O espírito empresarial das famílias e os laços comunitários na cidade de Manassas, nos Estados Unidos, têm servido de proteção do nível de vida da comunidade portuguesa durante a pandemia, disse à Lusa o empresário José Morais.

Segundo o português que vive nos Estados Unidos há mais de 50 anos e já representou os emigrantes portugueses na Assembleia da República de Portugal, “a comunidade está bem” e “saudável” na cidade de Manassas, localizada na área metropolitana de Washington, a cerca de 50 quilómetros da capital do país.

O estado de Virgínia conta com cerca de 14 mil portugueses e a quase totalidade dos portugueses da cidade de Manassas tem casa própria, estimou José Morais, que foi membro do conselho das comunidades durante 16 anos, em entrevista à agência Lusa.

A população, com “bastante poder económico”, sente-se “feliz por viver numa comunidade como esta”, com ruas limpas, união e apoio entre pessoas, solidariedade e ajuda quando alguém fica doente, descreveu o antigo conselheiro das comunidades portuguesas nos Estados Unidos.

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Deve ser um exemplo que se deve dar aos mais novos”, de que estes laços devem perdurar, disse o empresário, apesar de considerar que a comunidade era mais unida no passado.

Éramos muito mais unidos que hoje, havia equipa de futebol, a gente brincava, fazia piqueniques”, recordou, em entrevista à Lusa.

Com muitas empresas de portugueses, principalmente no negócio da construção civil, a cidade de Manassas vive com laços comunitários fortes e famílias que se sustentam e entreajudam, pelo que não tiveram perdas tão grandes durante a pandemia de Covid-19, disse José Morais, dono de um grupo empresarial com cerca de 400 trabalhadores.

A construção civil à volta de Manassas não teve de parar por causa da pandemia, disse o emigrante, originário de Curalha, Chaves.

“Nós patrões (…) não íamos sofrer muito, quem ia sofrer eram os nossos empregados”, considerou o proprietário de um grupo empresarial, que inclui uma quinta, terreno de vinhas para produção de vinho português, adegas, uma sala de prova de vinhos e um museu de carros antigos, entre outros negócios.

A situação é pior para pessoas que não estão com os documentos em ordem nos Estados Unidos, por não poderem receber subsídios de desemprego ou cheques de estímulo à economia, disse José Morais.

O empresário descreveu à Lusa que a pandemia de Covid-19 e as restrições impostas obrigaram a alguns gastos inesperados para adaptação das formas de trabalho: “Gastou-se muito dinheiro, sim, para adaptar as empresas, adaptar os carros — não podem andar os carros com tanta gente”.

Novos serviços de ‘delivery’ ou entrega de produtos encomendados ‘online’ em casa também entraram no leque de serviços oferecidos.

Apesar dos cuidados, vários casos de Covid-19 apareceram nas empresas, porque, segundo José Morais, os trabalhadores fazem ajuntamentos nos dias de descanso, com comidas e bebidas, o que facilita muito a transmissão do vírus.

“Quando isso acontece, são os patrões que têm de pedir os testes de despiste ao coronavírus”, explicou, acrescentando que as suas empresas pagam duas semanas aos trabalhadores doentes que precisam de ficar em casa, o que não é garantido por todos os patrões nos Estados Unidos.

“Temos de ter empregados saudáveis”, sublinhou.

Para José Morais “não há empresário nenhum, por muito esperto que seja ou muito habilidoso, que consiga criar uma empresa sozinho. E se o patrão não apoiar os empregados, ninguém cresce”.

José Morais disse ter funcionários que trabalham consigo há mais de 30 anos e são “os cabeças da empresa”. Trabalhadores antigos e experientes na empresa fazem cerca de 30%, estimou.

O líder comunitário considerou que a união da comunidade portuguesa “tem um segredo”: só há uma associação para portugueses, que, para José Morais, é também o melhor restaurante português da cidade.

O Virginia Portuguese Community Center, construído no centro de Manassas há 30 anos, inclui um restaurante, um bar, salão de danças e já recebeu em 2018 o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “numa festa planeada em três dias”, quando a embaixada em Washington telefonou a confirmar.

“Lá tivemos que andar a pintar salões, a arranjar tudo, a convidar amigos e dali a pouco já quase não cabíamos”, lembrou José Morais.