O comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, exortou esta quinta-feira Portugal a dar “bom uso” às verbas comunitárias pós-crise da Covid-19, esperando que possam ser uma “positiva contribuição” ao crescimento económico do país, nomeadamente no setor do turismo.

Pela parte positiva, Portugal está a trabalhar no seu plano de recuperação e resiliência. Conseguir um bom uso deste plano pode dar uma positiva contribuição para o crescimento em Portugal, face ao que estamos a prever nestas previsões”, declarou Paolo Gentiloni, falando em entrevista à agência Lusa e outros meios de comunicação social europeus em Bruxelas.

Nesta entrevista após a divulgação das previsões macroeconómicas de inverno — na qual a Comissão Europeia previu um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) português de 4,1%, uma revisão em baixa da previsão de 5,4% feita em novembro — o responsável destacou o “potencial muito grande do plano de recuperação”.

Porém, Paolo Gentiloni admitiu “grandes problemas relacionados com a estrutura da economia portuguesa”, dada a elevada dependência do turismo externo.

Um dos fatores é que 8% do PIB de Portugal está ligado ao turismo externo, o que é verdadeiramente excecional”, observou o responsável.

Ainda assim, Paolo Gentiloni questionou: “Será que teremos uma recuperação do turismo externo? Sim, sem dúvida, mas é difícil prever quando é que isso acontecerá, porque para relançar o turismo externo é preciso garantir que o processo de vacinação avança, mas também que as vacinas são capazes de limitar as infeções e, até ao momento, ainda não há evidências científicas sobre essa questão”.

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Segundo o comissário europeu, “este fator desconhecido, relacionado com as viagens internacionais e o turismo externo, é importante para Portugal”. O responsável italiano apontou, ainda, que “na segunda metade deste ano, haverá um relaxamento gradual das medidas restritivas”.

E a referência que considerámos é que, em 2022, só haverá medidas setoriais muito limitadas”, concluiu.

Nas previsões macroeconómicas intercalares de inverno, divulgadas esta quinta-feira, a Comissão Europeia espera que o verão de 2021 seja melhor para o turismo europeu do que 2020, mas não prevê uma recuperação total do setor para níveis pré-pandemia este ano, depois de Portugal ser dos mais impactados.

No documento, o executivo comunitário reforça que a “incerteza de planeamento pode também ter um grande impacto em 2021, especialmente para áreas normalmente alcançadas por transporte aéreo”.

Espera-se que as viagens extracomunitárias demorem mais tempo a recuperar e, como consequência, o turismo citadino terá um impacto adicional”, adianta a instituição.

No que toca às receitas turísticas, “continuarão a ser afetadas” este ano porque são esses mesmos turistas estrangeiros que costumam “gastar mais por dia”, diz ainda.

De acordo com dados apresentados pela instituição nas previsões, Portugal foi o sexto país da UE com maior queda no total de noites passadas nos alojamentos turísticos em 2020 face ao ano anterior, que ascendeu a -61% (total de 30 milhões) em termos totais e a -74% (total de 14 milhões) no caso de não residentes. Pior que Portugal só Grécia, Malta, Irlanda, Espanha e Chipre.

Relativamente ao desempenho turístico regional entre janeiro e dezembro de 2020, a região de Lisboa foi a mais afetada do país pela pandemia, com um recuo acima dos 70%.

Forte impacto de nova vaga em Portugal é desafiante para economia, diz Bruxelas

O comissário europeu da Economia disse ainda que o “forte impacto” da nova vaga da pandemia de Covid-19 em Portugal é “desafiante” para a recuperação económica do país este ano, após um 2020 “menos mau do que esperado”.

“Estamos cientes de que Portugal, na segunda parte desta segunda vaga, foi fortemente afetado pela pandemia e claro que isso é desafiante”, afirmou Paolo Gentiloni. O responsável notou que há, ainda assim, “alguns aspetos que são comuns a quase todos os países europeus neste momento” dado o ressurgimento de infeções e a adoção de novas restrições para conter a pandemia.

A mensagem destas previsões, em suma, é que tivemos um 2020 menos mau do que esperado, mas estamos a entrar 2021 com menor crescimento do que estimado“, referiu Paolo Gentiloni. E exemplificou que “a queda no crescimento para 2020 foi importante em Portugal, mas houve alguns países europeus em pior situação do que os -7,6% registados em Portugal”.

O comissário europeu insistiu que “2020 foi difícil” para Portugal, mas houve “outros países europeus mais afetados negativamente”. Em termos gerais, Paolo Gentiloni notou que a economia da União Europeia teve um “crescimento negativo no último trimestre, com algumas exceções”. “E teremos provavelmente um crescimento negativo no primeiro trimestre deste ano”, concluiu.

A previsão da Comissão Europeia para o PIB do primeiro trimestre em Portugal, uma queda de 2,1%, é a pior de toda a União Europeia, de acordo com as previsões hoje divulgadas, sendo que Grécia, Chipre, Malta e Luxemburgo não têm dados trimestrais disponíveis.  À queda de 2,1% no primeiro trimestre deverão seguir-se subidas do PIB de 1,8%, 4,1% e 0,8% no segundo, terceiro e quarto trimestres, respetivamente.

No conjunto da União Europeia, a queda deverá ser de 0,8% no primeiro trimestre, e na zona euro deverá ser de 0,9%.  O executivo comunitário voltou também a rever em baixa o ritmo da recuperação económica este ano na Europa, que “permanece nas garras da pandemia da Covid-19”, estimando que a zona euro cresça 3,8% e a União Europeia 3,7%.