociais”.

“Tenho a minha consciência tranquila. Estou completamente me preocupa e pode meter os processos que quiser. Esteja à vontade. Simplesmente tenho pedido ajuda. Só isso”, referiu.

“Não tem cabimento o que o senhor presidente disse. Nem dá para acreditar. O presidente não deve estar bem. Eu só peço ajuda. Lamento esta situação. Como é que ando a devassar a vida das pessoas. De quem?”, afirmou.

Jorge Videira adiantou que “só tem dado boas ideias para ajudar as pessoas”, em causa.

“Não me meto na vida de ninguém, não digo mal de ninguém. Nada disto tem cabimento”, insistiu.