Milhares de iranianos desfilaram esta quarta-feira em todo o país nas suas viaturas para não deixarem de celebrar o 42.º aniversário da Revolução Islâmica apesar da pandemia da Covid-19.

A televisão estatal pediu várias vezes durante a manhã que não se fizessem manifestações nem marchas para assinalar o derrube do Xá no Irão em 1979.

Então um desfile de automóveis, motorizadas e mesmo bicicletas convergiu para a célebre praça Azadi. Alguns pintaram as viaturas de vermelho, branco e verde, as cores da bandeira iraniana, que era agitada por outros, constataram jornalistas da agência France Presse.

“Apenas a forma da marcha mudou este ano, não a natureza”, afirmou um jornalista da televisão estatal, adiantando que alguns automobilistas gritavam slogans anti-norte-americanos como “Morte à América”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Alguns manifestantes tinham retratos do líder supremo, o ayatollah Ali Khamenei, mas também do general Qassem Suleimani, responsável pela estratégia iraniana no Médio Oriente, assassinado em janeiro de 2020 num bombardeamento norte-americano em Bagdad.

Não faltou quem pisasse e queimasse bandeiras norte-americanas e israelitas, considerados os inimigos do Irão, e na praça Azadi foram expostas réplicas de mísseis balísticos e equipamentos militares.

Desfiles semelhantes ocorreram noutras grandes cidades do país, nomeadamente em Shiraz (sul), Isfahan e Qom (centro) e Machhad (leste), segundo imagens divulgadas na televisão.

O Irão é o país mais afetado pela pandemia do novo coronavírus no Médio Oriente, tendo já causado mais de 58.000 mortos no país.

A República Islâmica, com mais de 80 milhões de habitantes, iniciou na terça-feira a campanha de vacinação contra o SARS-CoV-2.

Num discurso na televisão, o presidente Hassan Rohani saudou os iranianos pela “sua paciência face a três anos de sofrimento” devido às sanções restabelecidas em 2018 pelo antigo presidente norte-americano, Donald Trump, no quadro da sua política de “pressão máxima” sobre Teerão.

O restabelecimento das sanções, que se seguiu à retirada unilateral dos Estados Unidos do acordo sobre o nuclear iraniano de 2015, privaram Teerão das consequências económicas que esperava do pacto, fazendo ao invés o país mergulhar numa recessão profunda.

“A era das sanções máximas acabou, a era da guerra económica acabou“, afirmou Rohani, indicando que “todos perceberam que a pressão máxima falhou”.

O novo presidente norte-americano, Joe Biden, prometeu voltar ao acordo de 2015 na condição do Irão renovar os seus compromissos, que foi deixando gradualmente de cumprir a partir de maio de 2019. O Irão exige, por seu turno, o levantamento das sanções antes de dar qualquer passo.