Oito casos de abuso sexual a menores por parte de membros da hierarquia católica espanhola. É a primeira vez que a arquidiocese de Madrid denuncia casos de pedofilia no seu seio e é o balanço do primeiro ano do projeto “Repara”, que tem como objetivo a denúncia de casos de pedofilia não só dentro, como também fora da Igreja.

Mas não é só. A arquidiocese da capital espanhola também reporta dez denúncias de abuso sexual sobre adultos e nove clérigos são acusados de violência física, maus-tratos e abuso de autoridade, segundo dados a que teve acesso o El País.

A arquidiocese de Madrid revelou poucos detalhes sobre os oito casos de abusos sexuais a menores. Apenas precisou que um pertence à diocese de Madrid, tendo-se aberto uma investigação canónica para o efeito, e que sete denúncias são dirigidas a membros de ordens religiosas, que abusaram sexualmente jovens dos 8 aos 15 anos. Segundo um porta-voz da arquidiocese, as vítimas têm agora entre os 50 e os 65 anos e utilizam a plataforma “Repara” essencialmente para procurar ajuda psicológica — ainda que haja casos de quem queira apresentar queixa judicial.

Para além dos casos dentro da Igreja, ao projeto “Repara” chegaram 35 denúncias que aconteceram no âmbito familiar e 13 em outras circunstâncias. Das 48, nove envolviam menores, sendo que o Ministério Público espanhol foi informado destas nove queixas.

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A iniciativa “Repara”, que teve o cunho do cardeal Carlos Osoro Sierra, tem como objetivo prestar um serviço “à comunidade madrilena” e também a todas as vítimas de abusos sexuais, repudiando a “prática execrável geradora de um sofrimento infinito”. É prestado aconselhamento jurídico e acompanhamento psicológico gratuito a todos os que tenham passado por situações de abuso sexual.

Durante o confinamento, segundo Lidia Troya, responsável do projeto “Repara”, tem havido um aumento do número de pessoas que o contactam. “Tem sido o alívio para muitas pessoas. Durante o confinamento reabriram-se muitas feridas e despertaram-se muitos fantasmas”, explica. A pandemia também alterou a modalidade em que o apoio é fornecido — agora, utilizam-se as videochamadas em vez dos encontros presenciais.

Conferência Episcopal Espanhola fala em “zero” ou “muito poucas” denúncias

Segundo um levantamento realizado pelo El País, há 231 casos de abusos a menores na Igreja Católica em Espanha com mais de 500 vítimas, mas não há qualquer dado revelado pela hierarquia católica. A Conferência Episcopal Espanhola rejeita revelar quantos casos conhece, por exemplo, mesmo após a imposição do Vaticano para que se abrisse escritórios de atendimento às vítimas de abusos sexuais em cada diocese, afirmando que têm recebido “zero a muito poucas” denúncias.

Parte da iniciativa de cada uma das dioceses em tornar público os casos e implementar projetos como o “Repara”. Antes desta iniciativa, em Madrid, apenas se tinha tido conhecimento de um caso relacionado com abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica — o do padre Rafael Sanz Nieto, que em 2006 foi condenado a dois anos de prisão por ter abusado de uma criança de 12 anos. Foi um grupo de catequistas quem relatou o sucedido — e também mencionaram, na altura, que houve pressão do ex-arcebispo madrileno Antonio Rouco Valera para que o caso não viesse a público.

Em 2019, os líderes da Igreja Católica juntaram-se numa cimeira para discutir os abusos sexuais de menores, tendo o Papa Francisco lançado o motu próprio Vos estis lux mundi (vocês são a luz do mundo) para combater a pedofilia no seio da Igreja. Um ano depois, o Vaticano chegou mesmo a elaborar um manual que orienta as dioceses sobre o que fazer em caso de denúncia de um episódio de abusos sexuais.

Ir à polícia e investigar todas as denúncias (até duvidosas), menos na confissão. O manual do Vaticano para responder aos abusos sexuais