O diretor da Cruz Vermelha etíope afirmou que “80% do estado do Tigray” não se encontra acessível à ajuda humanitária e a fome pode atingir as “dezenas de milhares de pessoas” em dois meses. “O número atual pode ser um, dois ou três, mas um mês depois pode ser milhares. Dois meses depois, serão dezenas de milhares” de vítimas, advertiu Abera Tola, líder da Cruz Vermelha na Etiópia, numa conferência em Adis Abeba.

Já foram relatados casos de fome, disse ainda o diretor da organização humanitária, e o número de vítimas da fome poderá aumentar muito rapidamente no estado federado do Tigray, palco de uma operação militar do governo federal desde 04 de novembro último. A generalidade das organizações humanitárias e a diplomacia internacional deslocada no país tem reiterado, no entanto, que a insegurança na região continua a travar a resposta humanitária.

Abera explicou que o acesso humanitário é ainda em grande parte restrito às principais estradas a norte e sul de Mekele e que a maioria das áreas rurais estão privadas de acesso humanitário. As pessoas que fugiram das suas casas e conseguiram chegar aos campos próximos das cidades do Tigray estão “muito magras”, afirmou.

“Pode ver-se que são realmente só pele e ossos. Não se vê que aqueles corpos tenham recebido quaisquer alimentos”, descreveu o diretor da Cruz Vemelha. “Por vezes é muito difícil ajudá-los sem alimentos de alto valor nutritivo”.

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A Cruz Vermelha etíope estima que, agora, cerca de 3,8 milhões de pessoas do Tigray, cuja população ultrapassa os 6 milhões de habitantes, necessitam de ajuda humanitária, número que compara com uma estimativa anterior de 2,4 milhões avançada pela Agência das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), que apontava em meados de janeiro para a existência de cerca de 950.000 refugiados resultantes do conflito.

O conflito no Tigray começou em 04 de novembro, quando o governo etíope decidiu lançar uma operação militar contra a Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF), partido que governava o estado, alegadamente em retaliação a um ataque contra uma base do Exército federal naquele território.

Em 28 de novembro, após a tomada militar da capital do estado, Mekele, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, anunciou o fim da ofensiva, mas as Nações Unidas e outras organizações internacionais advertiram que as hostilidades continuam no terreno e denunciaram a situação de milhares de civis, que se encontram sem acesso a ajuda humanitária.

“Estamos seriamente preocupados com relatos credíveis de que centenas de milhares de pessoas podem morrer à fome, se a ajuda humanitária urgente não for mobilizada imediatamente”, alertou a organização Human Rights Watch numa declaração em finais de janeiro.

O governo de Adis Abeba tem reiterado que está a trabalhar com as Nações Unidas e com as organizações não-governamentais internacionais para aumentar a ajuda na região, dependendo da situação de segurança.