Os movimentos independentistas tentam este domingo manter a maioria que têm há quase dez anos na região espanhola da Catalunha, em eleições para o parlamento regional onde é provável que o candidato socialista seja o mais votado. Até às 12horas (em Portugal) a afluência às urnas não chegava aos 23%. Mais de 99% das mesas de voto tinham comunicado oficialmente uma percentagem de 22,77% de afluência às urnas, um valor inferior aos 34,69% que se registavam à mesma hora nas eleições de 2017. São quase menos 12 pontos percentuais.

Tarragona é a região onde a participação eleitoral mais caiu (12,4%) em comparação com dezembro de 2017, seguindo-se Barcelona, segundo o La Vanguardia. Ainda assim, estando as primeiras horas da votação reservadas à população mais idosa ou com outras doenças a comparação com a afluência às urnas não dará uma comparação direta justa. Até às 11 horas a população em geral estava impedida de exercer o direito de voto.

À medida que os principais candidatos e figuras políticas vão votando multiplicam-se os apelos ao voto porque “é seguro” e está “bem organizado”.

A consulta eleitoral tem lugar num contexto de forte aumento dos casos de Covid-19, depois da época do Natal, que ajudam ao aumento da abstenção, o que torna mais imprevisível o resultado final.

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Os partidos separatistas, que estão no poder na Catalunha parecem bem colocados para manter a maioria, mas extremamente divididos e com um eleitorado desiludido com a tentativa falhada de independência da região em 2017, o que leva o candidato socialista a ter esperanças num bom resultado.

A grande aposta do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, nas eleições regionais recaiu no ex-ministro da Saúde, Salvador Illa, à frente nas sondagens mas com possibilidades escassas de desalojar os independentistas do poder.

A maior parte das sondagens publicadas dão a vitória à lista do Partido Socialista da Catalunha (PSC, associado ao PSOE) ligeiramente à frente (21-22%) das duas principais formações independentistas que governam coligadas a comunidade autónoma: a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, 20-21%) e o Juntos pela Catalunha (JxC, 19-20%).

O PSC, com uma atitude conciliadora, vai beneficiar do voto útil dos eleitores constitucionalistas (pela unidade de Espanha), o que já tinha acontecido em 2017 com o Cidadãos (direita-liberal) que ganhou as eleições anteriores, mas não impediu uma maioria separatista no parlamento regional de mais de 68 votos num total de 135.

O Juntos pela Catalunha (direita), o partido do antigo presidente regional que agora está fugido na Bélgica, Carles Puigdemont, continua a defender o confronto com o Estado central e repetiu que pretende proclamar unilateralmente a independência, se ganhar as eleições.

Por seu lado, a Esquerda Republicana da Catalunha (socialista) defende o diálogo com Pedro Sánchez, sendo mesmo um seu aliado fundamental para este se manter no poder em Madrid.

Pode ouvir aqui a análise do especialista em relações internações, Marcos Farias Ferreira, às eleições da Catalunha:

“Relação PSOE/Podemos pode ser alterada” na sequência de eleições catalãs, defende especialista em relações internacionais, Marcos Farias Ferreira

Como vão decorrer eleições?

No que foi uma decisão muito controversa, os eleitores portadores do vírus da Covid-19 ou em quarentena terão o direito de votar das 18h00 às 19h00, antes do fecho das urnas.

Até às 11 horas (em Portugal) votaram as pessoas que integram grupos de risco e até às 18horas votará a população geral, já que para quem está infetado, é um contacto direto ou suspeito e cumpre quarentena terá a última hora da votação reservada para exercer o direito de voto.

De acordo com o responsável pelo processo eleitoral, Ismael Peña-López, os resultados vão ser garantidamente conhecidos este domingo. Citado pelo El País, Peña-López garante que os problemas registados são residuais e que o processo está a decorrer com normalidade.

Os membros das mesas de voto vão ter equipamento de proteção completo para vestir quando os eleitores infetados com a Covid-19 se deslocarem às mesas de voto, ainda que muitos deles tentaram desvincular-se da obrigação de assegurar o funcionamento das mesas eleitorais.

Cerca de 31.000 dos 82.000 convocados para as mesas pediram para ficar isentos de se apresentarem, mas as autoridades não revelaram quantos pedidos aceitaram e asseguram que a realização do sufrágio não está em risco.

No Twitter o Conseller da Ação Externa do Governo da Catalunha, Bernat Solé já confirmou que 100% das mesas estão constituídas, agradecendo “a responsabilidade e compromisso cívico” aos membros das mesas que oram convocados para estas eleições. Ainda assim, afirmou numa conferência de imprensa que foi necessário recorrer a “substitutos” para conseguir completar o número de membros necessários.

Se em 2017 eram apenas 2% os que afirmavam que não iriam votar, agora seriam 12%, de acordo com as sondagens, sendo esta percentagem maior do que a verificada antes das eleições galegas (4%) e bascas (8%) realizadas em julho do ano passado, já durante a pandemia de covid-19.

Um total de 14.200 agentes da polícia regional (Mossos d’Esquadra) e da polícia local da Catalunha estão destacados para assegurar a segurança nas 2.769 mesas de voto no domingo.

A Catalunha está situada no nordeste de Espanha e é uma das 17 comunidades autónomas do país, com um Governo e um parlamento regional, assim como uma polícia própria (Mossos d’Esquadra).

O executivo catalão, assim como o das outras comunidades autónomas, tem poderes importantes em áreas como a Educação e a Saúde, mas as outras principais áreas de governação estão nas mãos do Governo central: impostos, negócios estrangeiros, defesa, infraestruturas (portos, aeroportos e caminhos de ferro), entre outros.

A região tem cerca de 7,8 milhões de habitantes e é considerada a mais rica de Espanha, produzindo um quinto da riqueza do país e com um PIB anual superior ao de Portugal ou da Grécia.

Televisão pública espanhola restabelece emissões vandalizadas antes de início de votação

A televisão pública espanhola RTVE já restabeleceu as suas emissões na comunidade da Catalunha depois de dois centros de telecomunicações terem sido alvo de atos de vandalismo esta madrugada, antes da abertura das assembleias de voto para as eleições regionais.

A RTVE explicou, num comunicado, que foi uma das empresas de telecomunicações afetadas mas que, ao início da tarde, praticamente todos os serviços afetados já estavam a funcionar, tanto nas emissões da TVE como da RNE (Rádio Nacional de Espanha).

A empresa condenou os atos de vandalismo, que, argumenta, “tentaram comprometer as telecomunicações a meio do dia das eleições” na Catalunha. A polícia já está a investigar o sucedido em duas torres de telecomunicação onde foi incendiada a cablagem, cortando as emissões da Televisão Digital Terrestre (TDT) e danificando o serviço de telefonia móvel. Apesar dos danos causados pelo fogo, não houve danos pessoais.