Deputados da UNITA, da CASA-CE e do PRS, oposição angolana, anunciaram que os incidentes de Cafunfo resultaram em 23 mortos, 21 feridos e 10 pessoas desaparecidas, afirmando que as forças policiais “dispararem indiscriminadamente contra os cidadãos”.

“Dos nossos dados temos contabilizados 23 mortos, 11 feridos evacuados para o Dundo, 10 feridos que estão a ser assistidos em Cafunfo, inclusive uma criança, e 10 pessoas estão desaparecidas até ao momento”, afirmou o presidente e deputado do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel.

Falando em conferência de imprensa conjunta, com os presidentes dos grupos parlamentares da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), Liberty Chiyaka, e da Convergência Ampla de Salvação de Angola–Coligação Eleitoral (CASA-CE), Alexandre André, o deputado do PRS manifestou “profunda mágoa e repúdio” pelas mortes.

Segundo o líder do PRS, formação política com forte implantação no leste de Angola, palco dos incidentes de 30 de janeiro, “não houve qualquer tentativa de se assaltar uma esquadra” em Cafunfo, província angolana da Lunda Norte.

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A polícia angolana afirmou que cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende autonomia desta região rica em recursos minerais, tentaram invadir, em 30 de janeiro, uma esquadra policial e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas.

A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição e sociedade civil local que falam em cerca de 20 mortos. “Essa ação (assalto à esquadra) nunca existiu”, afirmou Benedito Daniel, considerando que se tratou de “um facto teórico que habilidosamente foi criado”.

De acordo com o político do PRS, os cidadãos de Cafunfo “tentavam apenas realizar uma manifestação pacífica, previamente comunicada às autoridades”, mas estas, no local, “não permitiram que a mesma se realizasse”, pois “dias antes já ameaçavam que iriam disparar contra quem saísse à rua”.

Benedito Daniel deu conta que, dias antes da anunciada manifestação, a partir de 20 de janeiro, desembarcou um batalhão das Forças Armadas Angolanas (FAA) em Cafunfo e depois surgiu a polícia de intervenção rápida proveniente das províncias de Malanje, Lunda Sul, Lunda Norte e Moxico.

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“Esse efetivo policial e das FAA começou a fazer buscas para capturar responsáveis da manifestação, muitos deles foram capturados, entre eles um ex-agente da Polícia Nacional, que sofria de perturbações mentais e que acabou por ser morto“, explicou.“E dias antes da anunciada manifestação, circulava em Cafunfo um ‘patrulheiro’ (viatura de patrulha da polícia), a informar que quem participasse da manifestação seria fuzilado”, acrescentou o deputado.

O presidente do PRS disse igualmente que a manifestação “nem sequer foi realizada”, porque no dia marcado os “manifestantes, aglomerados para iniciar a marcha, foram surpreendidos por efetivos da polícia e das FAA que surgiram e começaram a disparar indiscriminadamente”.  Antes, “já havia raptos, morte de dirigentes da manifestação e alguns cadáveres foram atirados no rio Cuango e em ravinas”, continuou, referindo que muitos dos familiares não reivindicam pelos seus entes por “temerem represálias”.

“Nunca houve rebelião armada, as armas são obsoletas, recolhidas em residências de cidadãos. Lamentamos a situação porque o abate de cidadãos é indiscriminado e até agora as mortes continuam”, lamentou.

O presidente do grupo parlamentar da CASA-CE lamentou, por sua vez, as mortes de cidadãos, pedindo responsabilização e considerando ser este “um drama” que mancha o Estado democrático e de direito, e a Constituição que proíbe a pena de morte. “Estamos diante de uma contradição incomensurável”, afirmou Sebastião André, deplorando também a retenção de deputados da UNITA à entrada de Cafunfo, por entender que os parlamentares exercem as suas atividades em todo o país.

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Já o presidente do grupo parlamentar da UNITA recordou que Angola é uma e indivisível, mas frisou que a “maioria dos angolanos vive na indigência”, considerando que “quem se propõe a governar assume o compromisso de servir o cidadão”.

Para Liberty Chiyaka, quando um governo não tem condições de honrar com os seus compromissos deve pautar pela autodemissão, exortando os cidadãos para continuarem a exigir a satisfação das suas necessidades e o cumprimento das promessas eleitorais. “Para os manifestantes, sejam quais forem as circunstâncias, não permitam que sejam manipulados contra os vossos interesses”, exortou.

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