A oferta de casa em Lisboa para Alojamento Local caiu em 2020, num ano em que este segmento perdeu cerca de 80% das receitas nas duas principais cidades do país. No entanto, há notícias positivas para o interior, com os distritos de Guarda, Portalegre e Bragança a registarem os maiores crescimentos na oferta deste alojamento entre 20% e 30%, revela um balanço divulgado pela ALEP (Associação do Alojamento Local em Portugal). Vila Real, Viseu e Évora também viram a oferta crescer. Já no Porto, o crescimento foi residual.

No caso de Lisboa, entre novas casas registadas retiradas do Alojamento Local verifica-se um saldo negativo de 114 propriedades, o que acontece pela primeira vez desde que estes números são compilados, mas Eduardo Mendonça, presidente da ALEP admite que a redução de oferta seja maior. Com base em pesquisas nos sites, verificou-se uma diminuição de 1825 anúncios de apartamentos para Lisboa no ano passado, face a 2020.

O facto de muitas das casas que saíram estarem ainda registadas como Alojamento Local pode ser explicado pela penalização fiscal que existia para os proprietários que queiram abandonar esta atividade e pelo risco de perder a licença em zonas históricas onde foram impostos limites a este tipo de alojamento Eduardo Mendonça admite que muita da oferta que saiu do Alojamento Local esteja a ser transferida para o arrendamento ou até para habitação própria.

Ainda que esta migração seja saudável, sobretudo numa cidade como Lisboa onde o acesso à habitação baixou durante os anos de crescimento no turismo, Eduardo Miranda defende que é necessário um equilíbrio. “Se houver uma migração massiva” de casas para o segmento residencial isso pode em causa a retoma do turismo e até o emprego criado a nível local. Isto porque, sublinha o presidente da ALEP, o Alojamento Local é a oferta com mais flexibilidade para responder a uma retoma do turismo que será muito gradual.

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Estruturas de maior dimensão como os hotéis só vai reabrir quando a procura permitir economias de escala nos custos e se o Alojamento Local não assegurar oferta para as bolsas de turistas que vão regressar a pouco e pouco, eles vão procurar outros mercados. Alguns autarcas já perceberam isso, mas ainda “sentimos uma tendência para querer asfixiar” o Alojamento Local, há muitas barreiras para apoiar estes proprietários, assinalou.

A ALEP estima que a ocupação no Alojamento Local em Portugal tenha ficado em 23% no ano passado, incluindo já os efeitos de janeiro e fevereiro de 2020 que foram meses muitos positivos para Lisboa e Porto onde se concentra cerca de 29% da oferta total deste tipo de alojamento. A capital foi um dos destinos mais penalizados pela pandemia com taxas de ocupação de abaixo dos 20%. No Porto, a procura foi ligeiramente maior porque o Norte foi uma das regiões que teve uma performance mais positiva. No Algarve, a ALEP aponta para um “balão de oxigénio” no Verão com níveis de ocupação na casa dos 60%.

Apesar da enorme queda de clientes e receita, o ano de 2020 assistiu ao nascimento e consolidação de novos perfis de clientes e ocupações. Menos turistas, e mais pessoas em teletrabalho (muitas vindas do estrangeiro) que procuraram Portugal para estadias mais longas de até alguns meses. E também mais portugueses deslocados a trabalhar ou a estudar que encontram no Alojamento Local uma alternativa que antes não era acessível por causa da elevada rotação dos clientes.