A ministra da Cultura lamentou “profundamente” a morte do músico Joel Pina, que morreu esta quinta-feira, em Cascais, aos 100 anos.

Lembrando-o como uma “figura central do fado e referência maior da música portuguesa” e um “modelo de dedicação e inventividade, com aquela tão rara qualidade de quem sabe criar novo com profundo respeito pelo antigo, tão bem conhecido”, Graça Fonseca descreveu Pina como “uma das figuras de destaque da cultura portuguesa”. A maior prova disso é o seu trabalho, amplamente premiado, “e por representar parte tão significativa da memória do fado”, considerou a governante num comunicado emitido durante a manhã desta sexta-feira.

Recordando que os 100 anos do músico foram assinalados em setembro do ano passado, durante um evento organizado no Teatro S. Luíz, em Lisboa, Graça Fonseca apontou a impressionante destreza com o músico acompanhou naquele dia “instrumentistas e cantores de diferentes gerações, como fez ao longo da vida”. “Nessa noite, destacou-se presença, a força e a importância que o ‘mestre da viola baixo’ imprimiu ao nosso fado. Aos 100 anos, o jovem Joel Pina tocava para novos e velhos, famosos e desconhecidos, com uma rara simpatia e delicadeza e um profundo amor pelo fado que nunca abandonou”, disse a ministra da Cultura.

“O fado perde uma das suas maiores referências, mas também alguém que deixou exemplo e inspiração e que, por isso, terá sempre um lugar no pensamento daqueles que, com ele, tanto aprenderam ou, simplesmente, se encantaram”, declarou. “Joel Pina será recordado como o que sempre trouxe na sua memória, e nos seus dedos, a memória do fado.”

António Costa: “O fado perdeu um dos seus grandes mestres”

Também o primeiro-ministro lamentou esta sexta-feira a morte do músico, chamando a atenção para o seu “entendimento musical” de três décadas com Amália Rodrigues.

“O fado perdeu um dos seus grandes mestres. Joel Pina nasceu no mesmo ano de Amália Rodrigues e entre os dois houve um entendimento musical que durou três décadas”, afirmou António Costa no Twitter. O primeiro-ministro destacou que Joel Pina “acompanhou sucessivas gerações de fadistas com a sua viola baixo, que continuava a tocar, do alto dos seus 100 anos”.

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“A maior forma de expressar a nossa gratidão é continuar a ouvi-lo”, disse.

Marcelo destaca “talento”, “disponibilidade” “afabilidade” do músico

Numa nota publicada esta sexta-feira no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa recordou também o percurso de Pina, com destaque para as três décadas que passou ao lado de Amália Rodrigues.

“Ao talento e ao instinto juntava Joel Pina a produtividade e o ecumenismo (gravou três centenas de discos), bem como a disponibilidade e a afabilidade. De modo que o seu centenário, no ano passado, foi celebrado por diferentes gerações de músicos e intérpretes, os que com ele trabalharam e os que lhe estavam gratos”, disse o Presidente.

“A mesma gratidão manifesta, nesta despedida, e em nome de todos os portugueses, o Presidente da República.”

Amigos do Fado recordam “homem elegante, cordial e sempre bem disposto”

A Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF) lembra Joel Pina como “um homem elegante, cordial e sempre bem disposto”.

“Ao músico, frequentemente apresentado como o professor Joel Pina, se fica a dever a introdução e sistematização da viola baixo no acompanhamento fadista”, realça em comunicado a APAF, referindo que o músico “acompanhou alguns dos nossos maiores nomes, como Amália Rodrigues, mais de 30 anos, Maria Teresa de Noronha, Tony de Matos, António Rocha ou Tristão da Silva”, tendo gravado com “consagrados e nomes mais recentes do panorama fadista, como Ricardo Ribeiro, entre outros”.

A APAF recorda a participação de Joel Pina no Conjunto de Guitarras de Raul Nery, e no “projeto inovador” da Estoril Discos, “Lisboa, Cidade de Fado”, uma iniciativa do editor discográfico Manuel Simões (1917-2008), com os os músicos Arménio de Melo, Paulo Parreira e João Veiga.

Câmara de Idanha-a-Nova aprova por unanimidade voto de pesar

A Câmara de Idanha-a-Nova aprovou por unanimidade um voto de pesar pela morte do músico Joel Pina, que nasceu em Rosmaninhal, naquele concelho do distrito de Castelo Branco.

Em comunicado enviado à agência Lusa, o município de Idanha-a-Nova refere que “a melhor homenagem que podemos fazer ao mestre Joel Pina é continuar a ouvi-lo”.