“A nossa filosofia passa por imprimir sempre a máxima energia no próximo jogo, que, neste caso, é com o FC Porto. É um adversário difícil, muito forte e que tem um treinador extremamente competente. Temos 100% de ambição para discutir os três pontos desde o primeiro minuto, o Sp. Braga não tem receio, mas conheço bem o FC Porto porque joguei lá e sei como reagem aos resultados negativos. Estamos à espera de uma reação forte e, ao mesmo tempo, estamos preparados para ela”, assegurava Carlos Carvalhal no lançamento do encontro inaugural da 18.ª jornada e da segunda volta do Campeonato. Os minhotos, que fizeram “uma primeira volta fantástica”, podiam até ascender à segunda posição em caso de vitória mas ainda era sobre o nulo dos dragões com o Belenenses SAD que se falava, sobretudo pela resposta que a equipa conseguisse dar. E era aí também que estava a chave do jogo.

FC Porto empata em Braga nos descontos após vantagem de dois golos e pode ficar ainda mais longe da liderança

“Somos os campeões nacionais, não nos amedrontamos com qualquer tipo de ambiente que vamos encontrar, ambientes difíceis, dentro e fora de campo, porque também se joga fora do campo e o grande problema é esse. Quando os grandes protagonistas não são os jogadores e as equipas que estão a jogar e passam a ser outras pessoas envolventes ao espetáculo, não é nada bom. Mas nós estamos atentos e somos fortes. Já provámos noutros anos, e com grande dificuldade, conseguimos ultrapassar, somos resilientes e perseverantes na nossa forma de estar. Vamos continuar desta forma e vamos dar muita luta até ao final”, atirou Sérgio Conceição, entre respostas à APAF na sequência de uma semana marcada pelas muitas críticas de vários responsáveis do FC Porto incluindo não só o diretor de comunicação do clube, Francisco J. Marques, mas também o administrador da SAD Vítor Baía.

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A isso, claro, o técnico juntou também a ambição desportiva e com uma frase que deu o mote para uma segunda volta que começava com seis pontos de atraso em relação ao líder Sporting: “Se ganharmos todos os jogos, e estão 51 pontos em disputa, vamos ser campeões. Não é matemático porque não dependemos de nós, é uma convicção minha”. “Temos de começar em Braga, num jogo difícil, mas com toda uma segunda volta para melhorar. Temos de melhorar algumas coisas que perdemos na primeira volta. Há uma maratona pela frente e o importante é o final”, atirou, antes de explicar também as mudanças que vai promovendo na equipa numa fase mais densa em termos de calendário: “Tenho de olhar para o estado físico dos jogadores que estão à minha disposição e escolher os 11 que acho melhores para iniciarem o jogo. Às vezes também há a estratégia de deixar um ou outro jogador no banco exatamente para me dar alguma coisa durante o jogo que penso que posso precisar, faz parte”.

É que, tendo ou não razões de queixa da arbitragem, e mesmo descontando o péssimo relvado do Jamor que tende a condicionar a capacidade de jogar de qualquer equipa que esteja predisposta a isso mesmo, o FC Porto não fez um bom jogo com o Belenenses SAD sobretudo no plano ofensivo, com pouca criação e raras oportunidades. Mais do que isso, não teve aquele “ADN FC Porto” que o distingue com Sérgio Conceição no comando técnico. Em Braga, recuperou-o. No entanto, Corona acabou por assumir o papel de bom, mau e vilão ao longo de 90 minutos, mesmo nos últimos 30 em que já não estava: bom porque, mesmo sendo castigado com algumas entradas duras, nunca virou a cara à luta, inventou lances de génio como o do golo de Taremi e foi dos melhores em campo; mau porque, entre a vontade de ir a todas as bolas, o desgaste de um jogo intenso e a frustração por lances anteriores sobre si, entrou de carrinho num lance com Ricardo Esgaio e viu o segundo amarelo; vilão porque, na parte final, a inferioridade numérica fez-se sentir em demasia, tanto que o Sp. Braga conseguiu arrancar um ponto.

[Ouça aqui a análise do antigo árbitro Pedro Henriques no Sem Falta da Rádio Observador]

“1º cartão a Corona é mal mostrado, mas o 2º não”. A análise de Pedro Henriques

As equipas entraram fiéis aos seus princípios e a tentar condicionar os princípios do outro. Expliquemos: quer Sp. Braga, quer FC Porto, sempre que possível e até a bola passar uma primeira fase de construção, tentaram fazer zonas de pressão mais altas logo à saída da área contrária no sentido de condicionar o jogo e a ligação de setores, tendo os azuis e brancos criado a primeira boa oportunidade num lance em que Marega roubou a bola a David Carmo, a jogada chegou depois aos pés de Taremi na área mas Tormena ainda foi a tempo de desviar para canto (6′). Pouco depois, as duas primeiras jogadas ofensivas bem gizadas para outras tantas chances: Abel Ruíz desceu para receber em apoio frontal, abriu na direita em Esgaio e foi depois à cabecear muito perto do poste da baliza de Marchesín (10′); Corona teve mais um rasgo de génio pela direita, o passe para o centro ficou nas costas de Taremi e Luis Díaz apareceu numa diagonal da esquerda para o meio a rematar também com muito perigo (14′).

Depois, as ações junto das áreas baixaram e o volume dos protestos dos dois lados aumentaram, com Artur Soares Dias a puxar três vezes do cartão nos 20 minutos iniciais além de advertir também com amarelo Sérgio Conceição no banco portista. “Vai a dar porrada 15 metros, car****”, atirou o treinador num lance sobre Corona onde o mexicano foi agarrado, depois carregado por David Carmo e por fim pisado (de forma involuntária) por Al Musrati na zona do tornozelo. E mais uma vez, como em tantos outros jogos, a disponibilidade mental neste contexto ia fazer a diferença em campo, com o FC Porto a dar-se melhor e a ter aí alguma superioridade sobre os minhotos.

Com outra capacidade para sair nas transições e explorar os desequilíbrios feitos pelos dois alas, o ataque dos azuis e brancos cresceu ainda que sem oportunidades mas o golo apareceu mesmo, com Sérgio Oliveira a aproveitar uma grande penalidade cometida por Tormena sobre Marega para inaugurar o marcador. E seriam os dragões a ficarem perto de aumentarem até a vantagem em cima do intervalo, com Taremi a desviar a meias com David Carmo de cabeça na sequência de um canto para ficar a centímetros do golo. Se as estatísticas mostravam um encontro por defeito equilibrado, os remates, a posse e os cantos do FC Porto tiveram outra objetividade do que os do Sp. Braga. E era isso também que fazia a diferença ao intervalo, além da frieza do médio na marca dos 11 metros.

O segundo tempo manteve as mesmas características que se faziam sentir ao intervalo e com um momento em que o jogo ficou a ficar desequilibrado: o Sp. Braga teve um canto a favor, Wilson Manafá conseguiu sair bem criando uma situação de 4×4, o passe saiu atrasado, Raul Silva cortou para canto e Mbemba, que se deixou ficar para o segundo poste, a rematar de primeira ao lado da baliza de Matheus (48′). Quando não tinha bola, o FC Porto ia respeitando os minhotos baixando linhas e cortando espaços; em posse, a ligação entre setores estava melhor e os fantasistas conseguiam destacar-se, em especial Corona numa jogada fabulosa pela esquerda deixando o central Tormena para trás, cruzando em balão por cima da defesa e Taremi a “fuzilar” de primeira (54′).

O segundo golo não era ainda decisivo mas colocava o FC Porto numa posição única para gerir o jogo como fosse entendendo e explorar a profundidade com Marega ou Luis Díaz sempre que a defesa contrária subisse um pouco mais, sobretudo depois da aposta de Carlos Carvalhal em Sporar para jogar ao lado de Abel Ruíz. Contudo, essa possibilidade gorou-se poucos minutos depois, com Corona a disputar de carrinho uma bola com Ricardo Esgaio que também fez a mesma ação e a ver o segundo amarelo, sendo expulso a meia hora do final de um jogo onde foi castigado com algumas entradas mais duras mas acabou por sair pelas únicas duas faltas que cometeu, a primeira muito discutida por ser no início do jogo e por ser antecedida de uma entrada de Raul Silva não punida.

Nico Gaitán e Lucas Piazón foram as apostas seguintes para refrescar o ataque, Ricardo Esgaio quase deixou de recuar no flanco direito tamanho era o domínio nessa zona pela vantagem numérica mas o FC Porto conseguiu ir controlando o encontro de forma madura, tendo sempre Marega e Taremi como referências para esticar o jogo de forma mais direta e permitir nessas fases que a equipa pudesse subir. Depois, entrou Zaidu. A seguir, saiu Taremi. E o Sp. Braga, que nunca deixou de acreditar, chegou mesmo ao empate: num lance em que não se percebeu se o lateral recém entrado já estava lesionado na zona da anca (mais tarde acabaria por sair por esse problema), Ricardo Esgaio apareceu nas costas, cruzou atrasado e Fransérgio, com um remate rasteiro forte que Marchesín não viu partiu, reduziu a desvantagem (86′); depois, na sequência de um corte de Pepe para a zona lateral que foi parar aos pés de Lucas Piazón, Nico Gaitán encostou sozinho ao segundo poste para o 2-2 (90+4′). E na bola de reposição Marega podia ter voltado a marcar mas a eletrizante segunda parte terminou mesmo em empate.