Catorze bombeiros do Concelho de Espinho foram alvo de uma ação disciplinar por terem participado num “convívio não autorizado” na segunda-feira passada, dia 8. A notícia foi avançada pelo Jornal de Notícias e confirmada ao Observador pelo comandante da corporação, Pedro Louro.

O convívio aconteceu na cozinha do quartel, que tem uma lotação máxima definida para seis pessoas, mas onde se encontravam 14 bombeiros numa “espécie de ceia”, sem máscara. Uma bombeira testou positivo ao novo coronavírus na quinta-feira, obrigando a que os restantes envolvidos ficassem em isolamento profilático. Dois outros bombeiros, que não estiveram no convívio, também estão a cumprir vigilância ativa devido a “outros contactos de risco ocorridos noutras circunstâncias”, segundo Pedro Louro.

Contactado pelo Observador, o comandante dos bombeiros do Concelho de Espinho explicou que apenas tomou conhecimento do “convívio não autorizado” na quinta-feira, quando foi feito o rastreio de contactos do caso positivo. Os envolvidos ficaram imediatamente em isolamento profilático e serão testados entre domingo e segunda-feira.

Logo na quinta-feira, o comandante enviou um comunicado interno a condenar a situação e a informar os participantes que seriam alvo de uma ação disciplinar, que pode variar “entre uma suspensão de dez dias e pena de demissão”, acrescentou ao Observador. “Disse-lhes que era uma situação que nos envergonhava a todos, que não representava o papel ativo e responsável que temos tido no combate à pandemia, que era contra todos os esforços e regras que têm sido implementados para, entre nós, não haver qualquer tipo de contágio”, conta.

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Na segunda-feira, será também feita uma participação à PSP, que depois aconselhará se o convívio se insere “só no âmbito da contraordenação ou se estamos também no âmbito de alguma matéria criminal” e se deverá ou não ser feita uma queixa ao Ministério Público.

Até ao momento, Pedro Louro não tem conhecimento de outros bombeiros com sintomas. E garante que a resposta da corporação está assegurada — o corpo de bombeiros tem um efetivo de 86 profissionais.

“O dia da vergonha alheia”

No comunicado interno de advertência enviado aos bombeiros, a que o Observador teve acesso, o comandante Pedro Louro apelida o dia do convívio como “o dia da vergonha alheia“. “Para que todos os bombeiros, presentes e futuros, se lembrem que quando um bombeiro ou bombeiros, no desempenho das suas funções, vai contra todas as regras que estão estabelecidas, na lei, na sociedade e na instituição, deve-se sentir-se envergonhado, mas envergonha também todos os que usam a mesma farda“, apontou. O comandante refere que a brigada responsável pelo convívio já tinha sido advertida no dia 16 de janeiro.

Pedro Louro lamenta que, como consequência, os bombeiros envolvidos não possam agora ser vacinados, numa altura em que se inicia a vacinação deste grupo de profissionais. “A falta de bombeiros referida é por si suficientemente grave, vergonhosa e passível de responsabilização de todos os envolvidos. Mas mais grave se torna ao acontecer na semana em que se inicia o processo de vacinação, pois implica que os bombeiros colocados em vigilância ativa não possam ser já vacinados, colocando em causa a capacidade para recebermos as 42 doses que nos foram disponibilizadas, numa altura em que tanto se reivindica e deseja a vacinação do setor dos bombeiros”, refere.

Internamente, haverá “mão pesada” para os visados, que serão alvo de um processo disciplinar. “Internamente, irei, sem qualquer hesitação e com mão pesada, desencadear de imediato ação disciplinar sobre todos os presentes no convívio, pois é claro o desrespeito por todo o contexto atual de pandemia“, acrescenta.

O comandante critica ainda que os participantes do convívio tivessem continuado ao serviço mesmo já depois de saberem que a colega estava infetada e não terem denunciado a situação. “Ou seja, mesmo após saberem da situação, esconderam-no e continuaram a agir como se não tivessem tido um contacto de risco“.

Além da ação disciplinar, serão aplicados outros ‘castigos’, como o encerramento do ginásio até 31 de março, o cancelamento dos dias de férias complementares aos bombeiros envolvidos, suspensão da escala de mérito referente ao ano em curso e o cancelamento da atribuição de qualquer condecoração, louvor ou referência elogiosa aos envolvidos.

Ponham-se no lugar da população ao saber que quem deveria dar o exemplo e os acudir, afinal faz convívios no quartel, borrifando-se para todas as regras. Ponham-se no lugar dos cafés e restaurantes que foram multados, nomeadamente em Espinho, por terem três ou quatro pessoas no seu interior, e no quartel dos bombeiros é aos catorze de cada vez. Ponham-se no lugar da população e até dos vossos familiares ao saber que nos bombeiros não são capazes de cumprir regras e de dar o exemplo”, conclui.