Seria “ideal” que as moratórias bancárias fossem prolongadas “até ao momento em que víssemos a economia a recuperar de forma mais clara”, defende Francisco Horta e Costa, diretor-geral da CBRE, consultora que esta quinta-feira apresentou um estudo a antecipar 2021, no qual afirma que o setor poderá, apesar da pandemia, receber três mil milhões de euros em investimento. O responsável admite ao Observador que, no pós-moratórias, pode haver uma pequena correção nos preços de casas usadas de zonas mais interiores, mas não vê uma descida dos preços perto das grandes cidades.

Numa altura em que se prepara o prolongamento das moratórias bancárias para lá do prazo atual – setembro de 2021 – para alguns setores mais afetados, Francisco Horta e Costa comenta que “as moratórias vieram aliviar e proteger as pessoas neste tempo mais complicado, em que algumas perderam o emprego outras viram os rendimentos reduzidos – ainda não estamos a ver o impacto total da pandemia, neste sentido”.

Ainda assim, não querendo “parecer um otimista irritante”, o responsável da CBRE acredita que “se as pessoas não perderam o emprego ou apenas ficam afastados do emprego momentaneamente, elas terão condições para retomar os pagamentos” – até porque não têm de pagar retroativos sobre o que não foi pago em prestações durante estes meses (apenas se alongaram as maturidades). Esta é uma visão otimista que também foi transmitida, por exemplo, pelo presidente-executivo do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, na semana passada, quando disse que na sua carteira de crédito “98% dos clientes, a esmagadora maioria” não viu a sua situação financeira deteriorar-se de forma a impedir que os pagamentos sejam retomados quando terminarem as moratórias.

O mercado de investimento imobiliário está muito ativo. Os investidores estrangeiros estão participativos mesmo à distância e os investidores nacionais também estão ativos”.

No que diz respeito ao setor imobiliário, onde a CBRE trabalha (embora se dedique mais ao segmento de investidores e não à venda de casas a particulares), “até agora o setor residencial não se tem refletido muito da pandemia”. “Quando as moratórias desaparecerem é natural que haja alguma correção, mas em zonas mais interiores, não propriamente nas grandes cidades. E acho que é natural que se houver mais desemprego e se a economia não recuperar rapidamente podemos assistir a algum acréscimo do incumprimento no caso dos empréstimos bancários”.

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Apesar desse risco, a banca, garante, tem-se mostrado muito disponível para “financiar bons projetos, com um bom racional económico”. Francisco Horta e Costa diz que a incerteza económica está a afetar “muito pouco” o segmento médio, médio-alto nas proximidades das cidades maiores” – há procura e os bancos continuam a financiar. “Há empreendimentos que ainda não iniciaram a construção a serem vendidos em planta em grande parte – com financiamento”, diz o diretor-geral da CBRE, acrescentando que mesmo no “produto de segunda-mão, que poderia ter alguma correção de preço, como não há muita oferta também não há essa correção de forma significativa”.

A CBRE mostra-se, também, muito mais otimista sobre o segmento de escritórios, cuja morte alguns têm decretado devido à pandemia e à tendência para o teletrabalho. Pelo contrário: “Temos identificados 80/90 mil m2 de procura por escritórios – muitas empresas que querem expandir e empresas que querem vir para cá, para Lisboa, para o Porto…”

“Nós não estamos a ver que o teletrabalho venha matar os escritórios, como alguém em tempos disse. Passado este tempo todo o que temos estado a assistir é que as pessoas querem muito voltar ao escritório. É natural que outros possamos trabalhar noutro sítio – não necessariamente em casa – e os escritórios vão ter de se reinventar”, remata Francisco Horta e Costa.

Três mil milhões de euros em investimento previsto, em 2021

No relatório divulgado esta quarta-feira, a CBRE indicou que antecipa um volume de investimento de três mil milhões de euros no setor imobiliário em 2021, alavancado pelo pipeline robusto do lado da oferta, pela evolução positiva na capacidade de investimento dos players nacionais e pela concretização de operações de Fusões & Aquisições previstas para este ano.

“Quando em janeiro do ano passado a CBRE apresentou as tendências do mercado para 2020 tudo indicava que o setor iria manter a trajetória de crescimento dos últimos anos, mas a pandemia veio interromper este ciclo. As nossas expectativas para 2021 pressupõem um controlo do vírus ao longo do ano, com a implementação de um plano de vacinação eficaz, mas estão ainda sujeitas a um elevado grau de incerteza relativamente à velocidade de recuperação da economia e ao poder de compra dos consumidores”, afirmou Cristina Arouca, Diretora de Research da CBRE Portugal.

O estudo elaborado pela CBRE destaca, ainda, seis tendências globais para este ano: contexto de incerteza permanente; setores com recuperação a velocidades distintas; aumento da utilização de tecnologia e digitalização; saúde, bem-estar e sustentabilidade no topo das prioridades; produtos e conceitos cada vez mais híbridos; alteração significativa no lifestyle dos trabalhadores e surgimento de novas formas de trabalhar.